Há
quem considere as réplicas de automóveis famosos apenas cópias vulgares. Mas no
mundo automotivo as reproduções bem feitas desfrutam de grande prestígio. Quase
sempre custam caro. E, às vezes, podem ter componentes e acabamento muito
similares – e até superioriores – aos dos exemplares em que se inspiram.
Algumas dessas cópias ostentam até uma espécie de certificado de qualidade: a
aprovação dos fabricantes dos modelos originais.
No Brasil – que proibiu a importação de automóveis entre 1976
e 1990 – uma florescente indústria caseira de réplicas supriu a demanda por
esportivos inacessíveis a partir do início dos anos 1970. Empresas de pequeno
porte despejaram nas ruas uma miriade de réplicas tão bem construídas que só
conhecedores conseguem perceber que não são originais. A maioria tinha
carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro e utilizava a versátil
mecânica Volkswagen air cooled. Mas também havia modelos impulsionados por
motores Chevrolet, Fiat e Ford. A indústria brasileira de réplicas entrou em
declínio com a reabertura das importações, na década de 1990, mas algumas
sobrevivem até hoje.
Em meio a tantos lançamentos, algumas réplicas de automóveis
clássicos construídas no Brasil se destacaram pela fidelidade aos modelos
verdadeiros – e se transformaram em cobiçados clássicos de coleção no país. As
principais:
MP Lafer
Primeira réplica produzida em larga escala no país. Era
inspirado no modelo MG TD inglês de 1953. Foi desenhado e construído por
Percival Lafer, fabricante de móveis. Lançado em 1973, foi produzido até 1989,
e teve 4.300 unidades vendidas – inclusive para o exterior. Na aparência, era
bastante fiel ao modelo original. Mas, diferentemente do esportivo britânico,
tinha motor Volkswagen boxer aircooled de 1.600 cm3 instalado na traseira.
Super 90 Coupé
Cópia muito fiel do Porsche 356 B-T6/356 C produzido na
Alemanha entre 1962 e 1965. Era fabricado pela Envemo, sobre chassi do VW
Brasília encurtado em 300 mm. Utilizava o tradicional motor VW boxer arrefecido
a ar de 1.600 cm3, com 54 cv. Também teve uma versão Cabriolet e chegou a ser
equipado com motor de 1.700 cm3 de 88 cv. Uma das mais perfeitas réplicas
feitas no Brasil, foi produzido de 1979 a 1983, as últimas unidades já sob a
bandeira de outro proprietário, a Chamonix. Vendeu 202 unidades. E foi elogiado
por executivos da Porsche em uma feira na Alemanha.
Gazelle
Réplica do Mercedes-Benz SSK de 1928. Produzido por uma
subsidiária brasileira da norte-americana Classic Motors Carriages em Contagem,
Minas Gerais, entre 1978 e 1986. Vendeu cem unidades.
Dardo F-1.3
Diferentemente da maioria das réplicas brasileiras, que
usavam propulsores Volkswagen refrigerados a ar, o Dardo F-1.3 era movido pelo
motor 1.3 do Fiat 147 Rallye (teve também uma versão 1.5, com 96 cavalos de
potência). Fabricada pela Corona S/A (subsidiária do Grupo Caloi) a partir de
1979, era uma cópia muito parecida do esportivo Fiat X 1/9. Foi o primeiro
automóvel brasileiro com motor central-traseiro. Era tão bem feito que chegou a
ser comercializado pela rede de concessionárias da Fiat no Brasil. Mudou de
fabricante, mas seguiu em produção até 1985.
Avallone A-11
Construído pelo piloto e industrial Antonio Carlos Avallone,
era cópia do MG TF inglês de 1953. Utilizava mecânica Chevrolet – do Chevette,
do Opala e do Monza. O motor era instalado na frente, como no original. Mas,
diferentemente do modelo britânico, que vinha com portas do tipo “suicidas”, as
portas do A-11 eram convencionais. Foi montado sobre chassi próprio, com quatro
longarinas paralelas, e possuía excelente acabamento, com volante “banjo” e
painel de madeira.
Kübelwagen
Réplica mais recente do utilitário alemão da Segunda Guerra,
produzido pela Penatti-Baja, de Itú, São Paulo, é construído em chapas
metálicas com capô e paralamas em plástico. Um divertido jipinho para uso fora
do asfalto.
Alfa Romeo
8C e Bugatti 35B
Inspirados nos carros europeus de competição da década de
1930, com motores Volkswagen boxer a ar montados na traseira. Foram
desenvolvidos pela L’Autocraft e até hoje fazem muito sucesso nos encontros de
veículos clássicos.
XK 120 Coupé e XK 120 Roadster
Produzidos ainda hoje pela Americar em suas fábricas no
Brasil e nos EUA, esses dois modelos inspirados em clássicos Jaguar dos anos
1950 são construídos em plástico reforçado com fibra de vidro sobre chassi
tubular. São movidos pelo potente motor GM V8 de 5,7 litros, que gera 350
cavalos de potência, e estão equipados com câmbio automático TH 350.
Classic 427 e Classic 427 RS
Também produzidos ainda hoje pela Americar, têm por modelo o
clássico norte-americano AC Cobra, construído pelo piloto Carroll Shelby nos
anos 1960. São feitos em plástico reforçado com fibra de vidro sobre chassi
tubular e utilizam o potente motor Ford V8 de 5 litros e câmbio Tremec T5 de
cinco marchas.
Fotografias:
Eduardo Scaravaglione
Irineu Guarnier Filho é brasileiro, jornalista especializado em agronegócios e vinhos, e um entusiasta do mundo automóvel. Trabalhou 16 anos num canal de televisão filiado à Rede Globo. Actualmente colabora com algumas publicações brasileiras, como a Plant Project e a Vinho Magazine. Como antigomobilista já escreveu sobre automóveis clássicos para blogues e revistas brasileiras, restaurou e coleccionou automóveis antigos.
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