O empresário Emílio Odebrecht se reuniu ao longo da semana no Windsor Plaza Brasília com os advogados que participam das negociações da delação do grupo
O empresário Emílio Odebrecht, patriarca do grupo
Odebrecht, se reuniu ao longo da semana na cobertura do Windsor Plaza
Brasília com os advogados que participam das negociações daquela que pode se
tornar a mais explosiva delação premiada da Operação Lava Jato, segundo
reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.
Da
janela, em reuniões que entram madrugada adentro, regadas a água, café e vinho
branco, os participantes podiam avistar o lugar onde tudo começou, dois
anos e sete meses atrás: o Posto da Torre, que deu nome à operação e levou a
Polícia Federal até a contabilidade secreta do doleiro Alberto Youssef.
No Windsor, Emílio permanecia o tempo todo com a filha Mônica e o marido dela,
Maurício Ferro – responsável pela área jurídica do conglomerado -, e Newton de
Souza, atual presidente do grupo.
São eles que ditam os rumos da tentativa de
acordo com a Procuradoria-Geral da República, para que Marcelo, filho de
Emílio, e cerca de 50 executivos confessem seus crimes em troca de punições
menores.
A cena se repetiu várias vezes ao longo da semana e foi
acompanhada pela equipe do jornal, hospedada no Windsor.
A Odebrecht alugou
espaços para reuniões e quartos para as cerca de 20 pessoas que participaram
das negociações na sede da PGR.
Além do local para as conversas internas, o
grupo ocupava um lounge anexo, onde permaneciam duas secretárias prontas para
resolver qualquer problema de logística dos presentes, e um refeitório com TV e
buffet variado.
O acesso ao buffet está disponível a qualquer hóspede mediante
o pagamento de uma taxa extra.
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O Windsor Plaza transformou-se em um “bunker” da
empreiteira número 1 da América Latina, que tenta fechar um dos maiores acordos
judiciais já assinado no mundo – o Ministério Público quer impor uma multa de
ao menos R$ 6 bilhões.
Marcelo, que era presidente do grupo até sua prisão, um
ano e quatro meses atrás, e os executivos estão dispostos a contar os
bastidores da distribuição de milhões de reais em propina para “conquistar”
obras e apoio político nos governos federal, estaduais e municipais e outros ilícitos
cometidos em diversos outros países.
Em contrapartida, além de terem as penas de seus
executivos diminuídas, a empresa tenta virar a página dessa história que a
arrastou para um dos maiores escândalos de corrupção do mundo.
Os advogados são
orientados a manter sigilo sobre a negociação e, principalmente, o conteúdo dos
depoimentos.
Seleção
As negociações não têm sido fáceis e o clima de tensão
domina a cobertura do hotel.
Descontração apenas em alguns momentos, como o da
quinta-feira à noite, quando os advogados e Emílio esqueceram o trabalho por
minutos para acompanhar a goleada da seleção brasileira sobre a Bolívia pelas
Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.
“Nunca na minha vida achei que ia ter que negociar
assim”, comentava uma advogada com os colegas, enquanto o Brasil marcava seu
segundo gol e iniciava a primeira goleada da era Tite.
Nesse mesmo dia, Emílio
ficou das 18 horas até perto de meia-noite entre uma conversa e outra.
Parou só
para pedir uma salada caprese – sem folhas, mas com reforço na muçarela de
búfala – e conferir o placar do jogo do Brasil.
Segundo o jornal, uma das negociações mais duras
envolve Marcelo Odebrecht.
Investigadores consideram que o caso do mais
poderoso e rico dos executivos presos na Lava Jato deve servir de exemplo
contra a impunidade.
Exigem mais quatro anos de regime fechado para o
ex-presidente da empresa, à frente da companhia entre 2009 e 2015, e
responsável pela criação do setor de operações estruturadas – popularmente
conhecido como departamento da propina.
A meta dos advogados coordenados pelo
criminalista Theodomiro Dias Neto, o Theo Dias, é convencer os investigadores
de que o executivo já passou muito tempo na prisão e tentar reduzir a pena de
reclusão para dois anos e meio – já descontado o ano e quatro meses cumprido na
carceragem da PF de Curitiba.
A delação de Marcelo, mais do que qualquer outra, provoca
terror no meio político com potencial para derrubar líderes que ainda se
sustentam após dois anos e sete meses de investigação ininterrupta.
Enquanto
bebia um vinho, um dos advogados previa muitas operações após o acordo.
Os
executivos têm sido divididos em faixas pela PGR, por características comuns
dos crimes.
Marcelo tem uma faixa única. E seu pai concentra todos os esforços
em Brasília para diminuir o tempo do filho atrás das grades.
“Minha mãe pediu
para nós dois, eu e meu pai, não viajarmos no mesmo avião.
Mas meu pai não vai
embora antes, ele não vai embora deixando a gente aqui”, dizia Mônica aos
advogados, na manhã de ontem, quando todos fizeram as malas para deixar
Brasília, ainda sem conseguir assinar o acordo de Marcelo.
“Na manhã foi ruim. Mas à tarde, dado o contexto, foi
bom”, comentava um advogado recém-chegado das conversas com procuradores aos
colegas, no início da noite de anteontem.
Nem todos sentam à mesa de negociação
com o grupo de trabalho do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Um dos
que encararam negociações de madrugada chegou faminto para o café da manhã do
hotel. “Eu não jantei.”
Depois explicou: “Se você negocia só um é fácil. Se
você negocia 50, cada um tem um caso.
‘Olha, minha mãe está doente’, ‘meu filho
é menor de idade’…”, disse ao dar as justificativas dos executivos aos
investigadores para terem suas penas reduzidas.
No total, 53 executivos negociam a colaboração.
Anteontem, pelo menos 15 casos teriam sido fechados segundo as conversas dos
presentes no último andar do hotel.
Entre eles, o do ex-diretor financeiro da
empresa César Ramos Rocha. Com seu acordo fechado e com um envelope pardo com
logo oficial em mãos, o executivo se preparava para chegar a um acordo com uma
pena de oito meses.
Tempo
Embora estivesse prevista para ontem, a assinatura de
todos os acordos ainda deve levar ao menos mais uma semana. Há casos
considerados mais simples, como o de Benedicto Barbosa Júnior, ex-presidente da
Odebrecht Infraestrutura, e outros, emperrados.
Uma das negociações travadas é
a de Alexandrino Alencar. Ele foi diretor de Relações Institucionais da empresa
e vice-presidente da Braskem.
Alencar tinha contato direto com líderes
políticos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem foi
flagrado em conversas interceptadas pela Polícia Federal.
Por isso, é
pressionado a entregar mais informações.
As conversas refletem a quantidade de advogados atuantes
na negociação, vindos de bancas criminalistas de São Paulo, Rio, Paraná,
Brasília e do corpo jurídico da própria empreiteira, que tem sede na Bahia.
Apesar da diversidade de advogados, o objetivo é um só e transparece na frase
mais ouvida nas conversas travadas na cobertura do Windsor Plaza: “Virar a página
da empresa”. Para isso,
Emílio negocia, advogados estendem reuniões na
Procuradoria-Geral da República e a irmã de Marcelo pede a uma das integrantes
da equipe:
“Não vamos desistir agora”
(Com Estadão Conteúdo)
http://veja.abril.com.br/brasil/hotel-de-brasilia-vira-qg-de-delacao-da-odebrecht/

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