As primeiras
gomas de mascar do mundo, feitas de resina de árvores como a bétula, ficam
preservadas por milhares de anos. Em 2012 um pedaço dessas gomas de mascar de
5.700 anos foi encontrada na Dinamarca. Agora os resultados da análise de DNA
da goma foram publicados.
Esta resina grudenta contém informações
valiosas para arqueólogos, como o DNA da pessoa que a mascou, micróbios que
viviam na boca dela e até resíduos de alimento de uma refeição pré-histórica.
O melhor de tudo é que as gomas de mascar de bétula preservam o
DNA de maneira espetacular, de forma que é possível reconstruir completamente o
genoma de quem as mascava. “Elas são o Santo Graal quando se trata da
preservação de DNA ancião”, diz o coautor do trabalho, Hannes Schroeder,
antropólogo molecular da Universidade de Copenhagen (Dinamarca).
e bactericida
Esta goma é feita ao aquecer a casca da
árvore, e era comumente utilizada como uma cola pré-histórica na Escandinávia.
A goma unia ferramentas de pedra aos cabos de madeira, por exemplo. Quando
quente, a goma era maleável, mas quando esfriava tornava-se dura. Por isso,
pesquisadores acreditam que as pessoas da época precisavam mascar a massa para
que ela ficasse mole novamente para ser aplicada. O resultado é inúmeras gomas
mascadas, que deixaram para a posteridade as marquinhas dos dentes e DNA de
alimento e micróbios.
A goma tinha outras funções além de colar
ferramentas: enganava a fome, limpava os dentes e até tratava dores de dentes,
já que é levemente antisséptica. Também é possível que as pessoas
pré-históricas simplesmente gostassem de mastigar a goma, da mesma forma que as
pessoas atuais também gostam.
Santo Graal da preservação do DNA
As propriedades antissépticas e proteção
contra umidade da resina são as responsáveis pela preservação do material
genético. Além disso, esta goma em particular foi encontrada debaixo de uma
grossa camada de lama, o que ajudou ainda mais na proteção do DNA. Este sítio
arqueológico fica em uma ilha no sul da Dinamarca e foi descoberto em 2012
quando a área era preparada para a construção de um túnel.
Com base e nas informações genéticas preservadas na goma,
cientistas conseguiram determinar que se tratava de uma menina, provavelmente
uma criança, pela comparação com outras gomas similares que continham
impressões de dentes infantis. A partir do DNA, foi constatado que ela tinha
pele escura e olhos azuis.
Migração do sul
Esta combinação era típica de populações
da Espanha e da Bélgica, o que indica que o sul da Escandinávia foi povoado a
partir do continente, e não a partir da Suécia, onde a população tinha pele
clara. Esta interpretação dos autores é apoiada por estudos que sugerem que duas
ondas diferentes de pessoas colonizaram a Escandinávia depois que as mantas de
gelo se retrairam 12 mil anos.
Esta menina que mascou a goma de bétula não parece ter ancestrais
agricultores, seus genes apontam para uma linhagem de caçadores-coletores.
Os restos de alimentos encontrados na
goma foram avelã e pato, identificados graças ao DNA deixado para trás. Esta
dieta também apoia a hipótese que a jovem era caçadora-coletora, dependendo dos
recursos encontrados na natureza. A análise dos micróbios que viviam na boca da
menina apontou que eles não eram muito diferentes dos que existem na boca do
humano moderno.
Além da microflora comum, este indivíduo
tinha bactérias que indicavam doença na gengiva e também Stroptococcus
pneumoniae, uma das responsáveis pela pneumonia hoje em dia. O
vírus Epstein-Barr, associado à mononucleose, também foi encontrado na amostra.
[Smithsonian]
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