· · Porto Alegre, 1983 -
· O Hotel Majestic colocou Mário Quintana no olho da rua.
· A miséria havia chegado absoluta ao universo do poeta.
· Mário não se casou e não tinha filhos.
· Estava só, falido, desesperançoso e sem ter para onde ir.
· O porteiro do hotel, jogou na calçada um agasalho de Mário, que tinha
ficado no quarto, e disse com frieza: - Toma, velho!
· Derrotado, recitou ao porteiro: - A poesia não se entrega a quem a
define.
· Mário estava só.
· Absolutamente só.
· Onde estavam os passarinhos?
· A sarjeta aguardava o ancião. Alguém como Mário Quintana jogado à
própria sorte!
· Paulo Roberto Falcão, que jogava na Roma, à época, estava de férias em
sua cidade natal e soube do acontecido.
· Imediatamente se dirigiu ao hotel e observou aquela cena absurda.
Triste, Mário chorava.
· O craque estacionou seu carro, caminhou até o poeta e indagou: - Sr.
Quintana, o que está acontecendo?
· Mário ergueu os olhos e enxugou as lágrimas - daquelas que insistem em
povoar os olhos dos poetas - e, reconhecendo o craque, lhe disse: - Quisera não
fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de
minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia.
· Mário explicou a Falcão que todo seu dinheiro acabara, que tudo o que
possuía não era suficiente para pagar sequer uma diária do hotel.
· Seus bens se resumiam apenas às malas depositadas na calçada.
· De súbito, Falcão colocou a bagagem em seu carro, no mais completo
silêncio.
· E, em silencio, abriu a porta para Mario e o convidou a sentar-se no
banco do carona.
· Manobrou e estacionou na garagem de um outro hotel, o pomposo Royal.
· Desceu as malas.
· Chamou o gerente e lhe disse: - O Sr. Quintana agora é meu hóspede!
· Por quanto tempo, Sr. Falcão? - indagou o funcionário.
· O jogador observou o olhar tímido e surpreso do poeta e, enquanto o
abraçava, comovido, respondeu: - POR TODA ETERNIDADE.
· O Hotel Royal pertencia ao jogador!
· O poeta faleceu em 1994.
· Por isso sou fã e grande admirador desse ex jogador!!
POR TODA ETERNIDADE.
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