À polícia, Lula escondeu relação com “amigo” da Odebrecht. O ex-presidente disse que não conhecia diretor da Odebrecht para o qual enviou de presente uma camisa do Corinthians autografada. Matéria assinada pelo jornalista Thiago Bronzatto.
No dia 13 de setembro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
entrou discretamente no prédio da Polícia Federal em Santos, litoral paulista.
Acompanhado por quatro advogados, o petista foi convocado para esclarecer
negócios suspeitos em Angola envolvendo o seu sobrinho Taiguara Rodrigues dos
Santos, o BNDES e a construtora Odebrecht. No longo interrogatório, resumido em
cinco páginas e conduzido pela delegada Fernanda Costa de Oliveira, Lula
escondeu uma informação relevante.
Indagado sobre as suas relações com a Odebrecht, o
ex-presidente disse que não conhece o executivo Ernesto Sá Vieira Baiardi,
diretor internacional da construtora e responsável por mercados como Angola,
onde o sobrinho do ex-presidente ganhou um contrato milionário com a
empreiteira. O petista é cabalmente desmentido pelos documentos que
integram os autos: conforme VEJA revelou em sua mais recente edição, a PF
descobriu no computador de Taiguara Rodrigues uma foto de uma camisa do
Corinthians autografada pelo ex-presidente “ao amigo” Ernesto Baiardi. Veja a
imagem:


Telegramas reservados do Itamaraty também revelam que Baiardi
participou como “representante mais sênior da Odebrecht” de uma comitiva de
empreiteiros numa viagem de Lula para Malabo, capital da Guiné Equatorial, em
março de 2013. Numa reunião com o ex-presidente, da qual também participou Léo
Pinheiro, da construtora OAS, os empresários criticaram a morosidade do
processo de liberação de crédito de instituições financeiras estatais como o
BNDES e o Banco do Brasil para as companhias brasileiras desenvolverem seus
projetos na África. Naquela ocasião, a Odebrecht pagou 316.125 dólares para
fretar a aeronave que transportou Lula para o país africano.
A PF suspeita que Lula influenciava o BNDES a abrir os seus
cofres para financiar as obras da Odebrecht no exterior. Os investigadores
identificaram que de 2011 a 2014 ocorreram ao menos oito encontros entre o
ex-presidente e Luciano Coutinho, seu apaniguado no comando do BNDES. Algumas
dessas reuniões ocorreram na sede do Instituto Lula, em São Paulo, em datas
próximas às viagens do ex-presidente ao exterior. Em seu depoimento, Lula dá
a sua versão: “Perguntado sobre a razão do BNDES estar presente (nas
reuniões no Instituto Lula), (Lula) respondeu (que) por se tratar de assuntos
referentes a crescimento e desenvolvimento, havia a necessidade de participação
do BNDES… Que então não era pauta dessas reuniões financiamentos específicos do
BNDES”.
A PF não se convenceu da resposta do ex-presidente: “Tendo em
vista que o Instituto Lula tem por missão e objeto social, dentre outros, a
‘cooperação do Brasil com a África e a América Latina’, não demanda grande
esforço intelectual concluir que as diversas reuniões realizadas com o
presidente do BNDES trataram, em algum momento, dos financiamentos concedidos
pela empresa pública federal aos países visitados por Luiz Inácio Lula da
Silva. Não se vislumbra outros assuntos comuns às entidades que pudessem ser
tratados nestes encontros”, diz o relatório de indiciamento do petista.
Para os investigadores, Lula era o “verdadeiro lobista da
Odebrecht”. O ex-presidente recebeu da construtora 7,6 milhões de reais em sua
empresa de palestras L.I.L.S. e em doações ao Instituto Lula. Quando
questionado por que empreiteiras como a Odebrecht contratavam as suas palestras
no exterior, o ex-presidente respondeu que o objetivo era “apresentar o êxito
que o Brasil obteve, através de políticas de desenvolvimento e políticas sociais”.
A delegada, então, quis saber: se era esse o propósito, por que Lula deixou de
realizar as tais palestras? “A crise mundial fez com que o declarante
repensasse e avaliasse um novo momento para a realização dessas palestras e
estratégias a serem apresentada”, respondeu o petista.

Nesta segunda-feira, Lula foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de tráfico de influência,
organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Além do
ex-presidente, o seu sobrinho também foi acusado de organização criminosa e
lavagem de dinheiro. Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava-Jato, foi
denunciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa.
Outros oito investigados também foram denunciados pelos crimes de lavagem de
dinheiro. Caberá agora à Justiça Federal no Distrito Federal decidir se
acolherá a acusação do MPF.
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