Xuxa na edição de 7º aniversário de "Playboy": "As fotos que Pelé quase proibiu"
20/10/2012
Bytes de Memória
(Amigos, com a reedição deste post damos continuidade à série que, brincando, chamamos de “Campeões de Audiência” porque se trata de reapresentar aos muitos leitores novos do blog, em dias diferentes, os posts mais acessados desde o início desta coluna, a 13 de setembro de 2010.
Refiro-me aos posts mais acessados, e não aos mais comentados. O post abaixo foi publicado originalmente no dia 27 de novembro de 2010).
De repente, ali estava ele: o sorriso planetariamente conhecido, o topete típico, inimitável, metido dentro de um estranho traje entre o terno e um conjunto esportivo, com calças e uma espécie de paletó ou casaco sem gola e do mesmo material: couro macio azul. No mais, uma camiseta cinza-clara também sem gola, sapatos pretos reluzentes, um relógio vistoso no pulso esquerdo.
O Rei, o Atleta do Século, o mago, o mito. O homem mais famoso do mundo, Pelé, acabara de chegar a uma sala no 6º andar da na época sede da Editora Abril, na Avenida Marginal do Tietê, em São Paulo, naquela tarde de um dia de um determinado mês, provavelmente maio, de 1985.
Celebridades eram rotina naquele edifício, mas Pelé causou grande alvoroço
Naquele edifício era comuníssimo, fazia parte do dia-a-dia o entra-e-sai de celebridades de todos os calibres — governantes, inclusive presidentes, líderes políticos, ídolos do esporte, estrelas da TV e da música popular, modelos de sucesso –, para realizar visitas de cortesia, conceder entrevistas, tirar fotos ou almoçar com jornalistas ou diretores da empresa no restaurante do chamado Roof, um espaço ajardinado situado na cobertura que incluía um heliporto.
Mesmo assim, tratava-se de Pelé, s sua chegada provocou grande alvoroço. Corre-corre na chegada, gritinhos, pedidos de autógrafo, uma atmosfera que incluiu até as secretárias, algumas venerandas, do Sexto Andar — o andar abaixo do da redação de VEJA e onde se instalava a diretoria, e cuja numeração ordinal designava, na gíria interna da Abril, o poder na empresa. “O Sexto Andar vai gostar desta capa”, dizia-se. “O Sexto Andar ainda não decidiu pelo lançamento da revista tal”. E por aí vai.
A missão do Rei: recolher todas as fotos de Xuxa nua
Pelé abrira espaço na sua movimentadíssima agenda para uma missão de caráter pessoal: recolher, ele mesmo, todos os cromos (slides) e negativos de todas as fotos em que Maria da Graça Meneghel, a Xuxa, namorada do Rei desde 1981, aparecia nua nas páginas de Playboy. Xuxa, àquela altura, ultrapassara de longe a categoria de estrelinha em busca de popularidade, que exibia o corpo no Carnaval e surgia seminua ou despida em revistas, e se consolidava havia dois anos na TV como a apresentadora de programas infantis que se tornaria a “Rainha dos Baixinhos”.
Preocupada com sua nova imagem, Xuxa, que posara nua em cinco oportunidades para uma concorrente de Playboy de circulação menor, a extinta Ele & Ela, da Bloch Editores, não queria deixar rastros dessa fase de sua vida. Pelo que entendi da conversa, as fotos da revista dos Bloch já haviam retornado a suas mãos, já que ela era a grande atração da também já extinta Rede Manchete de Televisão, do mesmo grupo. (Xuxa iria se transferir no ano seguinte, 1986, para a Globo, onde trabalha até hoje. No mesmo ano terminaria seu longo caso com Pelé).
A apresentadora ainda tomaria medidas polêmicas nessa refeitura de imagem, que incluíram a apreensão, graças a uma medida judicial, de todas as cópias em vídeo e DVD do filme Amor Estranho Amor (1982), do respeitado cineasta Walter Hugo Khouri, no qual sua personagem não apenas aparecia nua como introduzia um menino de 12 anos no mundo sexo.
Os advogados de Xuxa argumentaram, com sucesso, que o contrato para o filme não previa versão para vídeo ou DVD. Xuxa viu-se muito criticada uma vez que, não mais sendo reprisado no cinema, e raríssimas vezes na TV — hoje em dia, certamente não na Globo –, o filme praticamente desapareceu da cultura brasileira.
Apagar o passado de símbolo sexual
CLICA ABAIXO E VEJA MAIS
A reunião na Editora Abril ia na mesma linha de apagar o passado da estrela como símbolo sexual. E Xuxa jogara pesado: enviara ninguém menos do que Pelé como seu emissário. A reunião fora acertada entre Pelé e o diretor de Redação na época, o quase legendário Mário Escobar de Andrade, que comandou direta ou indiretamente a revista desde pouco tempo após o lançamento, em 1975, até falecer de forma prematura em 1991, quando, sem deixar de supervisionar Playboy, vinha acumulando outras funções.
Eu era redator-chefe da revista por ocasião da reunião com o Rei – só muito tempo mais tarde, em 1994, depois de trabalhar em diferentes veículos, inclusive fora da Abril, seria convidado a tornar-me diretor de Redaçãod de Playboy. Naquele 1985, como redator-chefe, supervisava o trabalho de editores e repórteres, cuidava das reportagens, entrevistas, matérias de serviço e de todo o texto, da primeira à última palavra, mas nada tinha a ver com a contratação das garotas de capa nem com os ensaios de mulheres nuas, atribuição de outros colegas e do diretor de Redação.
Mesmo assim Mário, por alguma razão, me quis presente à reunião, talvez como testemunha. As redações das revistas mensais da Abril não mais cabiam no edifício da Marginal do Tietê, e a maioria delas, inclusive a de Playboy, localizava-se num prédio no bairro paulistano do Brooklyn. De lá viemos para o encontro. À nossa espera estava o dr. Edgard de Silvio Faria, um dos diretores da Abril, cujas funções incluíam a área jurídica.
Depois de atravessar com paciência o torvelinho de assédio a que estava inteiramente acostumado há décadas, o Rei chegou à sala sem assessores ou advogados, acompanhado apenas de seu irmão, Jair Arantes de Nascimento, o Zoca, dois anos mais novo, que funcionava como uma espécie de assessor pessoal. Feitas as apresentações, todos se sentaram e, após alguns minutos de small talk, Mário foi à luta.
Na reunião, o irmão de Pelé pingava adoçante no cafezinho do Rei
Sempre cativante e diplomático, como de seu feitio, Mário de Andrade começou elogiando Pelé pelo que representava para o Brasil e por sua simplicidade a despeito da fama, agradecendo o fato de ter vindo pessoalmente à Abril. Disse que a devolução das fotos era uma deferência especial a ele, Pelé, e também uma consideração para com Xuxa.
Nesse meio tempo, me impressionou o relacionamento de Pelé com o irmão que tentou, sem êxito, ser jogador de futebol profissional pelo mesmo time do Santos. Zoca agia como uma espécie de mordomo de Pelé, que por sua vez se comportava em relação ao irmão como patrão. Se o garçom da Abril servia um café a Pelé, Zoca apressava-se, a um sinal do Atleta do Século, a pingar adoçante na xícara. Confesso que fiquei um tanto chocado com o servilismo de Zoca, e com a naturalidade com que Pelé o encarava.
Com a passagem dos anos, Zoca também mudara muito fisicamente, em relação à figura do jogador efêmero de que eu me lembrava. Na juventude, embora não fosse parecido com Pelé, tinha a mesma cor e o mesmo tipo de cabelo do irmão. O Zoca à nossa frente, porém, com um bigodinho fininho, pele bem mais clara e cabelos esticados, lembrava um portorriquenho de filme americano.
Lá pelas tantas na conversa, Mário de Andrade introduziu espertamente um tema: Playboy completaria 10 anos de existência no mês de agosto daquele ano. Um perfil de Pelé em Nova York – onde ele vivia a maior parte do tempo, como executivo da Warner Communications – seria perfeito para a edição especial planejada. Pelé não poderia, em troca da gentileza da devolução das fotos (algumas, por contrato, ainda poderiam ser publicadas), atender com especial atenção a um jornalista da publicação, “abrindo” sua vida de maneira mais livre do que costumava fazer com jornalistas?
Pelé aceita abrir sua vida para o editor Nirlando Beirão
Pelé topou na hora e Mário, rápido, já indicou quem iria procurá-lo: o editor Nirlando Beirão que, além de ser um dos melhores jornalistas do país já na época, era (e é) um gentleman impecável, diante de cuja inteligência, simpatia e magnetismo pessoal os entrevistados não costumavam resistir.
O dr. Edgard, que pouco interveio durante o encontro porque, experiente, percebeu que as coisas andavam bem, diante do acerto amigável estendeu a Pelé minutas de contrato previamente preparadas para sacramentar a devolução das fotos, pelas quais o Rei se tornou responsável. Mário passou a Pelé um envelope com as fotos de Xuxa.
Não era tanto material como muita gente poderia imaginar. Xuxa, na verdade, protagonizou apenas um único ensaio para Playboy, publicado na edição de 7º aniversário, em agosto de 1982, e ao lado da irmã Maruska. As chamadas de capa falavam em “Segredo de família” e “As fotos que Pelé quase proibiu”. Fotos desse ensaio, algumas inéditas, seriam depois republicadas, em diferentes edições. A última de todas seria um pôster na edição de 10º aniversário, concessão que Mário obteve de Pelé no finzinho da reunião.
O que ocorreria é que Playboy, aproveitando a capa com Xuxa e a irmã, acabou explorando o “veio Xuxa” a partir de então. Vieram, em consequência, capas com a hoje atriz Luciana Vendramini (uma das “xuxetes”, denominação que precedeu a das “paquitas”), em dezembro de 1987, com Andréa Veiga (paquita), em setembro de 1988, com Regina Meneghel (cunhada de Xuxa), em maio de 1989, com Deborah Meneghel (prima), em outubro de 1989, com Ângela Matos (secretária e irmã de sua então empresária Marlene Mattos), em abril de 1991, e com a também xuxete Shirley Miranda, em julho de 1992. Em minha gestão, fizemos uma capa com a ex-paquita Andréa “Sorvetão”, em dezembro de 1995.
(Eu não conseguiria recuperar a trajetória de Xuxa na revista, nem as de estrelas de capa a ela ligadas, se não fosse o auxílio do Romário de Oliveira, o maior fã de Playboy que já conheci, e que trabalhou no atendimento ao leitor da revista — e na descoberta de garotas para posar — de 1990 a 1998. Romário é um arquivo vivo de Playboy, a quem agradeço aqui pela colaboração).
A reunião toda entre Pelé, Mário de Andrade e Edgard de Silvio Faria, presenciada por mim e por Zoca, não durou uma hora. Mário, por via das dúvidas, anotou todos os telefones de Pelé para passar a Nirlando.
Feitas as despedidas, Mário e eu, em meio a novo alarido pelos corredores da Abril, acompanhamos Pelé até o térreo, onde um carro com motorista o esperava.
Pelé em Nova York: um belo apartamento, casa em meio a milionários, um Cadillac com motorista, amigo de Robert Redford e Muhammad Ali
O resultado da negociação, para Playboy, seria um perfil espetacular publicado na edição de 10º aniversário, em agosto de 1985, escrito por Nirlando Beirão sob o título “A Vida do Rei em Nova York”.
Preciso contar a vocês, amigos do blog, um pouco do que contém essa matéria.
Pelé para Nirlando: “Um dia desses, descendo para almoçar, acho que no Charley O’s da rua 48, com o Robert Redford, estávamos eu e ele na rua, e ele, de repente, espantado, me disse: ‘Fuck, man, how popular you are!’ Também pudera: eu já tinha dado uns dez autógrafos e ele, o Robert Redford, nenhum”.
O grande ator era amigo e vizinho de escritório de Pelé — no mesmo prédio, no mesmo andar.
Pelé para Nirlando: “A Jackie Kennedy me cumprimentou, e na mesma hora senti aqueles olhares em volta, como se o pessoal estivesse pensando: ‘Pô, o crioulo está com tudo’, e eu lá, pensando, ‘Ela nem é bonita, nem dá tesão’”.
Pelé para Nirlando: “Estraçalhei o [cineasta Steven] Spielberg numa partida de tênis em East Hampton [paradisíaco reduto de milionários à beira-mar em Long Island, próximo a Nova York] ele não acerta uma bola…”
Pelé para Nirlando: “Uma noite, indo jantar, eu e o [extraordinário campeão mundial dos pesos-pesados Muhammad] Ali (…). “Ele chorou na minha festa de despedida”.
Executivo da multinacional Warner, com dez anos de casa e responsabilidades de globetrotter, como escreveu Nirlando, o Rei naquela época vestia ternos da centenária loja Brooks Brothers, levava um Rolex de ouro no pulso, desfilava num imenso Cadillac preto do ano, com telefone a bordo — décadas antes dos celulares –, presente da empresa.
Vivia na Rua 54, esquina com a Segunda Avenida, num apartamento igualmente presenteado pela Warner, de dois salões e três quartos, para o qual se mudara seis anos antes, depois de separado da primeira mulher, Rose Cholby do Nascimento – processo penoso, caro e lento que levou dois anos para terminar. Há 25 anos, o apartamento valia 700 mil dólares.
E o dono tinha entre seus vizinhos Dustin Hoffman e Al Pacino.
Ajudava financeiramente os tios em Três Corações, lavava a própria roupa, relaxava em bangalô de rico em East Hampton
Famoso, poderoso e rico, no entanto, Pelé lavava e secava sua própria roupa na lavanderia do edifício, como faz todo mundo em Nova York.
Continuava ajudando financeiramente os pais, Dondinho e Celeste, alguns tios e primos na sua cidade natal de Três Corações (MG). Pagava religiosamente pensão para a ex-mulher e bancava as despesas dos filhos Kelly Cristina, Edinho e Jennifer. Só Edinho lhe custava, na época, 8 mil dólares mensais.
Para relaxar, costumava esticar nos fins de semana no bangalô construído em meio a 1.500 metros quadrados de um dos mais valorizados braços de mar de East Hampton, o balneário chique dos novaiorquinos, dotado de piscina, um ancoradouro para a lancha e uma garagem para o barco a vela.
Era, por sinal, o único negro em redondezas que abrigavam emweekends ou temporadas gente como a atriz Lauren Bacall, o diretor de cinema Sidney Lumet e legendário diretor do jornal The Washington Post, Ben Bradlee.
120 mil quilômetros viajados em 6 meses — e 14 passaportes cheios de vistos e carimbos
Para ter e dispor de tudo isso, o homem trabalhava duro, verificou Nirlando. Pelé a essa altura da vida passava sete meses no circuito Nova York-Europa e cinco meses fazendo do Brasil ponte para viagens. (No Brasil, possuía uma grande casa em Santos, sua cidade de adoção, cedida aos pais, uma casa e uma cobertura em São Paulo e a casa recém-inaugurada no Guarujá, litoral paulista, onde vive até hoje).
Nem havia terminado aquele primeiro semestre de 1985 e o Atleta do Século já viajara 120 mil quilômetros de avião, em primeira classe, naturalmente, algo como 134 horas de voo.
Do Brasil para Nova York e vice-versa inúmeras vezes, e de Nova York para Los Angeles, Tóquio (duas vezes), Frankfurt, Munique, Londres, Paris, Sidney (Austrália), Nairobi (Quênia), Kampala (Uganda), as ilhas caribenhas de Saint Thomas e Guadalupe, Assunção (Paraguai) e Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), com compromissos já agendados para países como a Arábia Saudita e, uma vez mais, a Austrália.
Não é de estranhar que, àquela altura, já acumulasse 14 passaportes repletos de vistos e carimbos de entrada e de saída. Achava tempo, no entanto, para praticar judô e karatê.
Quanto ganhava o Rei? Bom de drible, Pelé desconversou, mas deu pistas. “Uma nota”, reconheceu. “Mas não dá para calcular porque o forte é o que vem em royalties, faturamento de publicidade, de merchandising”. Calculava ter 50 pessoas trabalhando com ele na Warner, sem contar seus representantes pessoais em países como o Japão e a Inglaterra.
Precursor em relação ao que enche os bolsos dos atletas de hoje, há 25 anos a gigante de alemã de artigos esportivos já havia lançado toda uma linha de chuteiras com seu nome.
Pelé abre o coração: casou com Rose, a primeira mulher, sem amá-la
A parte mais delicada e reveladora do perfil escrito por Nirlando, porém, seria a em que Pelé abordou aspectos da vida pessoal, sobretudo de seu casamento com Rose. Veja só:
“Eu nunca disse isso para ninguém: eu gostei muito da Rose numa época, quando eu a conheci ela tinha uns 13 para 14 anos, e eu 18 para 19. Eu saía pra caçar com o pai dela, pra pescar, ia na casa dela, eu e outros jogadores do Santos, a gente ia em grupo. Ela e as irmãs, são três irmãs, eram fanáticas pelo Santos, a gente fez amizade, começamos a sair juntos, amigo, amiga, acabei namorando e casando. Depois eu descobri que não amava, eu casei sem amar.”
Nirlando perguntou: “E ela?”
“Não sei, da mesma maneira que eu pensei que amava, e não amava, só gostava, talvez ela tivesse pensado que amava e só gostava. Mas, por educação religiosa, essas coisas, eu não queria separar de jeito nenhum. Um dia, ela quis separar, propôs uma coisa que eu não iria cumprir, porque eu sou honesto. Ela queria, depois que a gente veio para cá [Nova York], em 1975, que eu deixasse de fotografar, de fazer comerciais com mulher, que eu deixasse de filmar, que eu vivesse só para ela e pro Cosmos [time de futebol da Warner que contratou Pelé em 1977, três anos depois de ele encerrar sua carreira no Santos].Ou isso ou a separação. Quer dizer, ela me botou na parede”.
Mais adiante, depois que Pelé revela como o casamento estava complicado, Nirlando pergunta:
– Mas vocês ainda tiveram a filha Jennifer. Foi uma tentativa de salvar o casamento ou aconteceu sem esperar?
“É uma coisa meio difícil pra eu explicar, porque a gente não tinha combinado nada, já estávamos aqui em Nova York e já tínhamos tido problemas. Ela tomava pílula depois do Edinho, engordou, depois recuperou, mas ela não queria tomar. E, um dia, me disse que estava grávida”.
– Cá entre nós, talvez tenha sido uma tentativa de te segurar…
“É, pode ser, mas acontece que…”
– Acontece que nasceu e vocês se separaram.
“É, nasceu, e na mesma semana a gente se separou. Eu voltei da Copa do Mundo [na Argentina, em 1978] e a gente se sseparou. Foi um negócio chato, triste, e a educação religiosa que eu te falei, minha família não aceitava muito. Agora, a gente tem uma amizade relativa. Não é uma coisa muito boa, mas a gente conversa.”
Xuxa era virgem quando se conheceram
Naturalmente a conversa abordou o tema Xuxa. Pelé contou que a conheceu durante uma foto de capa para a falecida revista Mancheteintitulada “Gaiola de Ouro”, abordando a recém-adquirida liberdade do Rei como homem solteiro. Posou com quatro modelos, entre as quais Xuxa e Luíza Brunet. Jogou seu olho comprido em direção a Luíza, convidou-a para ir a um show no Canecão e recebeu um fora: mesmo com 17 anos, a Brunet era casada.
Mais tarde, sairia com Xuxa em um grupo, até que a convidou para uma festa na casa do empresário Alfredo Saad à qual precisou levar também os pais e o irmão da modelinho, então com 17 anos.
Aí revelou a Nirlando um segredo até então bem guardado: Xuxa era virgem nessa época. Pelé não elaborou o assunto, mas deu a entender que só viria a namorá-la de fato tempos depois, quando havia uma amizade entre os dois e Xuxa se acostumara a procurá-lo, pessoalmente ou por telefone, para conversar e pedir conselhos.
O fato é que a certa altura começou um namoro de celebridades que ocupou manchetes durante anos. Quando Nirlando entrevistou Pelé para o perfil, o casal estava junto há quase cinco anos. Mesmo assim, com grande naturalidade, Pelé, enquanto Xuxa estava no Brasil, mantinha seu intenso ritmo de relacionamentos breves com outras, com muitas mulheres.
Como narrou Nirlando, em sua prosa elegante: “Pelé é um desbravador das noites, das louras vaporosas, dos amores secretos, das incansáveis badalações do jet set”…
É a vez de Xuxa falar. Depois da separação, ela considerava Pelé “pequeno”. E detestava o pé do Rei
Aquela reunião de 1985 de certa forma repercutiria 11 anos depois. Estando eu já na direção de Playboy, conseguimos para a edição de 21º aniversário, em agosto de 1996, uma rara, longa e reveladora entrevista de Xuxa – a segunda que ela concedia à revista. Conferimos a missão ao editor contribuinte Guilherme Cunha Pinto, amigo querido que infelizmente teria, como Mário de Andrade, morte súbita e prematura, antes de a entrevista ir às bancas.
Nessa época já uma celebridade estelar, Xuxa, como não poderia deixar de ser, foi perguntada sobre Pelé. E mostrou-se claramente revoltada com o fato de o Rei haver revelado sua condição de virgem quando se conheceram. Só que ela atribuiu a revelação a uma longa e excelente entrevista que Pelé concedera a Juca Kfouri, o diretor de Playboy que me antecedeu, para a edição de agosto de 1993, e não, como de fato ocorreu, ao perfil de autoria de Nirlando Beirão que acabamos de mencionar.
De todo modo, na entrevista de Xuxa a Guilherme Cunha Pinto em 1996 o tema veio à tona, junto com uma avaliação bastante rigorosa da estrela a respeito de seu namorado durante mais de cinco anos.
Confira o trecho abaixo da conversa entre Xuxa e Guilherme Cunha Pinto:
PLAYBOY – Sabe uma impressão que fica? Que uma pessoa comum nunca vai ter chance com você. Pensando nos seus namorados, ou são celebridades, como Pelé e Ayton Senna, ou modelos de beleza, como esse rapaz [referia-se ao então modelo Luciano Szafir, que tempos mais tarde seria pai de sua filha, Sasha]. É isso?
XUXA – Não, não é. As coisas simplesmente aconteceram. O encontro com o Pelé foi por acaso, a gente se conheceu numa fotografia que fui fazer. E no caso do Ayrton foi ele que buscou, de todas as maneiras, chegar perto de mim. Eu me apeixonei por duas figuras conhecidas, mas pode pintar qualquer pessoa.
PLAYBOY – A aparência não é importante? Se não for um sujeito bonitão…
XUXA – E tu acha o Pelé bonitão?
PLAYBOY – [Confuso.] O Pelé?
XUXA – Na época eu achava ele o máximo! Lindo. Mas já achava e continuo achando o pé dele horrível. O resto eu achava maravilhoso. Entendeu?
PLAYBOY – Você não gosta dos pés do Pelé?
XUXA – São horríveis.
PLAYBOY – Aqueles pés que fizeram…
XUXA – Horríveis. Parecem garras.
PLAYBOY – Aqueles pés ganharam três Copas do Mundo!
XUXA – Uma mulher que gosta de pé não pode olhar para o pé dele.
PLAYBOY – Você deve ser a única pessoa do mundo que não admira os pés do Pelé.
XUXA – Eu dizia para ele: “Se um dia tu arrumar uma namorada que tenha tara por pé, tu tem de ficar de meia”. Você não viu o pé dele[risos.]
PLAYBOY – Você e o Pelé namoraram durante seis anos, no começo da sua carreira. Agora faz tempo que não se falam?
XUXA – [Séria.] Eu não falo mais com ele. Faz tempo, já.
PLAYBOY – Foi por causa da entrevista que ele deu para PLAYBOY três anos atrás? [Nessa entrevista, em meio a diversos outros comentário e afirmações sobre Xuxa, Pelé disse que ela teria revelado ser virgem quando os dois se conheceram, no início da década de 80. E que a teria aconselhado a “resolver esse problema” antes de se envolvder com ele.]
XUXA – Não. Foi por uma série de coisas que aconteceram.
PLAYBOY – Mas e o que ele falou na entrevista?
XUXA – O Pelé faz parte da minha história e eu faço parte da história dele, mas acho que isso era uma coisa que não deveria ser dita, porque se alguém teria de falar seria eu. Ficou uma coisa grotesca. E, já que ele resolveu falar, que falasse a verdade. Quando a gente se conheceu, ele não sabia que eu era – eu não me apresentava às pessoas e dizia: ”Olá, meu nome é Xuxa, eu sou virgem”. Eu era virgem, mas ele só foi descobrir depois, quando a gente já estava junto.
PLAYBOY – Você teria dito, depois dessa entrevista do Pelé, que se por acaso se apaixonasse de novo por um rei, não seria um rei tão pequeno como ele. A raiva continua tão grande?
XUXA – Vamos dizer assim: tive momentos bons e ruins com ele. Às vezes, a gente aprende muito mais errando. E eu aprendi muito com ele. Hoje, não poderia ficar com uma pessoa tão pequena.
PLAYBOY – Pequena em que sentido, precisamente?
XUXA – É aqui [apontando a cabeça.] Saem coisas que, às vezes, não dá para entender. Dá o microfone para ele falar, que você vai sentir, vai ouvir. Ele é pequeno. Mas faz parte, fez parte da minha vida. Não posso negar isso, nunca.
PLAYBOY – Numa certa medida ele apresentou o mundo para você, não foi?
XUXA – Ele me apresentou muita coisa. Muita coisa boa, também. Um ponto que o Pelé tinha de legal é que queria me ver crescendo profissionalmente. Mas talvez não soubesse que eu teria tantas oportunidades. Uma vez ele disse para mim: “Nunca queira ser a melhor. Porque é muito difícil ser o primeiro”. Quando eu quis sair da [extinta Rede] Manchete [de Televisão] para ir para a Globo, ele disse: “Não faça isso. Não queira. Você vai ter de provar que é a melhor todo dia”. Pois hoje posso dizer que é muito bom ser a melhor. Não gostaria de ser a segunda.
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário