A Rússia está a preparar um mega-exercício para se desligar da World Wide Web. Uma experiência que visa saber como é que o país se pode desligar da Internet mundial, para se proteger de um eventual ciberataque global, mas também para aferir como poderá censurar os conteúdos a que os russos têm acesso.
Relatos dos media russos apontam que decorrem já exercícios no sentido de desligar o país da Internet mundial ao abrigo do Programa Nacional de Economia Digital que foi lançado pelo Governo da Rússia em Dezembro passado.
O grande objectivo é perceber “se os dados usados pelos utilizadores russos podem ficar dentro das fronteiras russas“, como constata o site Gizmodo. Mas, em última instância, a ideia do Governo russo será perceber de que forma e até onde pode exercer controlo sobre a Internet.
A BBC e o site ZDNet adiantam que o exercício pretende levar os fornecedores de serviços de Internet da Rússia a cortarem a ligação do país com o resto do mundo. Assim, conseguirá aferir-se se a rede de Internet da Rússia, a Runet, poderá funcionar de forma independente.
Este projecto russo surge depois de acusações feitas à Rússia sobre a responsabilidade em ciberataques e na interferência em eleições estrangeiras, nomeadamente nos EUA e em França, com a disseminação de informações falsas pela Internet.
Em 2017, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas do Reino Unido, Stuart Peach, assumiu o receio de que a Rússia corte os cabos submarinos por onde passam 97% das comunicações mundiais, o que levaria a um corte da Internet mundial.
Nesse mesmo ano, a Rússia avançou com a intenção de criar uma “Internet independente”, para direccionar 95% de todo o tráfego da Internet localmente até 2020. O país está a trabalhar no desenvolvimento de um Sistema de Nomes de Domínio (DNS ou Domain Name System) localizado, o que permitiria à Runet funcionar sem precisar de ter acesso a servidores localizados noutros países.
As experiências devem decorrer até 1 de Abril deste ano, mas ninguém sabe quando vão efectivamente acontecer.
O Programa Nacional de Economia Digital determina que os fornecedores de Internet russos devem garantir “a independência do espaço de Internet russo” no caso de haver alguma “agressão estrangeira para desligar o país do resto da Internet”, aponta o ZDNet.
Em termos concretos, obriga as empresas de serviços de Internet a implementarem “meios técnicos” para combaterem eventuais ameaças de um ataque cibernético, nomeadamente redireccionando todo o tráfego russo para pontos supervisionados pelo regulador de comunicações federais da Rússia, o Roskomnadzor que também funciona como mecanismo de censura.
“O Roskomnazor vai inspeccionar o tráfego para bloquear conteúdo proibido e garantir que o tráfego entre os utilizadores russos permanece dentro do país e não é redireccionado inutilmente através de servidores no exterior, onde poderia ser interceptado”, avança o ZDNet.
O Governo russo está disposto a suportar todos os custos associados a este processo, nomeadamente para implementar uma nova infraestrutura que lhe dará mais controlo sobre a Internet dentro do país, aproximando-o do tipo de regulação de Internet que existe na China.
“A firewall da China é, provavelmente, a ferramenta de censura mais conhecida do mundo e tornou-se uma operação sofisticada”, aponta a jornalista de tecnologia da BBC, Zoe Kleinman, notando que “policia os pontos de router, usando filtros e bloqueios em palavras-chave e em certos sites, e redireccionando o tráfego web para que os computadores não possam ligar-se a sites que o Estado não quer que os cidadãos chineses vejam”.
A Rússia estará de olho num mecanismo similar como forma de exercer controlo sobre os conteúdos a que as pessoas acedem, além de prevenir uma eventual situação de ataque externo ao país, como retaliação pelos alegados ciberataques que lhe são atribuídos.
Fonte: ZAP
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