Ao longo da história, diversos
cientistas e futurólogos fizeram previsões muitas vezes certeiras para os anos
que vinham. Para 2020, no entanto, se enganaram terrivelmente.
Os avanços tecnológicos têm acontecido
em um ritmo até que rápido. Mas, alcançando a terceira década do século 21,
onde pensamos que estaríamos?
De acordo com
alguns especialistas, sendo conduzidos por macacos choferes, passeando em
Plutão e tendo nossas roupas lavadas por robôs. Creio que não é preciso avisar
que não estamos nem perto disso.
Confira algumas das previsões furadas para
2020:
Revolução robótica
A preocupação de que os robôs tomariam
todos os nossos empregos não é nova. “Futuristas e especialistas em tecnologia
dizem que robôs e inteligência artificial de vários tipos se tornarão parte
aceita da vida cotidiana até 2020 e assumirão quase completamente o trabalho físico”,
observou um artigo da Universidade Elon em 2006.
Já o futurologista britânico Ian
Pearson previu ao jornal Observer, do Reino Unido, em 2005: “É
minha conclusão que é possível criar um computador consciente com níveis de
inteligência sobre-humanos antes de 2020. Definitivamente teria emoções. Se
estou em um avião, quero que o computador tenha mais medo de cair do que eu, de
modo que faz de tudo para ficar no ar”.
Bom, os robôs ainda não estão tão
inteligentes e emocionais assim. O próprio Pearson confessou à CNN recentemente
que as coisas não avançaram tão rápido quanto ele pensava.
“A IA estava se desenvolvendo muito
rapidamente no início do século, então tínhamos previsões de que até 2015
teríamos máquinas conscientes mais inteligentes que as pessoas. Houve uma
grande recessão e isso atrasou um pouco as coisas”, disse. “Eu estimaria que a
IA provavelmente progrediu cerca de 35 ou 40% mais lentamente do que
esperávamos”.
Já a questão
trabalhista é um pouco mais complexa. Robôs ainda não tomaram todos os empregos
possíveis do mundo, mas já existem algumas fábricas totalmente robotizadas. O
MIT Technology Review fez uma busca de artigos sobre o efeito da automação na
força de trabalho que sugeriu desde um deslocamento moderado de empregos até
uma automação total da força de trabalho, com graus variados de preocupação.
Dispositivos implantáveis e outras tecnologias
Outra previsão de Pearson, feita em
2009, é de que já estaríamos usando eletrônicos implantados em nossos corpos
para monitorar nossa saúde.
O dispositivo também poderia “registrar
sinais a partir de nossos nervos e talvez os ‘injetar’ na nossa pele novamente
em uma data posterior”, por exemplo, reproduzindo com eficácia a sensação de
abraçar seu parceiro quando você estivesse longe.
Apesar de tal eletrônico não existir
ainda, Pearson disse à CNN que não é uma tecnologia difícil de criar. “Pudemos
ver como fazer isso há quase 20 anos, mas não aconteceu porque poucos
engenheiros ou empresas decidiram se aprofundar nessas áreas”, afirmou.
O futurista disse ainda que cerca de
85% de suas previsões se tornam realidade, citando mensagens de texto e o
domínio das mídias sociais entre seus melhores palpites.
Já o futurista Ray Kurzweil previu em
2000 que os computadores seriam “praticamente invisíveis” e “embutidos em todos
os lugares – paredes, mesas, cadeiras, mesas, roupas, joias e corpos” até 2020.
Ele foi um dos
poucos especialistas a prever a existência de óculos inteligentes ou lentes de
contato que substituíssem telefones. De fato, o Google fez uma tentativa nessa
direção, mas o produto não pegou.
Alimentação
Kurzweil também
previu em diversas ocasiões que o consumo de alimentos acabaria até 2020.
“Bilhões de nanobots minúsculos no trato
digestivo e na corrente sanguínea poderiam extrair inteligentemente os
nutrientes de que precisamos”, escreveu em seu livro Fantastic Voyage: Live Long Enough to
Live Forever (Rodale Books, 2004).
Não colou – seres humanos ainda amam mastigar e comer.
Uma outra previsão sobre nosso consumo de
alimentos está mais perto da realidade, no entanto: em uma edição de 1913 do
jornal New
York Times, o então presidente da agora extinta American Meat
Packers Association, uma associação da indústria da carne, publicou um artigo
intitulado “Ameaçando-nos com o vegetarianismo”.
O texto alertava sobre “um futuro sombrio” no
qual os americanos renunciavam à carne e começavam a viver de “arroz e legumes”
no século 21. Essa perspectiva só poderia ser evitada “educando o fazendeiro
americano sobre a necessidade de criar mais gado”.
Realmente, o vegetarianismo e o veganismo estão
se tornando cada vez mais populares em vários países. A comunidade científica
tem colaborado com essa tendência ao informar o público sobre o impacto da
carne na crise climática.
Votos e assinaturas
Peter Schwartz e
Peter Leyden previram em um artigo no portal Wired de 1997 que as
pessoas poderiam votar para as eleições a partir de suas casas. É, não.
E Eric Haseltine escreveu na revista Discover em
2000 que assinaturas escritas seriam “consideradas pitorescas” até 2020,
substituídas por identificações biométricas, incluindo íris, impressões
digitais e sistemas de reconhecimento de voz. Smartphones de fato usam todas
essas tecnologias, mas assinaturas ainda não foram totalmente substituídas.
Na mesma revista, Joseph D’Agnese previu que
não poderíamos embarcar em um avião ou acessar nossas casas sem lasers medindo
nossas írises nos dias de hoje. E Marvin Minsky, fundador do Laboratório de
Inteligência Artificial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, EUA),
estimou a existência de um mercado negro de manipulação genética no qual as
pessoas poderiam comprar procedimentos que estendessem suas vidas e dessem
“características novas para seu cérebro” ilegalmente.
Turismo espacial
Essa é velha: férias no espaço são
previstas constantemente há décadas. Não estamos passando temporadas em hotéis
na lua ou em Marte ainda, no entanto.
“Em 2020, você verá cidadãos
circunvagando a lua”, disse Eric Anderson, da Space Adventures, ao Space.com em
2009. No mesmo site, Elon Musk, fundador da SpaceX, disse que “até 2020 haverá
planos sérios para ir a Marte com pessoas”.
Não que o turismo espacial não tenha
avançado, mas esses planos ainda não se concretizaram. Sete pessoas pagaram
para ir para o espaço durante a primeira década do século XXI, mas seus voos
turísticos orbitais foram adiados.
“Naquela época, era sempre ‘no próximo
ano, no próximo ano'”, disse o jornalista Jim Clash, que comprou uma passagem
de US$ 200.000 em um voo da Virgin Galactic em 2010. “Eu achava que, em 2020,
estaríamos executando isso como uma operação regular”.
Ainda não aconteceu, mas talvez essa decolagem
não demore tanto assim – a SpaceX revelou em 2018 que o bilionário japonês
Yusaku Maezawa será seu primeiro turista espacial, com uma viagem para a lua
marcada para 2023.
Um mundo
completamente diferente
No quesito previsões, ninguém errou tanto quanto
os 82 especialistas de diversos campos que foram convidados a apresentar
previsões para os nossos tempos pela RAND Corporation em 1964.
Segundo o relatório, estaríamos nos
comunicando com extraterrestres e viajando no tempo agora. Também viveríamos
até os 150 anos, e Marte seria um destino turístico carne de vaca, frequentado
desde meados da década de 1980. Vênus e as luas de Júpiter seriam o hype do
início do século XXI. Chegaríamos até em Plutão, que naquela época ainda era um
planeta. Além disso, formas primitivas de vida artificial seriam criadas em
laboratório, uma linguagem universal teria sido desenvolvida, e a mineração e
fabricação de materiais propulsores na lua seria comum.
A mais assustadora reivindicação desse
relatório, contudo, é de que teríamos animais como macacos criados para
realizar tarefas domésticas até 2020. Três anos depois, o químico vencedor do
Prêmio Nobel Glenn T. Seaborg comentou em Washington DC (EUA) que “durante o
século 21, as casas que não têm um robô no armário poderiam ter um macaco vivo
para fazer as tarefas de limpeza e jardinagem. Além disso, o uso de macacos bem
treinados como motoristas pode diminuir o número de acidentes de automóvel”.
Não sei nem o que dizer sobre a ideia
de transformar belos e dignos animais em choferes, apenas que felizmente essa
previsão foi a maior furada.
Ao que tudo indica, 2020 não se
parecerá com o que muitos pensavam alguns anos atrás, mas o futuro não é nada
se não imprevisível, não é mesmo? [CNN]
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