Talvez você já tenha ouvido falar da
“ação assustadora à distância”, também chamada de “ação fantasmagórica à
distância”, um fenômeno bizarro o qual Einstein previu, porém duvidava.
Ele dita a interação contínua entre
fótons distantes entre si – tal interação à distância é possível graças ao
entrelaçamento ou emaranhamento quântico dessas partículas.
Enquanto o fenômeno já foi provado
experimentalmente, os pesquisadores ainda não sabem dizer exatamente quanta
coordenação a natureza permite entre objetos distantes.
Agora, um novo estudo sugere que a
resposta para essa questão é, em princípio, incalculável.
Impossível
A equipe de cinco pesquisadores –
Zhengfeng Ji, Anand Natarajan, Thomas Vidick, John Wright e Henry Yuen –
resolveu um problema relacionado à teoria da complexidade que tem a ver com a
eficiência de algoritmos e que estudos anteriores mostraram ser o equivalente
matemático da ação assustadora à distância.
O teorema resolvido – chamado em inglês
de “Connes embedding problem” – é relacionado a um problema da teoria do jogo:
dois jogadores que podem coordenar suas ações sem conversar, através do
entrelaçamento quântico, conseguem vencer muito mais frequentemente do que sem
o entrelaçamento quântico.
O que os
cientistas provaram, no entanto, é que é impossível para os jogadores calcular
uma estratégia ideal, o que significa que é impossível calcular quanta
coordenação eles poderiam teoricamente alcançar.
“Não existe um algoritmo que lhe diga qual é a
violação máxima que você pode obter na mecânica quântica”, disse Vidick, do
Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena (EUA).
Em linguagem matemática
O problema – nomeado em homenagem ao matemático
francês Alain Connes – é uma questão da teoria dos operadores, um ramo da
matemática surgido a partir dos esforços dos cientistas para fornecer
fundamentos para a mecânica quântica na década de 1930.
Operadores são matrizes de números que podem
ter um número finito ou infinito de linhas e colunas. Eles têm um papel muito
importante na teoria quântica – cada operador codifica uma propriedade
observável de um objeto físico.
Em 1976, Connes perguntou se sistemas quânticos
com infinitas variáveis mensuráveis poderiam ser aproximados por sistemas
mais simples com um número finito. O novo estudo indicou que a resposta é não:
em princípio, há sistemas quânticos que não podem ser aproximados por sistemas
“finitos”.
Considerando o problema por outro ângulo, isso
também significa que é impossível calcular a quantidade de correlação entre
dois desses sistemas entrelaçados.
Consequências
O entrelaçamento quântico é muito
importante para tecnologias nascentes como a computação e a comunicação
quânticas, de forma que medir a correlação entre objetos entrelaçados poderia
ter implicações práticas, como uma rede segura, por exemplo.
No entanto, os pesquisadores do novo
estudo afirmam que os seus resultados provavelmente não têm efeitos
tecnológicos, já que a maioria das aplicações hoje usa sistemas quânticos
“finitos”.
Por enquanto, os cientistas sequer
começaram a compreender as implicações desta resolução teórica. Para início de
conversa, as ramificações e relações do problema entre teoria da complexidade,
informação quântica e matemática significam que poucos pesquisadores sequer
estão qualificados para entendê-lo.
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