BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A cúpula do Congresso decidiu evitar um embate público com o presidente Jair Bolsonaro na mais recente crise política com o Executivo. O gesto contraria apelos de lideres partidários.
Um dos objetivos é não insuflar manifestações marcadas para 15 de março nem ampliar ataques que o Congresso tem sofrido de grupos de direita. Na pauta dos atos estão bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário.
O assunto foi tratado na quarta-feira (26) entre os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Na Câmara, a pressão é para que se agilize a análise de duas representações, também no Conselho de Ética, contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
As duas medidas, na avaliação de senadores, seriam uma forma de tentar impor limites aos Bolsonaros.
Maia e Alcolumbre conversaram por telefone após a divulgação de que o presidente havia compartilhado vídeo convocando para a manifestação. Os dois concordaram, segundo relatos de aliados, que se tratava de um episódio grave e de mais um ataque.
Inicialmente, discutiram uma reação conjunta. Maia sugeriu que subissem o tom e divulgassem notas de repúdio contundentes, a exemplo de episódios anteriores.
Alcolumbre, que costuma ter posições mais governistas, não quis aderir. Até a noite desta sexta-feira (28), estava decidido a não se manifestar.
O senador disse a aliados que o diálogo entre os Poderes não pode ser feito em uma espécie de bate-boca nas redes sociais. Maia fez questão de publicar mensagem.
Sem citar Bolsonaro, o deputado afirmou que "criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir" e que "o Brasil precisa de paz e responsabilidade para progredir."
O tom de Maia foi bem mais ameno do que o sugerido por deputados de centro e de esquerda. Eles ficaram frustrados com a declaração.
Em conversas relatadas à reportagem, o presidente da Câmara disse a alguns aliados que não é líder da oposição.
Maia também indicou que a chance de dar prosseguimento a um eventual pedido de impeachment, o que tem sido defendido por partidos de esquerda, é zero.
O deputado conversou com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, e sugeriu que houvesse uma reação conjunta e incisiva, antes de moderar o tom.
Na quarta (26), Toffoli divulgou nota em que não atacou Bolsonaro diretamente, mas falou que não há democracia sem um Parlamento atuante e um Judiciário independente.
Maia, Toffoli e Alcolumbre têm pregado a necessidade de atuar com cautela diante do modus operandi de Jair Bolsonaro.
A avaliação é que a estratégia de criar polêmicas e depois recuar é frequente no comportamento do presidente. Por isso, é mais adequado fugir daquilo que avaliam como mais uma armadilha.
O diagnóstico é que, ao confrontarem incisivamente Bolsonaro, acabam fomentando argumentos da base bolsonarista. Esse grupo, para eles, busca elementos para dizer que o Congresso atua contra o Executivo.
Nesta sexta, Maia se pronunciou novamente pelas redes sociais. Disse que conversou com o assessor especial de Paulo Guedes (ministro da Economia), Esteves Colnago, e que "o Congresso trabalha para garantir o crescimento do país e aumentar a confiança".
"Incompreensões e turbulências não vão tirar nem o foco nem a serenidade dos parlamentares", afirmou.
O silêncio de Alcolumbre foi avaliado como a melhor resposta por aliados do presidente do Senado.
Para eles, instigar o embate com Bolsonaro seria cair em uma espécie de arapuca, uma vez que as polêmicas criadas por ele servem, na opinião dos senadores, como cortina de fumaça para esconder pontos fracos do governo.
A avaliação não é unânime.
"Na vida, em especial na política, temos sempre de ter posição ou lado. Não existe espaço vago, porque, em um minuto, ele é ocupado", disse a senadora Kátia Abreu (PDT-TO).
O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), tentou conversar com Alcolumbre sobre a necessidade de uma reação, mas não conseguiu falar com o presidente da Casa.
"Não existe pauta sem defesa das instituições. É preciso defender a liberdade de expressão e evitar o desmonte da democracia. É ruim não se posicionar neste momento", afirmou Carvalho.
O presidente, nesta quinta, em live semanal nas redes sociais, cobrou do Congresso a aprovação de projetos enviados pelo governo, mas negou que tenha incitado a população a ir às ruas a protestos contra o Legislativo.
No mesmo dia, o procurador-geral da República, Augusto Aras, informou por meio de assessoria que também não irá se manifestar sobre o compartilhamento do vídeo por Bolsonaro.
Nesta sexta, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou que não há ameaças à democracia, mas que existe um "turbilhão", com a divulgação de vídeos e o calor das redes sociais, que fazem com que o governo passe por momentos de instabilidade.
"Mais uma vez, destaco que os mares não estão tranquilos. Os mares não estão tranquilos porque vídeos são divulgados, redes sociais se incandescem, as pessoas muitas vezes não raciocinam sobre o que estão escrevendo e estão discutindo, emoções são colocadas à flor da pele e parece que nós vivemos num eterno turbilhão", disse Mourão.
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