Agentes da PF
na sede de São Paulo da Odebrecht, na fase Acarajé
Documentos apreendidos pela Polícia Federal
listam possíveis repasses da Odebrecht para mais de 200 políticos de 24
partidos políticos.
É o mais completo acervo do que pode ser a contabilidade
paralela descoberta e revelada ontem (22.mar.2016) pela força-tarefa da
Operação Lava Jato.
As planilhas estavam com Benedicto Barbosa Silva Júnior, presidente da Odebrecht
Infraestrutura, e conhecido no mundo empresarial como ''BJ''. ,
Foram apreendidas
na 23ª fase da operação Lava Jato, batizada de “Acarajé”, realizada no dia
22.fev.2016.
Como eram de uma operação de 1 mês atrás e
só foram divulgados ontem (22.mar) pela Polícia Federal, os documentos acabaram
não sendo mencionados no noticiário sobre a Lava Jato.
[No início da tarde desta 4ª
feira (23.mar), o juiz Sérgio Moro determinou que esse material fosse
colocado sob sigilo. O UOL teve acesso às informações
quando os dados estavam públicos].
As planilhas são riquíssimas em detalhes
–embora os nomes dos políticos e os valores relacionados não devam ser
automaticamente considerados como prova de que houve dinheiro de caixa 2 da
empreiteira para os citados.
São indícios que serão esclarecidos no curso das investigações
da Lava Jato.
Os documentos relacionam nomes da oposição
e do governo. São mencionados, por exemplo, Aécio Neves (PSDB-MG), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Campos (PSB), morto em 2014, entre vários
outros.
A apuração é dos repórteres do UOL André
Shalders e Mateus
Netzel. Eis exemplos de planilhas
apreendidas (clique
nas imagens para ampliar):
Uma das tabelas de Benedicto Barbosa Jr, o BJ, da Odebrecht
Na planilha, Renan é ''atleta''; Eduardo Paes, ''nervosinho''; Sérgio Cabral, ''próximus''.
O material da Odebrecht é farto em nomes da oposição
A maior parte do acervo é formada por
tabelas com menções a políticos e a partidos.
Os documentos, como se observa nas imagens
acima, trazem nomes, cargos, partidos, valores recebidos e até apelidos atribuídos
aos citados.
Algumas planilhas parecem fazer menção a
doações de campanha registradas no TSE. Há CNPJs e números de contas usadas
pelos partidos em 2010, por exemplo.
Parte significativa da contabilidade se
refere à campanha eleitoral de 2012, quando foram eleitos prefeitos e
vereadores.
As informações declaradas no SPCE (Sistema de
Prestação de Contas Eleitorais, do TSE) desse ano não correspondem às dispostas
nas tabelas.
Na planilha acima, por exemplo, as siglas OTP e FOZ aparecem
assinaladas ao lado de diversos candidatos, mas nem Odebrecht TransPort nem Odebrecht Ambiental (Foz do Brasil) realizaram doações
registradas naquela eleição.
Em 2012, a Construtora Norberto Odebrecht
doou R$ 25.490.000 para partidos e comitês de campanha e apenas R$50 mil para
uma candidatura em particular –a de Luiz Marinho, candidato do PT à prefeitura
de São Bernardo do Campo (SP).
Em 2014, a soma de doações da construtora foi de
R$ 48.478.100, divididos entre candidaturas individuais e comitês dos partidos.
Em 2010, o total foi de R$ 5,9 milhões, apenas
para partidos e comitês de campanha.
APELIDOS
Eis
alguns apelidos atribuídos aos políticos nos documentos da Odebrecht, vários
com conteúdo derrogatório.
As grafias foram mantidas tais como estão nas
tabelas da empreiteira (clique na imagem para ampliar):
COPA E LEBLON
A papelada que serve de base para este post foi apreendida por 4 equipes da PF em 2 endereços ligados a Benedicto Barbosa Jr. no Rio de Janeiro nos bairros do Leblon e de Copacabana.
A papelada que serve de base para este post foi apreendida por 4 equipes da PF em 2 endereços ligados a Benedicto Barbosa Jr. no Rio de Janeiro nos bairros do Leblon e de Copacabana.
Além das tabelas, há dezenas de bilhetes
manuscritos, comprovantes bancários e textos impressos. Alguns dos bilhetes
fazem menção a obras públicas, como a Linha 3 do Metrô do Rio.
Um dos textos refere-se, de forma cifrada,
às regras internas de funcionamento do cartel de empreiteiras da Lava Jato.
O
grupo é chamado de “Sport Club Unidos Venceremos”.
O juiz federal Sérgio Moro liberou ontem
(22.mar.2016) o acesso ao material apreendido com outros alvos da Acarajé.
São
públicos os documentos apreendidos com Mônica Moura, mulher do publicitário
João Santana, e com o doleiro Zwi Skornicki, entre outros.
ÍNTEGRA DOS DOCUMENTOS
Clique aqui para saber em qual documento e
página cada político é
mencionado. Depois, escolha o arquivo correspondente na lista abaixo:
OUTRO LADOA Odebrecht foi procurada pelo Blog. Nesta 4ª (23.mar.2016), a assessoria da empreiteira enviou esta nota:
''A empresa e seus integrantes têm prestado todo o auxílio às autoridades nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários''.
Os políticos citados já procurados por causa de outras reportagens negam ter recebido doações ilegais em suas campanhas.
As respostas recebidas pelo Blogou publicadas pelos políticos estão listadas abaixo.
Aécio Neves (senador, PSDB-MG): o presidente nacional do PSDB declarou que o dinheiro recebido está todo declarado.
Eduardo Cunha (presidente da Câmara, PMDB-RJ): “Não me recordo com quem conversava. Efetivamente, houve [doação].
Tinha reunião de várias pessoas do PMDB com representantes deles [Odebrecht] para pedir a doação”.
Jorge Samek (diretor-geral da Itaipu Binacional): ''Causou-me profunda perplexidade e indignação ver meu nome na lista de possíveis beneficiados de doações eleitorais ou de qualquer valor proveniente da Odebrecht. Refuto veementemente a veracidade da menção ao meu nome. Tomarei, imediatamente, todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis para restabelecer a verdade dos fatos e responsabilizar aqueles que contribuíram para esse calunioso, difamatório e injurioso ataque ao meu nome.
Não fui candidato ao cargo de Prefeito de Foz do Iguaçu, o que, por si só, demonstra a mentira representada pela menção ao meu nome. Nunca tive qualquer contato e sequer conheço o Sr. Benedicto Barbosa da Silva Neto.
A Itaipu Binacional, por sua vez, não tem, pelo menos desde 2003,
quando assumi o cargo de Diretor-Geral Brasileiro, qualquer relação comercial
ou civil com a Odebrecht. Desde já, coloco-me à disposição das autoridades
competentes, abrindo mão do meu direito constitucional ao sigilo fiscal e
bancário para provar a minha idoneidade.
Esclareço que o último cargo eletivo que disputei foi o de
Deputado Federal, em 2002, para o qual fui eleito, mas renunciei, no dia 21 de
janeiro de 2003, para assumir o cargo de Diretor-Geral da Itaipu Binacional.
Nesta eleição, também não recebi qualquer doação financeira da Odebrecht''.
Paulo Garcia (prefeito de Goiânia, PT-GO ): ''Na campanha eleitoral de 2012,
quando fui candidato à reeleição, declarei todos os gastos e todas as
arrecadações ao TRE conforme manda a legislação. No site do TSE é possível ver
a lista de todos os doadores da minha campanha. Essa prestação de contas já foi
devidamente aprovada. Afirmo com convicção que, nem na campanha eleitoral de
2012, e em nenhuma outra campanha que participei, recebi qualquer doação da
empresa Odebrecht ou de suas subsidiárias. Na eleição de 2012, minha campanha
recebeu a doação de R$ 3.562.500,00 do Diretório Nacional do PT, R$ 290.000,00
do Diretório Regional do PT e o restante conforme listado na prestação de
contas do TSE. O Município de Goiânia, sob a minha administração, nunca teve
nenhum serviço contratado junto a essa empresa. Reafirmo mais uma vez que todas
as despesas de minha campanha foram as declaradas ao TRE. Não pratiquei na
campanha de 2012 e em nenhuma outra quaisquer atos ilícitos.''
Rui Palmeira (prefeito de Maceió,
PSDB-AL): ''Em relação à postagem do blog
do jornalista Fernando Rodrigues, de título “Documentos da Odebrecht listam
mais de 200 políticos e valores recebidos” publicada no site UOL em 23 de
março de 2016, a assessoria de Rui Palmeira, prefeito de Maceió, afirma que:
1) Todas as doações financeiras realizadas nas eleições de 2012 em
prol da campanha do então candidato a prefeito Rui Palmeira são legais, foram
declaradas aos tribunais eleitorais e aprovadas sem ressalvas por estas Cortes.
Ademais, Rui Palmeira não é investigado em nenhuma apuração acerca de doação
ilegal em campanhas e está inteiramente à disposição para prestar quaisquer
esclarecimentos, se necessário;
2) A empresa Odebrecht não consta entre os doadores
diretos da campanha de Rui Palmeira em 2012 e a lista completa de doadores da
referida campanha pode ser consultada no site do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) na seção demonstrativa das Contas Eleitorais;
3) A mesma consulta ao site do TSE mostra que em Alagoas
o Diretório Municipal de Maceió do PSDB recebeu doação de R$ 400.000,00
(quatrocentos mil reais) oriundos da Braskem S/A, empresa controlada
pela Odebrecht. No total, o Diretório Municipal de Maceió do PSDB
recebeu 1.659.000,00 (um milhão, seiscentos e cinquenta e nove mil reais) em doações,
provenientes de diversas fontes doadoras, todas declaradas à Justiça Eleitoral.
Esta consulta mostra também que o Diretório Municipal de Maceió do
PSDB doou a campanha do então candidato a prefeito Rui Palmeira um total de R$
718.066,00 (setecentos e dezoito mil e sessenta e seis reais). Igualmente, o
Diretório Nacional do PSDB doou a esta mesma campanha eleitoral um total de R$
2.455.000,00 (dois milhões, quatrocentos e cinquenta e cinco mil reais). Os
recursos provenientes do Diretório Nacional do PSDB também têm origem de
diversas fontes doadoras;
4) Vale reforçar que no mesmo post, o próprio jornalista Fernando
Rodrigues informa que as “planilhas são riquíssimas em detalhes – embora os nomes dos políticos e
os valores relacionados não devam ser automaticamente considerados como prova
de que houve dinheiro de Caixa 2 da empreiteira para os citados (grifo nosso). São indícios que serão esclarecidos no curso das
investigações da Lava Jato''.
Vanessa Grazziotin (senadora, PC do B-AM): “Todos os recursos que recebi
nas campanhas eleitorais que participei foram legais, registrados e todas as
prestações de contas foram analisadas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Estranhei o aparecimento de meu nome numa lista que não sei como surgiu”.
Gilmar Sossella (deputado estadual,
PDT-RS): ''O deputado estadual Gilmar
Sossella (PDT) esclarece que todos os recursos recebidos em campanha constam em
sua prestação de contas que foi aprovada pela Justiça Eleitoral''.
Aloizio Mercadante (ministro da Educação), em nota:
''1. A planilha divulgada registra repasses relacionados
exclusivamente aos partidos da coligação do candidato Aloizio Mercadante, ao
governo de São Paulo em 2010.
2. A própria planilha apresenta a data do repasse, o CNPJ da conta
partidária, a agência e conta no banco oficialmente cadastradas para doações
eleitorais na campanha de 2010.
Comitê Financeiro Único PT/SP – Valor: R$ 100.000,00 – Data:
27/08/2010 – Recibo TSE nº 13001096017 – Espécie do Recurso: Transferência
Eletrônica – Doador: PRAIAMAR INDUSTRIA E COMERCIO & DISTRIBUIÇÃO LTDA
Comitê Financeiro Único PT/SP – Valor: R$ 400.000,00 – Data:
27/08/2010 – Recibo TSE nº 13001096018 – Espécie do Recurso: Transferência
Eletrônica – Doador: LEYROZ DE CAXIAS INDUSTRIA E COMERCIO & LOGISTICA LTDA
Comitê Financeiro Único PRP/SP – Valor: R$ 40.000,00 – Data:
01/10/2010 – Recibo TSE nº 44000002915 – Espécie do Recurso: Transferência
Eletrônica – Doador: LEYROZ DE CAXIAS INDUSTRIA E COMERCIO & LOGISTICA LTDA
Comitê Financeiro Único PRP/SP – Valor: R$ 10.000,00 – Data:
01/10/2010 – Recibo TSE nº 44000002916 – Espécie do Recurso: Transferência
Eletrônica – Doador: PRAIAMAR INDUSTRIA E COMERCIO & DISTRIBUIÇÃO LTDA
Ciro Tiziani Moura – Senador PTC/SP – Valor: R$ 20.000,00 – Data:
01/10/2010 – Recibo TSE nº 36000025617 – Espécie do Recurso: Transferência
Eletrônica – Doador: PRAIAMAR INDUSTRIA E COMERCIO & DISTRIBUIÇÃO LTDA
Ciro Tiziani Moura – Senador PTC/SP – Valor: R$ 80.000,00 –
Data: 01/10/2010 – Recibo TSE nº 36000025618 – Espécie do Recurso:
Transferência Eletrônica – Doador: LEYROZ DE CAXIAS INDUSTRIA E COMERCIO &
LOGISTICA LTDA
Partido Trabalhista do Brasil – Regional São Paulo – Valor: R$
50.000,00 – Data: 01/10/2010 – CNPJ nº 03.730.380/0001-08 – Banco do Brasil –
Agência 2809-6 – Conta Corrente 12.356-0
3. Essas informações são de responsabilidade exclusiva dos
partidos e não do candidato majoritário ao Governo do Estado de São Paulo,
Aloizio Mercadante. Foram devidamente declaradas nas respectivas prestações de
contas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. Não são sigilosas, pois estão disponíveis no
portal do Tribunal Superior Eleitoral, há seis anos''.
Outras reações:
Renan Calheiros (PMDB-AL, presidente do
Senado), em coletiva de imprensa: ''Mais
uma vez, nunca cometi impropriedade. Essas citações, do ponto de vista da
prova, não significam nada, absolutamente nada. Sempre me coloquei à
disposição, sempre tomei iniciativa para pedir qualquer investigação que
cobram. Acho que a diferença é exatamente essa, é ter as respostas'',
disse.
Humberto Costa (PT-PE, líder do governo
no Senado), em nota: ''Como consta da prestação de
contas aprovada pela Justiça Eleitoral, não houve qualquer doação da Odebrecht
à campanha de Humberto daquele ano''.
Romero Jucá (PMDB-RR, senador), em
nota: “A
assessoria de imprensa do senador Romero Jucá informa que o TSE aprovou, sem
ressalvas, todas as doações de campanha do parlamentar”.
Ana Amélia (PP-RS, senadora), em
nota: “Esclareço
que as doações oriundas da empresa Braskem, subsidiária desse grupo e com
atuação conhecida no Rio Grande do Sul, foram feitas ao Diretório Nacional do
Partido Progressista, o qual repassou para a minha conta de campanha no Senado,
em 2010, parte desses recursos”.
Luiz Fernando Pezão (PMDB, governador do Estado do Rio), em nota: “As
contribuições feitas às suas campanhas eleitorais ocorreram de acordo com a
lei. Além disso, todas as contas foram aprovadas pelo Tribunal Regional
Eleitoral”.
Jorge Picciani (PMDB, deputado estadual e
presidente da Assembleia do Rio), em nota: “Nas eleições municipais de
2012, ele não concorreu a nenhum cargo público. Na eleição de 2014, quando foi
eleito deputado estadual, não constam doações da empreiteira ao candidato, nem
de forma direta nem indireta, via partido”.
Picciani também repudiou o apelido recebido
–na planilha, ele é chamado de “Grego”. “Picciani nunca foi chamado de
grego. Até porque sua ascendência vem da Itália e da Síria – e não da Grécia”,
diz um trecho.
Mendonça Filho (DEM-PE, deputado
federal), ao Valor Econômico:
“É
importante separar a doação empresarial legal, permitida pela então Lei
Eleitoral, e contribuições ilegais derivadas de corrupção, as quais são
investigadas pela Operação Lava-Jato”, diz.
FONTE http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2016/03/23/documentos-da-odebrecht-listam-mais-de-200-politicos-e-valores-recebidos/
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