O vice-presidente
se prepara para a cada vez mais presente eventualidade de a titular ser
afastada do poder. Ele conversa com políticos, juristas e empresários. Tem um
plano para si e para o Brasil pós-Dilma. Não vê conspiração, mas cautela
Por: Robson Bonin e Daniel Pereira13/11/2015
NO PALÁCIO - Temer: parecer jurídico
para separar as contas do PT das do PMDB, propostas para tirar a economia da
UTI e conversas reservadas com o PIB(Ueslei Marcelino/Reuters)
"Vá buscar o funcionário a quem
compete me substituir." Essa foi a ordem de Deodoro da Fonseca, o primeiro
presidente da República, em 1891, mandando avisar a seu vice e desafeto,
Floriano Peixoto, que o cargo estava vago. Desde o nascimento da República, em
momentos de impasse, vices se ergueram do segundo plano para assumir o poder.
Em 1909, Nilo Peçanha assumiu depois da morte do presidente Affonso Penna.
Delfim Moreira, oitavo vice-presidente, tornou-se o terceiro a assumir a
Presidência, pelo falecimento de Rodrigues Alves, vítima da gripe espanhola.
Café Filho, pela morte de Getúlio Vargas, a caminho do impeachment. Jango, pela
renúncia de Jânio Quadros. A Junta Militar, pela doença do general Costa e
Silva. José Sarney, pela morte de Tancredo Neves, e Itamar Franco, pelo
impeachment de Fernando Collor.
Agora, Michel Temer, pelo sim, pelo
não, decidiu se preparar para a possibilidade, cada dia mais real, de Dilma
Rousseff ser afastada do poder. Em trinta anos de carreira política, Temer se
portou sempre com discrição, evitou polêmicas e mediu cuidadosamente cada
palavra dita, a fim de se equilibrar entre interesses diversos e muitas vezes
contraditórios. Aos olhos do público, tornou-se o retrato do político sem sal.
Nos bastidores, no entanto, consolidou-se como um especialista na arte de
trabalhar em silêncio, costurar acordos de coxia e escalar degraus na
hierarquia do poder. Mesmo sem despertar paixões, Temer conquistou três vezes a
presidência da Câmara dos Deputados e elegeu-se duas vezes vice-presidente da
República. Mesmo sem brilhar nas urnas, prepara-se agora para o maior desafio
de sua trajetória. Temer e caciques do PMDB, partido que ele preside, estão
certos de que Dilma Rousseff será cassada no começo do próximo ano. Em vez de
ajudá-la, querem substituí-la. E o plano, ousado, vai muito além da simples
intenção. Eles já têm em mãos uma tese jurídica para garantir a posse do vice,
uma proposta destinada a tirar a economia da UTI e até alianças fechadas no
Congresso.
A presidente Dilma Rousseff, como se
sabe, enfrenta um momento inédito de fragilidade. Não tem apoio popular nem
parlamentar, lida com um cenário de recessão e inflação e está ameaçada pela
possibilidade de abertura do processo de impeachment. Além disso, corre o risco
de ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, caso seja acolhida a denúncia
de que abusou de poder político e econômico, incluindo dinheiro sujo do
petrolão, para se reeleger. É justamente na frente aberta no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) que Temer e o PMDB apostam para assumir o governo. As ações na
corte têm a chapa Dilma e Temer como alvo. A estratégia do peemedebista é
separar a análise das contas de campanha da presidente da análise das contas de
campanha do vice. A meta é imputar os crimes cometidos apenas à mandatária,
excluindo o vice de eventual punição, o que lhe daria o direito de ascender ao
cargo de presidente. Especialista em direito constitucional, Temer elaborou de
próprio punho um parecer preliminar que, em sua avaliação, permite ao TSE
desvincular as duas contas. O texto já foi apresentado a ministros de tribunais
superiores, juristas renomados e especialistas em direito eleitoral. A
receptividade animou Temer.
Com reportagem de Hugo Marques
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