A torcida é grande, e ganha mais e mais adeptos, por ora silenciosos, entre os deputados que votaram duas vezes para impedir que o Supremo Tribunal Federal investigasse o presidente Michel Temer por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Se chegar à Câmara a tempo de ser votada uma terceira denuncia contra Temer, ele que se prepare para o pior.
Deputados que perderam muitos votos para se reeleger por terem garantido a sobrevivência de Temer, agora estão dispostos a largá-lo de mão.
“Quem sabe o que vai acontecer é o ministro Luís Roberto Barroso”, observa, cauteloso, um líder de partido da base de apoio a Temer com quem conversei há algumas horas. “Se ele autorizou as prisões que ocorreram hoje, é porque a coisa tem tudo para ficar feia”.
A “coisa” é a situação de Temer, que aos poucos vai sendo supliciado pelo torniquete da Lava Jato.
Ela já ficou feia depois que foram presos o advogado José Yunes, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, e o faz tudo de Temer há mais de 40 anos, o coronel Lima.
Os três, mas não somente eles, estão sendo investigados no caso de uma Medida Provisória assinada por Temer que beneficiou, ou poderia ter beneficiado, a empresa Rodrimar, que atua na área de portos.
Temer sempre teve um interesse especial pelo mar.
A “Operação Estanca, Lava Jato!” vinha muito bem, obrigado. Em sua fase mais recente, ganhara impulso com o anúncio feito pelo ministro Gilmar Mendes de que mudara de posição quanto à prisão imediata de condenado em segunda instância da Justiça.
No mundo civilizado, prende-se em primeira e segunda instância, lembrou Gilmar há quase dois anos ao votar a favor.
Continua a ser assim no mundo civilizado. Mas se depender de Gilmar, no Brasil deixará de ser assim. Por quê? Só sabem Deus, Gilmar e talvez Temer.
Em dezembro último, a “Estanca, Lava Jato!” deu um enorme salto de ousadia.
Foi quando Temer assinou o decreto de indulto de Natal. Ele permitiria a redução de penas de condenados em até 80%, e a anistia de multas em dinheiro que eles estivessem obrigados a pagar.
Mamão com açúcar direto na veia de quem estivesse ou doravante fosse preso. E sem sequer distinguir entre delinquentes comuns e delinquentes de terno e gravata, ou de tailleur.
O decreto foi suspenso em parte pela ministra Cármen Lúcia. E a suspensão confirmada mais tarde por Barroso.
O contragolpe ao golpe desenhado passou pela queda do diretor-geral da Polícia Federal para quem uma mala de dinheiro não passa de uma mala, pela prorrogação do inquérito para apurar o suposto benefício à Rodrimar, e pela autorização para que o nome de Temer fosse incluído no inquérito.
Houve, é claro, reações ao contragolpe que, assim como o golpe, ainda está longe de poder se considerar vitorioso.
Ministro do governo ameaçou Barroso com um pedido de impeachment. E o Supremo Tribunal Federal deu um salvo conduto para que Lula não fosse preso.
Na próxima semana, o Supremo será palco de mais uma batalha entre os partidários da Lava Jato e os que querem vê-la desmontada ou enfraquecida.
Não assumam compromissos na tarde desse dia. Reservem os melhores lugares diante de um aparelho de tv. Ou vão assistir nas ruas.
O julgamento do pedido de habeas corpus para Lula promete fortes emoções e será mais um programa líder de audiência.
Mas não deixe que ele desperte seus instintos mais primitivos.
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