Por Marcelo Ribeiro, em 2.09.2020
Já sabemos que
pacientes de Covid-19 podem ficar com problemas pulmonares severos por um longo
tempo, mas novas evidências assustadoras apontam os grandes impactos no coração
que o coronavírus pode causar, mesmo que você nunca tenha exibido nenhum sintoma
da doença.
Os atletas mais
fisicamente aptos estão corroborando essa terrível estatística: um atleta de
futebol americano da Universidade de Indiana (EUA) está
lidando o que podem ser problemas cardiovasculares e outro da
Universidade de Houston (EUA) decidiu parar
de jogar nesta temporada por “complicações com meu coração”.
Mais de doze atletas dos cinco principais times de futebol americano exibiram
lesão no miocárdio (o músculo do coração) depois de contraírem Covid-19,
informou a ESPN.
Eduardo Rodriguez, jogador de beisebol do Boston Red Sox, disse se
sentir com “cem
anos” depois de contrair o coronavírus e desenvolver uma inflamação
no miocárdio chamada de miocardite.
Algumas dessas
patologias podem ser curadas mas também tem boa chance de levar a sérios
problemas cardíacos, incluindo morte súbita. Michael Ojo, um ex-jogador de
basquete do Florida State, morreu possivelmente
por causa de consequências cardiovasculares após ter se recuperado de uma
infecção por Covid-19.
Há indicações de
que a inflamação no miocárdio ocorra por causa da agressiva resposta do sistema
imune ao coronavírus. Não importa a idade: uma criança de 11 anos morreu de
insuficiência cardíaca e miocardite após contrair Covid-19 e cientistas
descobriram a proteína do vírus no músculo do coração de seis
pacientes mortos por insuficiência pulmonar.
Ossama Samuel
chefe de cardiologia do hospital Mount Sinai Beth Israel em
Nova York, disse ao Scientific
American sobre inúmeros pacientes sofrendo miocardite poucas
semanas após se recuperarem da infecção por Covid-19. Um deles desenvolveu
pericardite (inflamação no pericárdio, a bolsa que envolve o coração). Mais
dois de seus pacientes na casa dos 40 anos estão com função cardíaca
comprometida, um deles atlético, que é obrigado a usar um desfibrilador
portátil constantemente conectado ao seu peito. Ele possui fibrose e cicatrizes
formadas no miocárdio que podem obrigá-lo a implantar um desfibrilador
permanente.
Miocardite é
complicada de diagnosticar: alguns pacientes não tem sintomas enquanto outros
costumam ter falta de ar, dores no peito, cansaço e febre. Outro paciente do
hospital, um profissional de saúde de 34 anos, teve febres, diarréia, vômitos,
náusea e aperto no peito até receber o diagnóstico de miocardite. Teve
insuficiência cardíaca grave, ficou internado na UTI e teve que passar por uma
cirurgia para melhorar o seu funcionamento cardíaco. Ele não consegue trabalhar
há meses e subir poucos lances de escadas os deixa exausto.
Arritmia é uma ocorrência comum e preocupante em
pacientes com Covid-19 e há estimativas que 7% das mortes da infecção
podem ser causadas por miocardite. Miocardite também pode causar arritmias
mesmo anos após anos do
término do tratamento.
Estima-se que cerca de metade dos pacientes com
miocardite desenvolvam problemas crônicos. Uma pesquisa com pacientes que se
recuperaram da infecção por coronavírus mostrou que 37% deles desenvolveram
miocardite ou miopericardite 10 semanas depois.
“Minha opinião pessoal é que o COVID aumentará a incidência de
insuficiência cardíaca nas próximas décadas”
Elike
Nagel para o SA
Um estudo recente em cem pacientes que
já haviam se recuperado da infecção mostrou que 78%
sofrem “danos cardiovasculares duradouros”, mesmo nos casos que
chegaram a exibir apenas sintomas mais leves, de acordo com Elike Nagel, o
autor principal do estudo.
O que fazer para evitar esse grave risco de doença cardíaca? Use máscara facial, faça o distanciamento físico. O mais importante é evitar contrair o vírus em primeiro lugar.
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