Brasília, 2 out (EFE).- O processo do Mensalão, que já condenou 22 de seus 37 réus, inicia nesta quarta-feira sua fase de maior tensão política, com o início do julgamento de três líderes do Partido dos Trabalhadores (PT), entre eles José Dirceu.
O processo iniciado no Supremo Tribunal Federal (STF) em 2 de agosto já invalidou em boa medida as teses da defesa, que sustentava que não existiu uma rede de compra de votos no Congresso, embora tenha admitido que o PT arrecadou dinheiro não declarado para financiar suas campanhas e de outros partidos.
Nas trinta audiências realizadas até hoje, a maioria dos juízes considerou que rede de corrupção usou recursos públicos, procedentes sobretudo do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados.
Segundo o STF, esses organismos assinaram entre 2003 e 2005, durante o primeiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, milionários contratos com empresas de publicidade de Marcos Valério, que depois repassava esse dinheiro aos cofres do PT mediante créditos fictícios e outros mecanismo financeiros.
Os juízes também consideraram que os recursos não só financiaram campanhas de forma ilegal, mas também foram usados para subornar pelo menos dez deputados de quatro partidos diferentes, o que ajudou o Governo Lula a construir a maioria parlamentar que não tinha obtido nas eleições de 2002.
Como beneficiados dos subornos foram identificados líderes do Partido Progressista (PP), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e do antigo Partido Liberal (PL), atual Partido da República (PR).
O juiz relator do processo, Joaquim Barbosa, chamou a atenção sobre o fato de que os subornados eram sempre chefes dos grupos parlamentares ou presidentes dos partidos.
Os quatro partidos implicados fizeram parte da coalizão que apoiou a gestão de Lula e que depois se aliou a atual presidente, Dilma Rousseff.
Segundo a corte, a coalizão não foi feita por acordos programáticos ou coincidências políticas, mas por mero interesse.
O presidente do STF, Carlos Ayres Britto, disse que "houve uma rede de arrecadação criminosa de recursos públicos e privados" que "corrompeu partidos e parlamentares em um projeto de continuidade política idealizado por um núcleo político", que deu lugar a uma "progressiva perpetuação de delitos em quantidades enlouquecidas".
Provado que a rede se alimentou de dinheiro público e também que ocorreram subornos no Congresso, nas próximas audiências o tribunal tentará identificar os corruptores.
De acordo com a acusação formulada pela Procuradoria Geral da República, o núcleo político que dirigia toda a rede tinha como chefe José Dirceu, na época chefe da Casa Civil de Lula e considerado o "homem forte" de seu Governo.
Dirceu não se pronunciou sobre o assunto desde que começou o processo, mas ao longo dos últimos sete anos vem dizendo que é "vítima" de uma "invenção" da "elite" brasileira, que não aceitou nunca que Lula e o PT finalmente tivessem chegado ao poder.
No entanto, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, declarou nesta segunda-feira que nos autos do processo "existe uma quantidade torrencial de provas" contra Dirceu, que demonstram que o petista "foi o líder, o mentor e o chefe da quadrilha".
Gurgel disse ainda que uma vez provada a corrupção passiva no caso dos parlamentares subornados, agora "necessariamente deverá existir culpados de corrupção ativa", entre eles Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoíno e o antigo tesoureiro do partido Delúbio Soares. EFE
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