◘ APÓS 64 ANOS, PIONEIRO " ROMI - ISETTA " AINDA GERA VISIBILIDADES A SANTA BARBARA, VEJA A HISTÓRIA.

Após 64 anos, pioneiro Romi-Isetta ainda gera visibilidade a Santa Bárbara; descubra a história

Cidade que completou bicentenário nesta semana é sede da primeira fabricação em série de um carro nacional. Para historiador, difusão da cidade por causa do veículo é maior atualmente do que no lançamento.

Por G1 Piracicaba e Região

Caravana pela Rua Xavier de Toledo em São Paulo. O lançamento oficial do Romi-Isetta ocorre em São Paulo em 5 de setembro de 1956 — Foto: Fundação Romi

Pioneirismo é uma palavra que se repete nas histórias do bicentenário de Santa Bárbara d’Oeste. O primeiro é a própria fundação da cidade, que teve como protagonista uma mulher

Há, também, o pioneirismo no setor automobilístico nacional, com a produção do primeiro veículo de passeio fabricado em série no Brasil. Trata-se do Romi-Isetta, que foi lançado em setembro de 1956.

O veículo é dono de características peculiares. Com 350 quilos, tem formato de gota de água e possui apenas uma porta, que fica na frente do carro. 

Além disso, é compacto ao ponto de ter capacidade para dois ocupantes. Para o historiador barbarense Antônio Carlos Angolini, após 62 anos do lançamento, o carro gera mais visibilidade para a cidade atualmente do que antes.

“O carro tem chamado atenção [para Santa Bárbara] mais até agora do que quando saiu. Atualmente passou a ser um carro-chefe, tem divulgado muito [a cidade]”, afirma. “No tempo do lançamento, falou-se um pouco da cidade, mas falava mais do carro e da empresa, o pessoal não ligava muito para onde ele era feito”, completou.

Não bastasse todas as características marcantes, a história da fundação da fábrica responsável pela produção dos Romi-Isetta tem passagens dignas de filmes. Envolve guerra, romance e mudanças de países ou cidades.

O fundador das Indústrias Romi é um brasileiro nascido em 1896, na cidade São José do Rio Pardo (SP), e filho de italianos: Américo Emílio Romi (1896-1959). Emílio mudou-se, ainda adolescente, para o país europeu onde os pais nasceram.

Anos depois, teve início a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Emílio foi convocado para lutar pelo país da família. O ítalo-brasileiro se feriu durante um confronto e foi socorrido para uma enfermaria, como contou ao G1 o superintendente da Fundação Romi, Vainer João Penatti.

Américo e Olímpia Romi se conheceram durante a Primeira Guerra Mundial — Foto: Fundação Romi

“Estoura a primeira guerra mundial e o Emilio, estando na Itália, filho de italianos, acaba lutando na guerra pela Itália. Durante a guerra ele se acidenta, eu não sei exatamente como foi esse acidente, mas vai para o hospital e ali é tratado pelos médicos. Uma enfermeira que cuida dele ali viria a ser sua esposa, dona Olimpia Gelli Chiti, que era viúva de guerra já, porque tinha perdido o marido, e já tinha um garoto pequeno, o Carlos Chiti”.

Olimpia, enfermeira, era viúva de Guido Chiti, morto na Primeira Guerra Mundial. Com Chiti, ela teve o primeiro filho, Carlo (que ao mudar-se para o Brasil, passou a ser chamado de Carlos), que viria a ser co-fundador das Indústrias Romi e “pai do Romi-Isetta”.

Da fundação à produção do Isetta

Após o casamento de Emílio e Olímpia, o casal teve o primeiro filho, Giordano, e se muda para o Brasil em 1924. A primeira cidade que habitam é São Paulo, onde Emílio começou a trabalhar como mecânico, função que estudou nos anos na Itália.

Carlos Chiti permaneceu na Itália, onde morou com tios. Enquanto isso, a família deixa a capital paulista e se muda para Americana (SP), onde Emílio monta uma oficina mecânica.

Emílio, Olímpia e Giordano se mudam novamente, dessa vez para Santa Bárbara d’Oeste, onde se estabelecem definitivamente. A fundação da Garage Santa Bárbara, que viria a ser as Indústrias Romi, ocorre em 1930.

“Ele [Emílio] monta uma oficina mecânica em Americana, depois vem para Santa Bárbara e monta a oficina em Santa Bárbara e aqui ele trabalhava consertando arados dos imigrantes americanos. Nesse contexto ele resolve fabricar esses arados. Monta uma fundição no centro de Santa Bárbara d’Oeste, ao lado da igreja central. É onde começa a efetivamente a historia do Emílio Romi com a Garage Santa Bárbara, que era sua loja, vendia peças de carros, consertava carros, depois monta a fundição, e nasce a Máquinas Agrícolas Romi”, diz Penatti.

Vainer Penatti, superintendente da Fundação Romi — Foto: Thainara Cabral/G1


Depois de alguns anos, Carlos Chiti encerra os estudos na Itália e viaja para Santa Bárbara, onde vira, nas palavras de Penatti, o braço direito de Emílio na indústria.

“Passa a ser o braço direito do Emílio nesse processo todo industrial. O seu Carlos cuidava da parte de vendas, [era] quem vendia máquinas junto com o padrasto. Ai a empresa foi crescendo”, explica o superintendente.

Emílio e Olímpia têm outros três filhos: Alvarez e o casal de gêmeos Romeu e Julieta.

A maior fonte de renda da Romi nos anos de crescimento, principalmente na década de 40, foi a produção de implementos agrícolas, como os tornos. “Durante a Segunda Guerra, com as dificuldades de importação do aço e o racionamento dos derivados de petróleo, a produção de arados sofreu uma importante queda. No entanto, havia uma nascente indústria brasileira que necessitava de máquinas, especialmente tornos. Com os obstáculos à importação, tornos eram equipamentos essenciais”, descreve uma publicação no site da Fundação Romi.

Ao fim da década de 40 e início de 1950, o país passava por um período de crescimento econômico e investimentos em industrialização. O governo de Getúlio Vargas cria estatais importantes, como a Petrobras. Funda também, em 1951, a Comissão de Desenvolvimento Industrial (CDI). No mesmo ano, Emílio é eleito prefeito de Santa Bárbara d’Oeste. É nesse contexto que nasce o projeto do Romi-Isetta.

Vista externa da Garagem Santa Bárbara, em foto de 1933 — Foto: Fundação Romi

Da revista para as ruas

Antes de produzir o Romi-Isetta, a Romi iniciou a fabricação de um trator denominado Toro. O nome se dava pela junção do início do sobrenome do engenheiro que o projetou, João Tosello, e da primeira sílaba de Romi. Penatti afirma que o protótipo, no entanto, não foi de grande sucesso e a indústria deixou de produzi-lo.

Em 1955, Carlos Chiti descobriu o modelo Isetta ao folhear uma revista italiana. O automóvel era produzido pela montadora Iso Motors. Fascinado pelo arrojo do veículo, que era compacto e, segundo Penatti, confortável, Chiti sugere a Emílio que eles façam testes de viabilidade da produção.

Dois Isettas da Iso foram importados para Santa Bárbara d’Oeste e analisados. Em seguida, Carlos e Emílio agendam uma viagem para Itália para negociar a licença de produção no Brasil.

Família Romi, em 29 de junho de 1956. Américo Emilio Romi e familiares visitaram a linha de montagem do Romi-Isetta, que funcionava nas instalações das Indústrias Romi — Foto: Fundação Romi

No avião, antes de aterrissarem em solo italiano, Emílio sentiu um mal estar. Assim que o avião pousou, ele foi atendido e encaminhado para um hospital, que diagnosticou um infarto.

Com o padrasto em recuperação, quem conduziu as negociações é Carlos Chiti, que fechou um acordo com a montadora italiana. A Iso receberia 3% sobre o preço de venda de cada unidade no Brasil.

Penatti explica que o baixo custo da produção e a inovação do modelo, com formato de gota e bastante compacto, foram os motivos que fizeram a família se interessar no Isetta.

“Nasceu para ser um produto popular. Desde lá a Itália ele nasceu para ser um carro popular, carro para atender a massa, atender a população, o transporte urbano com um conceito avançado para a época, que é o que a gente vê hoje”.

Duas unidades do Romi-Isetta ficam na Fundação Romi, em Santa Bárbara d'Oeste, atualmente — Foto: Thainara Cabral/G1

72% brasileiro

Com o crescimento da industrialização no país, a Romi conseguiu produzir um veículo que usava apenas o motor e o câmbio importados da montadora italiana. Todo o resto era produzido por empresas nacionais e encaminhadas a linha de produção em Santa Bárbara d’Oeste.

Segundo a própria Romi, o índice de nacionalização do Romi-Isetta era de 72% em relação ao peso do carro. Até então, os veículos vendidos no Brasil eram importados prontos ou vinham desmontados, mas com peças 100% de fora do país.

“Os automóveis vendidos no Brasil eram ou importados já prontos ou apenas montados nas operações das multinacionais aqui instaladas, num sistema chamado CKD (‘complete knock-down’, ou seja, carros completamente desmontados, cujas peças eram produzidas fora do país e aqui enviadas – para serem montadas pelas multinacionais)”, aponta uma publicação da Romi.

Américo Emílio Romi e o Governador de São Paulo Jânio Quadros, no lançamento oficial do Romi-Isetta, em 5 de setembro de 1956 — Foto: Fundação Romi

Em 5 de setembro de 1956, foram apresentados, em São Paulo, os primeiros 16 veículos Romi-Isetta, em uma caravana que percorreu todo o Centro da capital paulista.

A primeira parada da caravana serviu para apresentar os veículos no Palácio Episcopal ao cardeal D. Carlos Carmelo Motta. Na segunda parada, a caravana foi à então sede do governo do estado, onde o governador Jânio Quadros, a primeira-dama Eloá Quadros e o secretário da Fazenda, Carvalho Pinto, conheceram o automóvel.

Para vender os primeiros modelos e os demais que fossem produzidos, a Romi montou uma rede de vendas e assistência técnica. A primeira loja ficava na rua Marquês de Itu, Centro da capital paulista, de onde partiu a caravana dos 16 carros.

A primeira matrícula registrada no livro-mestre da Produção de Veículos Romi-Isetta foi do veículo com número de chassi RIP 56001, sendo que os dois últimos numerais representam a unidade do modelo fabricado. O automóvel tinha cores creme e vermelho e foi vendido à S.A. Industrial de Óleos Nordeste, em Porto Alegre (RS).

O Romi-Isetta era vendido a 370 mil cruzeiros (moeda da época), o que equivalia a 38 salários mínimos. Segundo a Romi, na mesma época o Fusca era negociado a 540 mil cruzeiros, representando 56 salários mínimos.

Américo Emilio Romi e Dom Ernesto de Paula, em 6 de agosto de 1956. O bispo da diocese de Piracicaba, Dom Ernesto de Paula visitou a linha de montagem do Romi-Isetta — Foto: Fundação Romi

Não se sabe o destino dos quatro primeiros Romi-Isetta fabricados, mas o quinto é de posse de um colecionador que mora em Sorocaba (SP).

Após dois anos do lançamento, a Romi passou a produzir o segundo modelo do automóvel: o Romi-Isetta 300 de Luxe. A principal mudança foi a dissolvição do contrato com a Iso, que fornecia o motor, para fechar negócio com a BMW, montadora alemã que já emplacava o modelo em quase toda a Europa.

O novo motor trouxe mais performance ao carro, que não era dos mais potentes. Em relação ao design, foi incorporada a luz de pisca-pisca no centro da lateral e uma tomada de ar na parte traseira da carroceria.

Comparação entre os modelos

Modelo

Romi-Isetta motor Iso - 236 cm3

Romi-Isetta motor BMW - 298 cm3

Período de fabricação

1956-1958

1959-1961

Tipo de motor

Ciclo de dois-tempos, dois-cilindros, com câmara de combustão comum

Ciclo de quatro-tempos, um-cilindro

Potência máxima

9,5 hp a 4500 rpm

13 hp a 5200 rpm

Primeira velocidade

22,86:1 (0,226) - 20 km/h

10.95:1 - 23 km/h

Segunda velocidade

13,15:1 (0,392) - 35 km/h

5,17:1 - 45 km/h

Terceira velocidade

7,98:1 (0,648) - 55 km/h

3, 54:1 - 65 km/h

Quarta velocidade

5,17:1 (1,000) - 85 km/h

2,70:1 - 85 km/h

Fonte: Fundação Romi

Apreciado pela classe artística

O automóvel caiu nas graças entre os artistas da época. "O Brasil vivia o apogeu do cinema nacional, a idade de ouro da televisão, e o rádio vivia uma grande fase. Os artistas desses meios detinham grande popularidade, e eram importantes formadores de opinião. E muitos deles se tornaram proprietários de Romi- Isetta", aponta a publicação da Romi.

Além de ser adquirido por artistas, o modelo passou a aparecer em comerciais, participar filmes e até de programas de televisão. Dentre eles, o “Alô, doçura”, que tinham como estrelas a atriz Eva Wilma e o marido, John Herbert. "[O programa] atingia o auge da popularidade. Wilma dirigia o carro dentro e fora das telas, além de ser garota-propaganda do modelo".

Até o rei do futebol, Pelé, foi presenteado com um Romi-Isetta, garante a empresa. A fato ocorreu após a Copa do Mundo de 1958, quando o camisa 10 da seleção campeã foi visitar Bauru (SP), cidade onde iniciou a carreira.

Cerimônia de inauguração do prédio do Colégio Estadual e Escola Normal “Comendador Emílio Romi” em 1 de maio de 1958 — Foto: Cedoc Fundação Romi

"Quando desembarcou, ele [Pelé] encontrou 60 mil pessoas, praticamente toda a população local. No momento culminante, Pelé recebeu um Romi-Isetta. O fato ocupou as primeiras páginas da imprensa brasileira e circulou pelo mundo", diz a Romi, em uma publicação.

Nos seis anos de produção, 3 mil unidades do Romi-Isetta foram fabricados e comercializados, segundo a indústria. O superintendente da Fundação afirma que, apesar do caráter popular do carro, o interesse atingiu um nicho do mercado específico.

“Ele era um carro que caiu na graça da população, mas acabou virando um carro de nicho, porque quem comprava era quem já tinha carro, então ele era o segundo carro. Ele não era o carro principal da família. E teve outra característica interessante porque caiu nas graças da classe artística, tanto é que tem um monte de história de artistas que tinham o carro”.

Projeto ambicioso, mas abreviado

O projeto era ambicioso. A Romi previa lançar outros modelos a partir do Isetta e alcançar mais espaço no setor automobilístico. Segundo Penatti, a proposta era produzir picapes, furgões e um Romi-BMW 600 que já era vendido na europa pela BMW.

Américo Emílio Romi e Romeu Romi dentro de um Isetta — Foto: Fundação Romi

Só que, segundo o superintendente, a empresa esbarrou na falta de parceiros. Somado a isso, houve o estímulo da indústria nacional para atrair empresas do exterior, o que tornava o mercado automobilístico caro, já que era preciso investir em tecnologia que a Europa já tinha.

“Para continuar na indústria automobilística ia demandar tecnologia, o que a Romi planejou então? Vamos convidar parceiros, vamos chamar a Iso italiana para ser parceira e continuar o projeto. A Iso não quis porque não tinha recurso financeiro. Ai foi convidar a BMW para ser sócia no Brasil. A BMW também alegou não ter recurso financeiro, até estava disposta a participar com tecnologia, mas não tinha dinheiro para investir”.

Segundo a Romi, houve até a aprovação de um projeto automobilístico para fabricar as picapes, os furgões e o Romi-BMW 600, mas a montadora alemã afirmou não possuir capital e a proposta acabou suspensa.

“A Romi já tinha investido bastante neste projeto, mas para continuar, toda tecnologia que você lança tem um ciclo de vida. Ela nasce, sobe e depois você tem que renovar. Ai a Romi fala ‘bom, eu não consegui um parceiro que tenha tecnologia para gente ir adiante, vamos parar com esse projeto e continuar fazendo tornos, que é o nosso negócio principal”.

Américo Emílio Romi em Santa Bárbara d'Oeste. Foto tirada em 1957 — Foto: Fundação Romi

Problemas com o Geia?

A história do Romi-Isetta inclui um questionamento – recente e errado, garante a empresa. O Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia) era o órgão regulador da indústria automobilística da época e foi implantado no governo de Juscelino Kubitschek.

Um dos decretos do Geia, o 41.018, de 26 de fevereiro de 1957 (após o início da fabricação do Romi-Isetta) instituía o Plano Nacional da Indústria Automobilística, que determinava as normas para que os fabricantes recebessem estímulos governamentais.

O terceiro artigo deste decreto estabelecia como exigência que cada automóvel deveria ter capacidade para transportar, no mínimo, quatro pessoas. O compacto Romi-Isetta transportava dois.

A Romi afirma que o Geia não tinha como função classificar os automóveis, mas sim fixar as regras para que as fabricantes pleiteassem investimentos governamentais. Portanto, não havia impedimento na produção do Isetta.

"Ao Geia não cabia homologar os automóveis, mas, como descrito no artigo 1º do decreto, 'estabelecer normas diretoras para a criação da Indústria Automobilística Brasileira'. O foco do Geia, portanto, era o setor automotivo, ou seja, definir as diretrizes básicas referentes à implantação dessa indústria no Brasil", aponta a Romi.

Selo do modelo Romi-Isetta em um dos carros que ficam na Fundação Romi, em Santa Bárbara d'Oeste — Foto: Thainara Cabral.

https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/santa-barbara-doeste-200-anos/noticia/2018/12/07/apos-62-anos-pioneiro-romi-isetta-ainda-gera-visibilidade-a-santa-barbara-doeste-descubra-a-historia.ghtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

EM DESTAQUE

50.000 TROPAS DE ELITE MOBILIZADAS PARA O BLOQUEIO!

  50.000 TROPAS DE ELITE MOBILIZADAS PARA O BLOQUEIO!   OPERAÇÕES MILITARES EM TODO O MUNDO AGORA EM ANDAMENTO.   UNIDADES MILITAR...

POSTAGENS MAIS ACESSADAS