Nome: Thomas Scott
Idade: 28
Localidade: Rio de Janeiro
O que você transforma: Pranchas de surf
O que mais gosta em sua vida: Minha família e contato com o ambiente natural
Sonho: Viver uma vida simples fazendo o que gosto
Contato: tscottsurfboards@gmail.com
No Rio de Janeiro, um rapaz que atende por nome gringo, mas é carioca o suficiente para ser um dos shapers mais inovadores de sua geração, quer mudar a realidade de poluição dos mares e areias: Thomas Scott. Morador de Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Thomas sempre gostou de surfar, o que fazia com os amigos da escola. Chegou inclusive a comprar um FIAT 147 de 1976 com outros quatro colegas da Escola Parque, aos 17 anos de idade (um deles já tinha completado 18 e possuía licença para dirigir), apenas para ir até a Prainha - na Zona Oeste do Rio de Janeiro, considerada como point de algumas das melhores ondas da cidade. Ao todo, o carro, com o rack no capô para carregar as pranchas, custou R$ 90 para cada um. Durou um mês. Mas valeu a pena.
Aos 19, ainda antes de ingressar em qualquer faculdade, Thomas se interessou pelo trabalho de Shaper. Ao encomendar novas pranchas com Claudio Pastor, viu nele uma grande influência. Aprendeu tanto que começou a fazer as suas próprias, nesta época ainda as tradicionais de poliuretano. Dois anos depois, decidiu entrar na faculdade de design para aprimorar sua estrutura profissional. Mas o que mudou mesmo foi sua adoração por design sustentável, com quem teve contato nas salas de aula.
“Comecei a pesquisar por fora e conheci o Agave. Entre 2010 e 2011 fiz as minhas primeiras pranchas com base nele”, explica.
O Agave, a quem Thomas se refere com todo o carinho e zelo, é um gênero de planta que rende uma bela prancha depois do fim de seu ciclo de vida, como pelas mãos do shaper californiano Gary Linden, há mais de uma década na prática. O que fez a cabeça do carioca, no entanto, foi a possibilidade de desenvolver uma prancha sem o grande impacto ambiental das tradicionais, que usam materiais e produtos tóxicos, mantendo ao mesmo tempo um ótimo desempenho sobre as ondas. Apenas como base de comparação, a prancha de Thomas pesa somente entre 5% e 20% a mais do que as de poliuretano.
“A ideia que norteia este projeto é fazer com que a relação entre o surfista e o ambiente natural, do qual ele desfruta, não seja tão paradoxal. Isto porque, entre outras coisas, para fabricar espuma de poliuretano é necessário usar TDI, notório por causar diversos danos à saúde. Em 2005, a maior fabricante de blocos para prancha de surf do mundo, a Clark Foam, fechou sob pressão do EPA”, comenta Scott, que completa a explicação com o argumento de que, com sensibilidade e conhecimento, é possível ter uma relação mais coesa com o ambiente natural. “Considero a prática de pegar onda uma das atividades que melhor representa a interação harmoniosa e intensa entre o homem e o mar. Fazer com que as ferramentas desta interação (pranchas) sejam mais limpas é um passo elementar de evolução”, garante.
Fruto de suas intensas pesquisas, Thomas descobriu uma espécie de Agave em fazendas no Vale do Paraíba, interior do Rio de Janeiro, para onde vai com regularidade coletar sua matéria-prima.
A origem vegetal de suas pranchas, no entanto, não se resume ao Agave. Ávido por novas experimentações, e com a sorte do destino de ter família no estado do Pará, nosso Guardião da Praia foi parar no mercado de rua de Belém. Entre peças artesanais ricas em beleza e cultura, um tipo de material lhe chamou a atenção: o pecíolo (braço) do muriti, palmeira abundante na Amazônia, usado pelos locais para artesanato e brinquedos folclóricos Amazônicos.
Além de gerar renda para a população tradicional - que não corta a árvore, apenas faz a poda regular - o muriti seguiu do norte em frete rodoviário para o ateliê de Thomas no sudeste, e logo virou mais um modelo de prancha para a sua coleção. E também para a dos outros. O videomaker Kayhan Lannes Ozmen caminhava pela praia de Ipanema quando esbarrou com o amigo John Magrath e uma prancha linda. Ele queria voltar a surfar, e achou que aquela poderia servir para ele.
Os restos da produção de Agave e Muriti, biodegradáveis, tampouco fazem mal à natureza. O shaper apenas não conseguiu se livrar ainda da resina. Mas está em sua lista de tarefas. Para quem já descobriu tantas técnicas alternativas, não é bom duvidar de uma nova e inovadora tentativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário