Liberação dos cassinos ganha força com a concordância de
Bolsonaro em debater o tema e com pressão do Centrão no Congresso; tema faz
reviver hotel da região nascido na época de ouro das casas de jogos.
O aceno positivo do Ministério do Turismo e a
pressão do Centrão no Congresso Nacional para liberação de cassinos no Brasil
fazem ressurgir a memória afetiva dos moradores da região de Rio Preto. Afinal
de contas, o Grande Hotel de Ibirá surgiu exatamente impulsionado na esteira
das grandes casas de jogos, quando a jogatina era legalizada no País, e embora
tenha tido vida curta em sua principal finalidade continuou por décadas como
referência principalmente para os casais apaixonados.
De portas fechadas e a exibir as chagas da
inatividade, o hotel hoje é o avesso do charme que ostentou um dia, quando
povoava o imaginário principalmente de jovens enamorados. A ponto de, não raras
vezes, pares românticos recorrerem ao "Porta da Esperança" - um dos
programas clássicos e de maior sucesso de Silvio Santos nos anos 1980 - para
realizarem o sonho de passarem a lua de mel no Grande Hotel.
Na quarta-feira desta semana, dia 27, deputados
federais do grupo conhecido como Centrão consultaram o presidente Jair
Bolsonaro se o governo apoiaria um projeto com este teor, mas não receberam
dele uma resposta definitiva. Bolsonaro disse aos interlocutores que, antes,
seria preciso consultar a bancada evangélica - que é contra o projeto, mas já
admite discutir uma alternativa. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella
(Republicanos), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus - uma
forte aliada bolsonarista -, por exemplo, defende a autorização do jogo de
azar, mas apenas para estrangeiros.
Bolsonaro avisou, no entanto, que não concorda com a
liberação do caça níquel porque "pais de família" podem usar o
dinheiro do salário para jogar. Mesmo sendo contrário aos jogos, o presidente
já deu sinais de que há a possibilidade de deixar cada Estado decidir o assunto
por conta própria.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio,
engrossa os coros dos que defendem a discussão no Congresso sobre a
possibilidade de liberação das casas de apostas. "Hoje, 93% dos países da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já têm
cassinos integrados a resorts. Isso já é uma realidade", afirmou o
ministro, também esta semana. "É inevitável que o tema seja discutido nos
próximos meses no País", declarou.
Ao anunciar uma medida provisória para a área
turística, o ministro afirmou que o Brasil recebe atualmente cerca de 6,6
milhões de turistas estrangeiros por ano, e a liberação dos cassinos pode
ajudar a elevar essa quantidade para até 20 milhões. "O impacto será
considerável na economia do País", argumentou Álvaro Antônio.
Questionado sobre as avaliações de que a liberação
dos cassinos pode facilitar crimes como a lavagem de dinheiro, o ministro
respondeu que o tema precisa ser debatido entre o Parlamento e a sociedade, com
a participação dos ministérios da Justiça e da Economia. "Gostaria de
envolver a Polícia Federal e a Receita Federal para apresentarmos um projeto
desmistificando muitas situações que não condizem com a verdade, como evasão de
divisas e lavagem de dinheiro", completou.
Um projeto de lei com relatório apresentado em 2016,
autorizando a exploração de jogos de azar em todo o território nacional, está
pronto para votação em plenário. Duas propostas com conteúdo defendido pelo
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foram anexadas ao mesmo texto e
ele se mostra inclinado a pautar a medida. Maia, inclusive, é favorável à
abertura de cassinos desde que restritos a resorts.
O coordenador da Frente Parlamentar Evangélica na
Câmara, Silas Câmara (Republicanos-AM), disse que o grupo - formado por 195 dos
513 deputados - é majoritariamente contra a ideia, mas não descartou o debate
de opções. "A bancada ouviria, dependendo de quem vier com a
explicação", afirmou Câmara, citando o exemplo do prefeito do Rio.
"Sendo ele [Crivella] um evangélico, não seria difícil ouvi-lo. A gente
dialoga. Agora, dialogar e trazer uma proposta que não seja correta é
complicado", completou.
(Com Agência Estado)
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