O negócio milionário de
Lula
Relatório de
órgão de fiscalização do governo mostra que a empresa de Lula faturou 27
milhões de reais — sendo 10 milhões apenas das empreiteiras envolvidas no
escândalo de corrupção da Petrobras
ELITE - Desde que deixou o governo,
em 2011, Lula abriu uma empresa e se dedicou a dar palestras pagas no Brasil e
no exterior.
Em quatro anos, juntou uma fortuna (Ueslei Marcelino/Reuters)
Para um presidente
da República de qualquer país, é enaltecedor poder contar que teve origem humilde.
O americano Lyndon Johnson mostrava a jornalistas um casebre no Texas onde,
falsamente, dizia ter nascido.
A ideia era forçar um paralelo com a história,
verdadeira, de Abraham Lincoln, que ganhou a vida como lenhador no Kentucky.
Lula teve origem humilde em Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se
enalteceu com isso. Como Johnson e Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais
voltou.
É natural que seja assim. Como é natural que ex-presidentes reforcem
seu orçamento com dinheiro ganho dando palestras pagas pelo mundo.
Fernando
Henrique Cardoso faz isso com frequência. O ex-presidente americano Bill
Clinton, um campeão da modalidade, ganhou centenas de milhões de dólares desde
que deixou a Casa Branca, em 2001.
Lula, por seu turno, abriu uma empresa para
gerenciar suas palestras, a LILS, iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva, que
arrecadou em quatro anos 27 milhões de reais. Isso se tornou relevante apenas
porque 10 milhões dos 27 milhões arrecadados pela LILS tiveram como origem
empresas que estão sendo investigadas por corrupção na Operação Lava-Jato.
Na semana passada,
a relação íntima de Lula com uma dessas empresas, a empreiteira Odebrecht,
ficou novamente em evidência pela divulgação de um diálogo entre ele e um
executivo gravado legalmente por investigadores da Lava-Jato.
O alvo do grampo
feito em 15 de junho deste ano era Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está
preso em Curitiba.
Alexandrino e Lula falam ao telefone sobre as repercussões
da defesa que o herdeiro e presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também
preso, havia feito das obras no exterior tocadas com dinheiro do BNDES.
Os
investigadores da Polícia Federal reproduzem os diálogos e anotam que o
interesse deles está em constituir mais uma evidência da "considerável
relação" de Alexandrino com o Instituto Lula.
Fora do contexto da
Lava-Jato, esse diálogo não teria nenhuma relevância especial. Como também não
teria a movimentação financeira da LILS.
De abril de 2011 até maio deste ano, a
empresa de palestras de Lula, entre créditos e débitos, teve uma movimentação
de 52 milhões de reais.
Na conta-corrente que começa com o número 13
(referência ao número do PT), a empresa recebeu 27 milhões, provenientes de
companhias de diferentes ramos de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a
Andrade Gutierrez, a OAS e a Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras
investigadas por participação no esquema de corrupção da Petrobras.
Essas
transações foram compiladas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(Coaf), do Ministério da Fazenda.
O Coaf trabalha com informações do sistema
financeiro e seus técnicos conseguem identificar movimentações bancárias
atípicas, entre elas saques e depósitos vultosos que podem vir a ser do
interesse dos órgãos de investigação.
Neste ano, os analistas do Coaf fizeram
cerca de 2 300 relatórios que foram encaminhados à Polícia Federal, à Receita
Federal e ao Ministério Público.
O relatório sobre a LILS classifica a
movimentação financeira da empresa de Lula como incompatível com o faturamento.
Os analistas afirmam no documento que "aproximadamente 30%" dos
valores recebidos pela empresa de palestras do ex-presidente foram provenientes
das empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão.
O documento, ao
qual VEJA teve acesso, está em poder dos investigadores da Operação Lava-Jato.
Da mesma forma que a conversa do ex-presidente com Alexandrino Alencar foi
parar em um grampo da Polícia Federal, as movimentações bancárias da LILS
entraram no radar das autoridades porque parte dos créditos teve origem em
empresas investigadas por corrupção.
Diz o relatório do Coaf: "Dos
créditos recebidos na citada conta, R$ 9 851 582,93 foram depositados por
empreiteiras envolvidas no esquema criminoso investigado pela Polícia Federal
no âmbito da Operação Lava-Jato".
Seis das maiores empreiteiras do
petrolão aparecem como depositantes na conta da empresa de Lula (veja a tabela
na pág. 51).
O ex-presidente tem
uma longa folha de serviços prestados às empreiteiras que agora aparecem como
contratantes de seus serviços privados.
Com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, por
exemplo, ele viajava pela América Latina e pela África em busca de novas
frentes de negócios junto aos governos locais.
Outro ponto em comum que
sobressai da lista de pagadores da empresa do petista é o fato de que muitas
das empresas que recorreram a seus serviços foram aquinhoadas durante seu
governo com contratos e financiamentos concedidos por bancos públicos.
Uma
delas, o estaleiro Quip, pagou a Lula 378 209 reais por uma "palestra
motivacional".
Criada com o objetivo de construir plataformas de petróleo
para a Petrobras, a empresa nasceu de uma sociedade entre Queiroz Galvão, UTC,
Iesa e Camargo Corrêa - todas elas investigadas na Lava-Jato.
No poder, Lula
foi o principal patrocinador do projeto, que recebeu incentivos do governo.
Em
maio de 2013, ele falou para 5 000 operários durante 29 minutos. Ganhou 13 000
reais por minuto.
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