Por Marcelo Ribeiro, em 26.10.2020
Desde a década de
1990, os astrônomos catalogaram mais de três mil exoplanetas usando uma técnica
de detecção bastante básica conhecida como método de trânsito. Mas e se os
alienígenas estiverem usando a mesma técnica para nos espionar? Uma equipe de
astrônomos está explorando agora esta possibilidade muito emocionante – se não
totalmente assustadora.
O título do novo
artigo, publicado na revista científica Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society, resume bem o propósito do estudo: “Quais estrelas podem ver a Terra como
um exoplaneta em trânsito?” (Em tradução livre). Na verdade, os
astrônomos na Terra usam o método de trânsito para localizar exoplanetas, então
é lógico que astrônomos alienígenas possam estar usando a mesma técnica para
nos localizar.
O método de
trânsito não permite que os astrônomos vejam um exoplaneta diretamente. Em vez
disso, eles estão vendo o escurecimento temporário de uma estrela distante que
é sinal de que pode haver um exoplaneta passando na frente dela de nosso ponto
de vista. Essas quedas repentinas na luminosidade são muito leves, mas
detectáveis. Esses eventos de escurecimento também podem produzir outros dados
importantes, permitindo aos astrônomos determinar a duração do ano de um exoplaneta,
sua temperatura e suas propriedades químicas, as últimas das quais podem ser
usadas para discernir planetas rochosos (como a Terra) de gigantes gasosos.
Existem outras técnicas de detecção, como o método Doppler, mas o método de
trânsito continua a ser o mais confiável e direto.
O número de
estrelas que podemos observar através de nossos telescópios parece quase
infinito, mas o método de trânsito significa que estamos presos em um efeito de
seleção observacional enorme. Com a técnica de trânsito, só podemos localizar
exoplanetas que passam na frente de suas estrelas hospedeiras em nossa linha de
visão. Se um planeta estivesse localizado um pouco fora de ângulo não
saberíamos que ele existe. Ainda assim, os trânsitos de nossa perspectiva
acontecem com mais frequência do que você imagina, pois os astrônomos
encontraram milhares de exoplanetas dessa maneira.
No estudo recente
a astrônoma de Cornell Lisa Kaltenegger, junto com o astrônomo de Lehigh Joshua
Pepper, “invertem o ponto de vista e perguntam de quais sistemas outros
observadores poderiam ver a Terra como um planeta em trânsito”, conforme
relatam em seu novo artigo. Usando dados coletados pelo Transiting
Exoplanet Survey Satellite (TESS) da NASA, os cientistas
encontraram 1.004 estrelas relativamente próximas que se encaixam nesta
categoria.
Por “esta
categoria”, os autores se referem a estrelas na Zona de Trânsito da Terra
(ZTT), a “região de onde a Terra poderia ser vista transitando pelo Sol, que é
uma faixa fina ao redor da eclíptica projetada no céu com uma largura de 0,528
°”, afirmam os autores do estudo.
Para os
pesquisadores, era importante excluir estrelas a mais de 320 anos-luz de
distância. A esta distância (relativamente) próxima, os astrônomos alienígenas
ainda podiam detectar o fraco escurecimento do nosso Sol causado pelo nosso
minúsculo planeta passando na frente.
Esses astrônomos
alienígenas também podem detectar uma ou duas coisas sobre nosso pálido ponto
azul, como a Terra sendo um planeta rochoso, nosso ano de 365 dias e nossa
localização dentro da zona habitável do Sol. Seríamos uma observação
empolgante, especialmente se sua tecnologia pudesse encontrar bioassinaturas em
nossa atmosfera ou, infelizmente, concentrações anormalmente altas de dióxido
de carbono – um possível sinal de uma civilização em estágio industrial. Isso
não é tão estranho quanto você pode pensar; o futuro Telescópio
Espacial James Webb será capaz de coletar exatamente esse tipo
de dados.
Das 1.004 estrelas
da sequência principal listadas, decepcionantes 77% são anãs vermelhas, que não
são boas candidatas para hospedar vida. Apenas 6% das estrelas são do tipo G,
que é a categoria em que nosso Sol se enquadra. Esta é uma limitação importante
a ser apontada, já que estrelas do tipo G continuam sendo o único tipo de
estrela conhecido por abrigar vida.
Também é
importante notar que, dessas 1.004 estrelas, apenas três são conhecidas por
terem exoplanetas. Há uma boa chance de que todas essas
estrelas tenham uma coleção de exoplanetas, então a questão mais
pertinente a se fazer seria qual desses sistemas estelares têm exoplanetas
estacionados em zonas habitáveis. Aqueles que se aplicam iriam instantaneamente
subir para o topo da lista em termos de alvos prioritários para astrobiólogos.
“Se encontrássemos
um planeta com uma biosfera vibrante, ficaríamos curiosos para saber se alguém
está ou não olhando para nós também”, como Kaltenegger apontou no Cornell
Chronicle. “Se estamos procurando por vida inteligente no universo, ela pode
nos encontrar e pode querer entrar em contato, acabamos de criar o mapa estelar
de onde devemos olhar primeiro.”
Kaltenegger está
muito certo em apontar isso como uma possibilidade, embora as chances sejam
astronomicamente altas de que isso realmente seja o caso.
Se for verdade, entretanto, poderíamos tentar nos comunicar com esta civilização inteligente. Depois do aperto de mãos inicial inicial, poderíamos perguntar: “Ei, o que o traz à mesma Zona de Trânsito da Terra?”. [Gizmodo]
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