◘ FUGA CINEMATOGRÁFICA VIRA DRAMA DIPLOMÁTICO ENTRE COLÔMBIA E VENEZUELA.

O ditador venezuelano Nicolás Maduro durante discurso à
Assembleia Constituinte - Governo da Venezuela
Quando a ex-senadora Aída Merlano, 39, condenada a 15 anos de cadeia, fugiu saltando com uma corda do terceiro andar de uma clínica, em Bogotá, em outubro, o país parou para acompanhar a história.
Desde então, os colombianos tentam entender como a mulher conseguiu, por meio de um plano cinematográfico, escapar da polícia e se esquivar da perseguição das autoridades de seu país.

No início desta semana, seu paradeiro foi conhecido. Merlano estava escondida em Maracaibo, na Venezuela, onde foi detida pela Faes (Força de Ações Especiais), por uso de documentos falsos, e levada a Caracas.
Quando Nicolás Maduro se deu conta de que poderia manter a ex-senadora como instrumento de um jogo político —afinal, o presidente colombiano, Iván Duque, é um desafeto—, pediu para que ela fosse transferida para a “tumba”, como é chamada uma das prisões mais terríveis da ditadura venezuelana.

Trata-se de um antigo cofre, gigantesco e subterrâneo, no centro de Caracas, onde foram instaladas celas iluminadas ininterruptamente como instrumento de tortura psicológica.

A "tumba" é usada como detenção para inimigos do regime, e vários dos presos políticos importantes do país, como o deputado Juan Requesens, estão confinados ali. Não era esse o final da história que Merlano havia imaginado.

Sua fuga foi planejada para o dia em que tinha permissão para ir ao dentista realizar um procedimento. Naquela manhã, deixou a prisão acompanhada dos dois filhos e de dois policiais.

Ao chegar ao local, o médico pediu aos agentes que ficassem do lado de fora da sala durante a consulta, enquanto Merlano trocava de roupa e sua filha falava ao telefone, coordenando a fuga.

Logo, uma corda vermelha aparece pela janela, e a ex-congressista desce por ali. Na rua, uma moto a esperava.

Seus filhos saíram pela porta, normalmente, seguidos pelo médico. Os agentes, então, perceberam que havia algo estranho e viram que Merlano tinha escapado. Acionaram então outras unidades, mas já não era possível localizá-la.

O presidente Iván Duque, alvo de manifestações populares por diversos motivos, foi ridicularizado por deixar a ex-senadora fugir. Desde então, o pedido de captura de Merlano era assunto prioritário ao governo.

Quando se soube que ela estava escondida na Venezuela, Duque entrou em contato com Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional, de maioria opositora, a quem a Colômbia reconhece como presidente interino do país.

O líder colombiano quer que Merlano seja extraditada. Guaidó, porém, em viagem internacional, não pôde fazer mais do que prometer a ele que tentaria ajudar, o que é praticamente impossível, uma vez que a polícia e o Exército venezuelanos estão sob controle de Maduro.

Na terça-feira (28), Maduro fez um comentário jocoso sobre o caso.
“Hoje dei muita risada e vou tentar contar a razão tentando não rir de novo, porque o presidente Iván Duque disse que pediu a extradição dessa pessoa a Juan Guaidó”, zombou.

“Mande sua carta para Guaidó, Duque, para ver o que ele pode fazer e quem Guaidó vai conseguir mandar aí para Bogotá. Aqui na Venezuela há autoridades legítimas e poderes estabelecidos, que pelo visto funcionam melhor do que na Colômbia, pois vocês deixaram essa pessoa escapar.”

O ditador venezuelano ainda aproveitou a situação para elogiar a Faes por ter prendido a ex-senadora.

Um dia depois, nesta quarta (29), durante declaração transmitida pela TV estatal, porém, Maduro ofereceu ao governo colombiano o restabelecimento das relações em nível consular para tratar do caso de Merlano.

Caracas rompeu relações diplomáticas com Bogotá em fevereiro de 2019, após a fracassada tentativa den Guaidó de entrar na Venezuela com alimentos e remédios doados pelos EUA por meio da fronteira com a Colômbia,
como parte de sua ofensiva para tirar Maduro do poder. Merlano é da costa colombiana, de Barranquilla, e foi deputada entre 2014 e 2018 e depois senadora. Logo após assumir, no entanto, foi acusada de fraude eleitoral.

Julgada sob suspeita de caixa 2 e compra de votos por US$ 1,7 milhão, foi condenada a 15 anos por corrupção e posse ilegal de armas.

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