Alguns por um
zelo sincero, já, outros por falta de conhecimento teológico, acabam por pregar
mais costumes humanos, do que doutrinas bíblicas.
O
tema “Usos e costumes”[1] sempre foi motivo de discussão em muitas comunidades
evangélicas, especialmente nas pentecostais[2], entretanto, devemos sempre
lembrar que costume não gera doutrina, mas, doutrina gera bons costumes.
No
entanto, alguns por um zelo sincero, já, outros por falta de conhecimento
teológico, acabam por pregar mais costumes humanos, do que doutrinas bíblicas,
o que gera em muitos cristãos, um interesse maior pelos usos e costumes, do que
propriamente pelos ensinamentos bíblicos.
Sendo assim, durante muito tempo, alguns líderes acabaram por
perpetuar a propagação de suas ideias dogmáticas, através de proibições sem
respaldo bíblico, proibindo seus membros de jogar bola, assistir televisão,
ouvir rádio, e mais algumas regras de uso comum para todos, e outras que eram
direcionadas as mulheres que não podiam cortar o cabelo, usar maquiagem, usar
calça comprida e etc.
No entanto, com o passar do tempo, a maioria destas regras foram
sendo abolidas, pois são doutrinas humanas, e que não contam com o devido
respaldo bíblico. No entanto, sabemos que a maior parte destes líderes eram
muito piedosos em sua espiritualidade, pois criam piamente que estavam agindo
de modo correto, entretanto, faltou tanto para estes líderes, como também para
estas comunidades, uma teologia mais profunda e um ensino doutrinário com mais
qualidade.
Teologia e Doutrina
A palavra doutrina deriva-se do latim doctrina, cuja forma verbal
é docere que
significa ensino; etimologicamente significa algo que é ensinado de forma
sistemática. No contexto bíblico a doutrina significa qualquer ensino extraído
da Bíblia a carta magna dos cristãos, contudo infelizmente são poucos os
crentes que conhecem verdadeiramente as doutrinas bíblicas, poucos a estudam e
poucos a amam de forma verdadeira.
Existem
pelo menos três formas de doutrinas:
Teologia
(Doutrina) e os Usos e Costumes
Antropologia significa o estudo do homem, sendo que em suas divisões
podemos encontrar a antropologia cultural que é a ciência que se ocupa com o
que o homem tem descoberto ao longo dos tempos; esta divide-se em Linguística,
Tecnologia, pré-histórica e social. Dentro do grupo denominado social
estudam-se os costumes e tradições de uma comunidade, família ou organizações;
podendo-se definir a palavra Costume no latim “suescere” que
significa “acostumar-se com” sendo, alguma coisa com que alguém fica acostumado.
Portanto, os usos e costumes são uma forma de expressão que demonstra o porte,
a conduta, a postura e o comportamento pessoal, grupal ou comunitário. Sendo
uma questão meramente humana, embora podendo em alguns casos estiver em
harmonia com a vontade de Deus, desde que seja sempre como um derivado das
doutrinas, pois os costumes não podem servir de regra de fé e conduta, mas no
caso de um grupo adotar um grupo de doutrinas como no caso Bíblico, isto irá
gerar bons costumes como o caráter, santificação, ética, moral e os valores
cristãos.
Segundo o Pastor Antônio Gilberto da
Silva consultor doutrinaria da CPAD, existem pelo menos três grandes diferenças
entre doutrina bíblica e costumes[3].
A
– Quanto à origem:
·
A doutrina é divina
·
O costume em si é humano
B –
Quanto ao alcance:
·
A doutrina é geral
·
O Costume em si é local
C –
Quanto ao tempo:
·
A doutrina é imutável
·
O Costume em si é temporário
Usos e Costumes no Pentecostalismo Brasileiro[4]
Desde o princípio do movimento pentecostal brasileiro, muitos líderes
legitimaram sua fala por meio da oralidade e através dos Dogmas, sendo que em
muitas comunidades pentecostais pelo país se seguiam as regras estabelecidas em
convenções e que geralmente era fixado no quadro de avisos da Igreja e ensinado
por meio de estudos nos chamados “Cultos de Doutrina”, onde se ensinava além do
texto bíblico, os usos e costumes, o que gerou alguns radicalismos.[5] Esse radicalismo foi fruto da ausência de
uma hermenêutica clara e de uma Teologia mais consistente, o que justificou uma
compreensão equivocada na qual, muitos pastores e líderes acabaram por
confundir Costumes com Doutrinas, o que de acordo com Araújo, definia a imagem
do povo pentecostal nas primeiras décadas em solo brasileiro:
“Os
usos e costumes estiveram profundamente arraigados à própria imagem que os
pentecostais faziam de si mesmo e às representações estereotipadas,
uniformizadoras, que a maioria dos brasileiros, ainda hoje mantem a respeito
deles. [6]“
Entretanto, os usos e costumes adotados
por uma denominação não podem de maneira alguma ditar as regras de norma e fé
de uma Igreja, entretanto, existem igrejas que contam com um grande elenco de costumes,
mas quase nada de doutrina (Teologia) e o costume é imposto por convenções
humanas de maneira espontânea ou obrigatória, sendo assim, o costume é humano,
o que pode gerar a eisegese[7].
Infelizmente, em muitos lugares os
“usos e costumes” se baseiam em “visões” e “revelações”, entretanto muitos se
esqueceram que o verdadeiro propósito dos dons espirituais é de edificar,
consolar e encorajar; mas nunca estabelecer “doutrinas”, “regras” e
“preceitos”.
Não devemos confundir doutrina com Usos e
costumes
Sendo assim, em algumas Igrejas as Doutrinas de Deus
tem sido confundida com as doutrinas dos homens o que se constitui em legalismo
gerando costumes exacerbados, como proibições antibíblicas, como relata o
pastor Ciro Sanchez Zibordi em um de seus livros uma experiência que ocorreu em
uma igreja de uma certa denominação evangélica na cidade de São Paulo:
“O Obreiro fez uma pergunta a uma senhora assentada num dos
últimos bancos do recinto, a qual usava um par de brincos. A senhora aí, já é
crente? Ela balançou a cabeça positivamente e respondeu: Graças a Deus.
Inconformado, o pastor voltou-se aos componentes do coral à sua direita e
perguntou-lhes: irmãos, crente usa brinco? Nãããõ! Responderam. Em seguida,
dirigiu-se à mocidade: Jovens, crente usa brinco? Nããão! Olhando novamente para
aquela irmã, bastante envergonhada e constrangida, o pastor disse aos diáconos:
Tragam essa senhora aqui, pois ela precisa entregar a sua vida a Jesus! Os
diáconos, também constrangidos, cumpriram a ordem do obreiro local: pegaram a
senhora pelo braço e a conduziram a frente do púlpito…” [8]
Não precisamos do legalismo, pois em Cristo
somos suficientes
Por fim, esse triste episódio relata o quanto algumas denominações
compreendem de forma errônea o processo de santificação que ocorre de dentro
para fora e não de fora para dentro (I Ts 5:23). Em Jesus, somos livres de todo o julgo e
assim devemos procurar ultrapassar a barreira das diferenças e proclamar a
Cristo através de nossas ações de Serviço que irão apresentar o Senhor como
solução para a sociedade dos dias atuais, pois viver no Espírito no meio de uma
sociedade injusta é ter uma vida de vitória. Portanto, nosso Senhor Jesus
deseja que todos conheçam a verdade para que possam ser verdadeiramente
livres: “Se, pois, o filho vos
libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo
8:36) sem preconceitos ou dogmas meramente humanos,
mas por meio do conhecimento da palavra que é libertador e gera mudança de
mentalidade, pois em Cristo temos a perfeita suficiência. No entanto,
devemos diariamente buscar a prática do fruto do Espírito que são expressões do
caráter de Cristo em nossas vidas. De acordo com o pastor John Macarthur:
“Há
suficiência em Cristo? Absoluta suficiência. O desafio para nós é conhecermos
melhor a Cristo, servi-Lo fervorosamente e sermos mais conformados à sua
imagem”.[9]
A ação do Espírito em favor de cada cristão vai transformando este de
glória em glória de valor em valor, fazendo com que cada cristão se torne mais
parecido com Jesus. Refletindo sobre o tema “usos e costumes”, concluo este
texto com as sábias palavras do pastor Altair Germano: “Prefiro a promoção de uma tomada de consciência quanto ao bom
senso e ao pudor, fundamentados nos princípios espirituais, éticos e morais da
Santa Palavra de Deus. [10]”
[1] Para compreender melhor o tema, você pode ler este livro: O
que a Bíblia permite e a Igreja proíbe, escrito pelo pastor e professor Ricardo
Gondim e editado pela editora Mundo Cristão.
[2] Para compreender melhor os “Usos e Costumes” no pentecostalismo brasileiro, você pode consultar o blog do historiador Mario-Sérgio-Santana: http://mariosergiohistoria.blogspot.com.br/2015/08/usos-e-costumes-nas-ads.html.
[3] GILBERTO, Antônio. Manual do CAPED. CPAD: Rio de Janeiro, 2000.
[4] Compreende-se por costumes, um conjunto de hábitos, normas e dogmas.
[5] De acordo com ARAÚJO (2014), havia forte conotação para os usos e costumes e restrições ao vestuário, ao uso de bijuterias, aos produtos de beleza, ao corte de cabelo, como destacados pelas famosas resoluções expostas em convenções, como a resolução das Assembleias de Deus em São Cristóvão, Rio de Janeiro, em de junho de 1946.
[6] ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. CPAD: Rio de Janeiro, 2015.
[7] Eisegese: Interpretação de fora do texto para dentro, diferente da Exegese, que é a interpretação do texto a partir das regras de interpretação e do texto hebraico e grego.
[8] ZIBORDI, Ciro. Evangelhos que Paulo jamais pregaria. CPAD:Rio de Janeiro, 2006.
[9] MACARTHUR, John. A Nossa suficiência em Cristo. Editora Cultura Cristã: São Paulo, 2011.
[10] GERMANO, Altair. Usos e Costumes Assembleianos: Curiosidades. Disponível em: http://www.altairgermano.net/2009/04/usos-e-costumes-assembleianos.html.
[2] Para compreender melhor os “Usos e Costumes” no pentecostalismo brasileiro, você pode consultar o blog do historiador Mario-Sérgio-Santana: http://mariosergiohistoria.blogspot.com.br/2015/08/usos-e-costumes-nas-ads.html.
[3] GILBERTO, Antônio. Manual do CAPED. CPAD: Rio de Janeiro, 2000.
[4] Compreende-se por costumes, um conjunto de hábitos, normas e dogmas.
[5] De acordo com ARAÚJO (2014), havia forte conotação para os usos e costumes e restrições ao vestuário, ao uso de bijuterias, aos produtos de beleza, ao corte de cabelo, como destacados pelas famosas resoluções expostas em convenções, como a resolução das Assembleias de Deus em São Cristóvão, Rio de Janeiro, em de junho de 1946.
[6] ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. CPAD: Rio de Janeiro, 2015.
[7] Eisegese: Interpretação de fora do texto para dentro, diferente da Exegese, que é a interpretação do texto a partir das regras de interpretação e do texto hebraico e grego.
[8] ZIBORDI, Ciro. Evangelhos que Paulo jamais pregaria. CPAD:Rio de Janeiro, 2006.
[9] MACARTHUR, John. A Nossa suficiência em Cristo. Editora Cultura Cristã: São Paulo, 2011.
[10] GERMANO, Altair. Usos e Costumes Assembleianos: Curiosidades. Disponível em: http://www.altairgermano.net/2009/04/usos-e-costumes-assembleianos.html.
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