PF intercepta
conversa de Lula com executivo da Odebrecht preso na Lava Jato
Relatório da PF
indica ex-presidente preocupado com 'assuntos do BNDES' na ligação para
Alexandrino Alencar.
Inquérito do MPF investiga se Lula praticou tráfico de
influência para favorecer empreiteira com empréstimos do banco 14/08/2015
O ex-presidente Lula durante encontro
em São Paulo - 22/06/2015(Paulo Whitaker/Reuters)
A Polícia Federal
interceptou uma conversa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o
ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar, poucos dias antes de o executivo
ser preso na Operação Lava Jato.
Em relatório final sobre a gravação, feita
durante a Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava Jato, a PF informa ao juiz
federal Sérgio Moro que Lula falou por telefone no dia 15 de junho de 2015 com
Alexandrino, parceiro do ex-presidente em viagens patrocinadas pela
empreiteira.
Quatro dias depois do telefonema, Alexandrino foi preso junto com
o presidente da empresa, Marcelo Odebrecht.
Segundo o
relatório, Lula e Alexandrino estariam preocupados com "assuntos do
BNDES". A PF não grampeou Lula.
Os investigadores monitoravam os contatos
do executivo, até então investigado na Lava Jato, e por isso a conversa foi
gravada.
Diz o relatório da
gravação: "Outro contato considerado relevante ocorreu em 15 de junho de
2015 às 20:06, entre Alexandrino Alencar e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Nele ambos demonstram preocupação em relação aos assuntos do BNDES,
referindo-se também a um artigo assinado por Delfim Netto que seria publicado
no dia seguinte sobre o tema.
Alexandrino disse também que Emilio (Emilio
Odebrecht) teria gostado da nota que o Instituto Lula ("criado pelo
ex-presidente em 2011, depois que ele deixou o governo, para trabalhar pela
erradicação da fome no mundo, aprofundar a cooperação com os países africanos e
promover a integração latino-americana, entre outros objetivos") teria
lançado depois da divulgação do laudo pericial acerca da contabilidade da
empresa Camargo Corrêa, que teria doado três milhões de reais ao Instituto
entre 2011 e 2013 e efetuado pagamentos a LILS Palestras Eventos e Publicidade
LTDA na ordem de R$ 1,5 milhão no mesmo período".
O documento é assinado
pelo delegado federal Eduardo Mauat da Silva, que integra a força-tarefa da
Lava Jato. LILS Palestras Eventos e Publicidade é uma das empresas de Lula
cujos negócios aparecem nos autos da Operação Lava Jato.
LEIA MAIS:
O Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é alvo de uma CPI no Congresso, que
investiga suspeitas de empréstimos contrários ao interesse público feitos
durante as gestões de Lula e da presidente Dilma Rousseff, entre 2003 a 2015.
Lula também é alvo de inquérito aberto pelo Ministério Público Federal para
apurar a relação dele com a Odebrecht e investigar a possível prática de
tráfico de influência em favor da empresa por parte do petista entre 2011 e
2014. Para o MPF, é preciso apurar se Lula atuou para beneficiar a Odebrecht
com a concessão de empréstimos pelo BNDES.
LEIA TAMBÉM:
Em nota divulgada
nesta sexta-feira, o banco comentou a divulgação do relatório da PF sobre a
conversa de Lula e Alexandrino.
O BNDES afirma lamentar "tentativas, na
imprensa e em redes sociais, de manipular e distorcer informações buscando
envolver" a instituição em "algo supostamente nebuloso" a partir
da divulgação do diálogo por telefone do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (2003-2010) com o executivo da Odebrecht.
Outro nome citado
no relatório é de Marta Pacheco Kramer, executiva da Odebrecht. Segundo a PF,
Alexandrino Alencar disse que Marta seria ligada ao Instituto Lula. "O
investigado também recebeu ligações de Marta Pacheco Kramer na data da
deflagração da operação as 06:06 da manhã do dia 19 de junho de 2015.
Curiosamente, Marta foi identificada pelo próprio Alexandrino como vinculada ao
"Instituto Lula" o que restou consignado junto ao auto de arrecadação
lavrado na residência do investigado acerca dos contatos telefônicos feitos
pelo mesmo quando da chegada da equipe", informou o delegado Eduardo Mauat
da Silva.
Procurado, o
Instituto Lula disse que não vai comentar a referência ao ex-presidente no relatório
da Polícia Federal. A entidade nega que Marta Pacheco Kramer tenha qualquer
vínculo com o instituto.
Alexandrino de Alencar, executivo
da Odebrecht, preso na 14ª fase da operação Lava Jato, faz exame de corpo
delito no IML de Curitiba (PR) - 20/06/2015(Vagner
Rosário/VEJA)
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