A menos de cem dias após assumir, o novo
Itamaraty esbarra em obstáculos
estrangeiros, traições e promessas vazias de parceiros que,
nos últimos meses, sinalizavam que iriam contribuir de forma decisiva para uma
nova era de relações com o Brasil.
Lula aceitou vários dos desafios e metas impostas pelos parceiros estrangeiros.
Mas sua aposta agora não está sendo
retribuída por líderes das principais potências.
Se não bastasse, na principal viagem do ano e na qual mostraria
o mundo a transformação do eixo da economia nacional, uma pneumonia o obrigou a
adiar sem data o anúncio de mais de 20 acordos com a China.
Europeus traíram confiança de Lula
O mais recente caso que impactou o Itamaraty foi a proposta feita pelos europeus sobre um protocolo ambiental que acompanharia o acordo comercial entre Mercosul e Europa.
Negociado por 20 anos, o tratado de fluxo de bens foi finalmente fechado em 2019.
Mas os europeus
alegaram que o desmonte da política ambiental de Bolsonaro impedia que o
processo de ratificação pudesse ir adiante.
Para resolver tal impasse, os europeus se propuseram em apresentar um protocolo adicional ao tratado, desta vez estabelecendo critérios ambientais sem os quais o acordo comercial não poderia existir.
O governo Lula, comprometido com a redução do
desmatamento, topou e chegou a apontar que queria o fim definitivo do processo
até meados do ano.
Mas quando os europeus apresentaram a
proposta, no início deste mês, o documento e o comportamento de Bruxelas foi
considerado como decepcionante.
Isso por conta tanto do conteúdo do tratado
quanto pelo comportamento dos negociadores europeus.
Bruxelas havia solicitado que a proposta fosse mantida em sigilo.
Mas duas semanas depois, o texto foi vazado para
ambientalistas europeus, que denunciaram a incapacidade da nova proposta de
frear o desmatamento.
No Itamaraty, o gesto causou profundo
mal-estar, já que rompeu a boa-fé do processo e ainda criou uma pressão ainda
mais elevada para que as exigências fossem aprofundadas.
A surpresa dentro do governo brasileiro é que isso tudo acontece com um presidente — no caso Lula — que se comprometeu em ressuscitar a política ambiental e zerar o desmatamento.
A atitude dos
europeus, portanto, foi recebida com duras críticas dentro do novo governo
brasileiro.
Os problemas não se limitaram ao vazamento.
Na proposta, os europeus fazem exigências ao Brasil que jamais impuseram em outros acordos, como no caso do Canadá.
Além disso, transformaram
compromissos voluntários do país assumidos nos acordos multilaterais como
obrigações vinculantes, num tratado bilateral entre dois blocos.
Lula visita Portugal no final de abril — e a União Europeia e o Brasil realizam uma cúpula que não ocorria havia sete anos.
O Itamaraty vai deixar claro aos europeus que, se há uma intenção de fechar o
tratado, Bruxelas terá de abandonar tais posturas e negociar a partir de outras
bases.
Internamente, o Itamaraty insiste que está disposto a continuar negociando.
Mas em uma recente entrevista, o chanceler
brasileiro Mauro Vieira não escondeu suas críticas aos europeus, alertando que
o Brasil não aceitaria medidas unilaterais e nem condições impostas sobre como
cada país do Mercosul deveria lidar com suas realidades.
Para membros do governo, os europeus estão
revelando sua face protecionista, uma vez mais.
Promessas vazias de Biden
A frustração também ocorre com o governo de Joe Biden.
O americano fez questão que Lula
fosse primeiro para a Casa Branca, antes de uma eventual viagem para a China,
rival estratégico.
Mas a viagem não resultou em atos concretos assinados entre os dois líderes.
Horas antes do encontro no Salão Oval, o
governo americano enviou até a delegação brasileira um emissário para sugerir
que o valor de US$ 50 milhões fosse anunciado por Biden para o Fundo da
Amazônia.
Com a Ucrânia tendo recebido 200 vezes mais
em ajuda das potências Ocidentais, em apenas um ano de guerra, o valor foi
considerado como um constrangimento por parte do Itamaraty.
A sugestão do Palácio do Planalto aos
americanos foi de que o valor sequer fosse citado no comunicado final, sob o risco
de ser embaraçoso.
Brasília esperava que um novo valor seria anunciado ou sinalizado por John Kerry, o enviado americano para o Clima, em sua viagem ao Brasil, semanas depois do encontro Lula-Biden.
Uma vez mais, não
houve qualquer referência a um montante.
A frustração ainda se repetiu tanto com europeus e americanos sobre o projeto de Lula da criação de um grupo de contato que possa iniciar uma articulação por um cessar-fogo na Ucrânia.
A proposta do
brasileiro foi recebia de forma fria, em ambos os lados do Atlântico.
UOL
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