No Brasil, uma das profissões mais perseguidas pelo estado
são os vendedores de rua.
Mesmo atuando numa função realizada pela
humanidade há séculos – o comércio – e sendo geralmente pobres, o estado
utiliza constantemente seu aparato de repressão para tirá-los das ruas, tomar
seus bens e até mesmo prendê-los pelo “crime” de comprar mais
barato em um determinado ponto para vender mais caro em outro local, obtendo lucro e sustento para si e suas famílias,
sem pagar ao estado ou ter que obter uma permissão para vender na rua que
também financiam.
E, dessa vez, uma história como essa teve um fim trágico.
Por 20 anos,
Elton Deon Pacheco, o “Pacheco”, então com 52 anos, foi um microempresário dono
de um pequeno mercado na cidade, o Varejão, de Divinópolis – MG.
Entretanto, com a sufocante
carga tributária e legislação trabalhista brasileiras, foi obrigado a fechar as
portas do estabelecimento e se tornar um vendedor de frutas e verduras, um
feirante, nas ruas da cidade.
Tendo
problemas de saúde e atuando sempre no mesmo local por três anos (Rua Sete
de Setembro com Rio de Janeiro) para obter o seu sustento e de sua família,
Pacheco foi inicialmente preso no dia 27 de janeiro de 2016 após ação da
Polícia Militar realizada a pedido da Prefeitura de Divinópolis.
De acordo com
o Boletim de Ocorrência divulgado pela Polícia Militar no dia seguinte à
prisão e recolhimento das frutas e verduras, o ato aconteceu porque
Pacheco é um “vendedor ambulante de frutas e
verduras e o código prevê a proibição de vendas de alimentos e outros naquele
local”.
Em resposta à abordagem policial, Pacheco teria respondido,
ainda de acordo com o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, que “os fiscais e a polícia gostam
é de vagabundos e que perseguem os trabalhadores e que ninguém iria recolher as
frutas pois ele iria jogar tudo na rua”.
Pacheco foi fichado e
posteriormente solto pela PM, mas sua barraca e seus produtos
permaneceram apreendidos, já que o vendedor não tinha dinheiro para pagar
a multa.
Uma moradora da região falou sobre o caso e como Pacheco sempre
atendeu bem os moradores, sendo um trabalhador de bem que queria apenas obter o
seu sustento, mostrando também a campanha que estavam organizando em favor do
vendedor e da devolução de sua barraca, que foi destruída pela PM.
A ação foi tão absurda que nem os vereadores da base de apoio do
prefeito apoiaram a ação.
Mais preocupado com as eleições do que com o
feirante, um dos vereadores afirmou: “(o prefeito) Vladimir tem cada uma,
vê se isso é época de fiscalizar alguma coisa.
Já não estamos bem com o povo e
próximo das eleições ele me faz isso”.
A frase foi premonitória, dado que o
candidato apoiado pelo prefeito nas eleições de outubro teve 18% dos votos
contra 68% do prefeito eleito, Marquinhos Clementino (PROS).
Sem poder pagar a multa de R$ 649,99 mais a taxa de
administração para retirar seus bens roubados pela prefeitura, fora as outras
multas emitidas contra ele, e sem poder sustentar sua família sem ser
perseguido pelo estado, Pacheco entrou em depressão e tomou uma decisão trágica
no dia 14 de setembro: tirar a própria vida na garagem de sua casa.
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