Químico autodidata (Reprodução)
Indignada, a professora desmentiu as afirmações contidas no vídeo |
“Isso é muito grave. Nós estudamos, pesquisamos muito, publicamos tantos artigos e de repente uma pessoa vem se dizendo autodidata e coloca a população quase que em pânico. Toda uma recomendação científica de órgãos que são muito respeitados – isso a nível mundial- e ele fala que tudo isso não vale de nada”, relatou a professora.
Ela recebeu o vídeo em um grupo de químicos, também indignados com as informações que estavam sendo divulgadas. Segundo Carvalho, há vários erros didáticos na fala do químico autodidata, como por exemplo, a composição do álcool.
“Começa ali uma fragilidade da fala, que para nós que somos da área e entende o que ele fala, ficamos preocupados. Ele comenta que o álcool 70 tem 70% de água e não de álcool. Isso é errado! Temos várias monografias que mostram que, em toda indústria farmacêutica e industria química, a fabricação do álcool em gel é justamente o contrário: Indicam que ele tem 70% de álcool etílico e 10% de água na composição”, explicou a professora.
No vídeo, o homem fala que o álcool em gel pode ser substituído pelo vinagre, que inclusive, tem o custo mais baixo. “Outro erro químico que ele diz. O vinagre é um ácido acético que, mesmo fraco, pode causar lesões. O vinagre comercial é uma solução de ácido acético numa composição de 4%, mas isso é pouco para dar um poder de assepsia à esse produto”, disse carvalho.
“O álcool etílico em gel, que compramos hoje, é muito mais eficiente que o vinagre. Ele [químico autodidata] tem que tomar muito cuidado quando diz isso. É romper uma orientação e espalhar um pânico que não é verdadeiro”, acrescentou a professora, preocupada com a repercussão que o vídeo teve.
“Quero acreditar que, quando ele faz esse vídeo, queria falar uma linguagem simples, mas que acabou, na simplicidade, errando a fundamentação teórica”, observou. “Tem que ser prudente quando se intitula formado na área e espalha um vídeo ou coloca algo na mídia, pois a pessoa tem que assumir a responsabilidade daquilo que fala”, alertou.
Sobre o álcool em gel
A professora explica que, na composição do álcool em gel, constam as características polar e apolar. Isso permite que o produto tenha uma eficiência e alcance as moléculas que tem polaridade e as que são apolares. “Em relação a capacidade de ação, no controle de transferências de doenças, vírus e bactérias, ele acontece. Quando entra em contato com a nossa pele – geralmente nas mãos – ele consegue se adaptar a essas duas situações: tanto polar quanto apolar”, esclarece.
Essas afirmações contradizem as palavras da pessoa no vídeo que, segundo Carvalho, não traz informação científica. “Enquanto a gente olha os protocolos da saúde, da OMS (Organização Mundial da Saúde) por exemplo. É tudo feito com regulamentação científica”.
Em relação ao material gelatinoso que o homem cita para a fabricação, a professora afirma que é justamente para garantir que o produto permaneça mais tempo nas mãos.
Quanto ao preço, que o químico autodidata fala ser fruto de uma indústria capitalista e, por isso, o vinagre é mais indicado por ser mais barato, Carvalho explicou que o cuidado de fabricação e toda a metodologia envolvida é diferente entre os produtos. “Os preços diferentes serão de acordo com o que a pessoa quer, como por exemplo, se o álcool em gel tiver alguma fragrância ou for mais hidratante”, argumentou.
“Existe uma pesquisa e uma ciência por trás disso. Esses profissionais não estão perto da nossa casa, mas estão nos centros fazendo pesquisa em prol da população. Isso é importante trazer para discussão, nesse momento, pois vídeos como esse pode desmoralizar e desqualificar o trabalho de pessoa que dedica a vida delas em prol de uma pesquisa”, completou Carvalho.
Assista ao vídeo em que o químico autodidata fala sobre o álcool em gel no player abaixo:
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