Muito utilizado
hoje em dia por suas vastas propriedades medicinais e benefícios nutricionais,
o açafrão-da-terra, também conhecido como cúrcuma, é de origem
indiana e, boa parte de seu cultivo e produção, vêm desse país que exporta
essa especiaria para vários outros países, inclusive para o Brasil.
Mundialmente
utilizado para fins culinários e medicinais, o açafrão-da-terra é produzido principalmente
em Bangladesh, Índia, além de Mianmar, China e Nigéria.
É uma especiaria que se tornou conhecida e apreciada no
Ocidente porque, além
de tempero, suas propriedades medicinais fazem dela um verdadeiro remédio
natural para tratar desde inflamação à distúrbios gástricos. Pesquisas
revelaram seu poder de cura também em casos de falta de memória, depressão e menopausa.
Mas, infelizmente, esta especiaria vem sendo contaminada por uma substância
muito tóxica, o chumbo! O alerta foi dado
por pesquisas que revelaram que muitos produtores de Bangladesh vêm
adulterando o açafrão com cromato de chumbo, a fim de intensificar sua cor amarela
vibrante, visando aumentar seu valor de mercado, para obterem
mais lucro.
Índice
1. Como se deu esta descoberta
Essa descoberta se deu durante a visita de
uma equipe de pesquisadores da Stanford Center for Innovation in Global Health às
nove principais regiões produtoras de açafrão em Bangladesh.
As desagradáveis descobertas foram publicadas na
revista Science
Direct, na qual os autores da pesquisa
revelaram como as entrevistas com agricultores e comerciantes os levaram a
detectar essa irregularidade.
2. O
estudo
A equipe descobriu que as inundações na década de 1980 resultaram
em más colheitas de açafrão e com as lavouras encharcadas o açafrão ficou com
tonalidade opaca, por isso, os produtores começaram a tratá-lo com cromato de
chumbo, um pigmento amarelo que torna a tonalidade dessa raiz mais vibrante.
Depois
disso, esta prática passou a ser adotada pelos produtores de forma contínua visando valorizar o produto
pela cor intensa.
Para comprovar este fato, os autores do estudo
realizaram uma análise química de 524 amostras de açafrão,
pigmentos, poeira e solo de todo o Bangladesh e o resultado foi que foram
detectadas altas concentrações de chumbo que excederam o limite nacional em até
500 vezes, com uma média de 690 microgramas de chumbo em cada grama de açafrão.
3. Os perigos do chumbo
O chumbo é uma neurotoxina que pode causar graves problemas de saúde e estudos já mostraram que crianças
que ingerem chumbo tendem a sofrer uma redução na capacidade cognitiva, fazendo
com que seu neurodesenvolvimento fique comprometido.
O co-autor do estudo, Stephen Luby, professor de medicina e diretor
de pesquisa do Centro de Inovação em Saúde Global de Stanford, explicou que:
“Diferente
de outros metais, não há limite de consumo seguro para o chumbo, é uma
neurotoxina em sua totalidade.”
4. Além
de Bangladesh
Este estudo não investigou a presença de chumbo na
cúrcuma além de Bangladesh. Porém, seus autores sugerem diretrizes mais rígidas
de saúde, fiscalização e segurança de outros países para coibir os produtores
de adicionarem chumbo a este produto que também é exportado.
Apesar de todas as evidências, os pesquisadores
apontam que não há como afirmar o quanto de cúrcuma vem sendo adulterada e pode
estar circulando pelo mundo, por isso fazem o alerta para testes mais rigorosos por parte
dos importadores.
5. Análise que comprova a ingestão do chumbo
Outro estudo paralelo, relacionado ao
já relatado acima, confirmou através de análises que o açafrão é
provavelmente o principal causador de níveis elevados de chumbo no sangue entre
os habitantes de Bangladesh pesquisados.
“As
pessoas estão inconscientemente consumindo algo que pode causar grandes
problemas de saúde. Sabemos que a cúrcuma adulterada é uma fonte de exposição ao chumbo e
precisamos fazer algo a respeito” – disse a
principal autora dessa análise, Jenna Forsyth, pós-doutorada no Instituto de
Meio Ambiente de Stanford Woods.
Desde 2014, Jenna Forsyth, juntamente com Scott Fendorf e
o já mencionado Stephen Luby trabalham na área rural de Bangladesh para avaliar
a exposição das pessoas ao chumbo, tendo o apoio financeiro do Instituto Stanford Woods para
o Meio Ambiente.
Entres os resultados dessa análise, estes
cientistas através da avaliação populacional, descobriram que mais de 30% das
mulheres grávidas tinham níveis elevados de chumbo no sangue.
5. As recomendações dos pesquisadores
Com base nestes resultados, os pesquisadores querem
mudar o comportamento do consumidor para que não corra o risco de ingerir
açafrão contaminado, e também reduzir os incentivos dos produtores para a
prática de utilização de chumbo na produção do açafrão. Para isso eles
recomendam:
·
Tecnologias
de secagem mais efetivas e eficientes para o processamento da cúrcuma
·
Inspetores
e fiscais de importação em todo o mundo, a fim de examinarem o
açafrão com dispositivos de raio-X que possam detectar chumbo e outros produtos
químicos e tóxicos
·
Envolvimento
de consumidores, produtores e outras partes interessadas com foco em segurança
alimentar e saúde pública,
Para ajudar na realização dessas recomendações,
Forsyth, Luby e Fendorf fazem parte de uma equipe interdisciplinar de projetos,
financiada pelo Stanford King Center on Global
Development (King Center em Desenvolvimento Global), com o
objetivo de reduzir a exposição ao chumbo pelo açafrão em
Bangladesh e além de suas fronteiras.
Um membro dessa equipe, o bioengenheiro Manu Prakash,
vem desenvolvendo tecnologias de baixo custo para medir o chumbo no açafrão, em
outras fontes e no sangue.
7. Fique de olho!
Agora, com esse alerta fiquemos espertos,
pesquisando no rótulo a procedência do açafrão que consumimos e dando preferência
para o produto cultivado de forma orgânica e, ainda, de produtores
nacionais.
Outra possibilidade é cultivar em casa
esta especiaria. Veja aqui:
Devido a tantas adulterações nos alimentos,
precisamos conhecer a procedência do que consumimos. Por isso, se informe-se!
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