O casamento estava marcado, e para
manter a tradição, o Ford A de 1929 tinha de fazer o seu segundo casamento. Em
1973 tinha cumprido a sua função e era do interesse da família que em 2012
continuasse o seu legado.
O automóvel tinha sido restaurado nos
anos 70 pelo meu avô com os materiais e técnicas da época. Havia, portanto, um
historial no tratamento a que o Ford tinha sido sujeito ao longo dos anos. O
automóvel não estava obviamente a brilhar como se vê nos dias de hoje, tinha
uma marca aqui e ali, mas estava bom, com aquela patine característica.
O mundo dos clássicos, nomeadamente
automóveis e motas mudou consideravelmente. O modo de interpretar o objecto
pode ser visto de diferentes maneiras e ter várias interpretações. Se quisermos
vender um automóvel clássico a brilhar e anunciarmos como restaurado, à partida
teremos um número considerável de pessoas interessadas no mesmo, então se for
malta nova, aí as redes sociais falam por si, e um automóvel que brilhe tem sem
dúvida outra projecção.
O que acontece então se tivermos o
mesmo automóvel, que nunca foi restaurado, com a pintura de origem e em boas
condições gerais? Será um clássico de valor inferior?
Como disse anteriormente, depende
sempre do individuo que está interessado no automóvel. Deixo apenas algumas
questões que devem ser valorizadas. Será que uma pintura da época, por exemplo
realizada nos anos 70, não deve ser valorizada, ou mais, que uma pintura
realizada nos dias de hoje? Um automóvel que tenha sido mantido mecanicamente,
deve obrigatoriamente ser sujeito a um restauro de motor? No meu ponto de vista
não.
Os amigos costumam dar bons conselhos
(ou não). Lembro-me do engenheiro que veio certificar o Ford A a fazer a
seguinte pergunta, “o automóvel estava mau de pintura?” Para o meu pai, que não
queria de todo avançar com o restauro, foi como um engolir a seco. O amigo
tinha-lhe dito tantas vezes para pintar o automóvel, que era o casamento do
filho e que o automóvel devia ir a brilhar, como novo. Tanto insistiu que o
automóvel foi para restauro. Hoje arrepende-se vivamente dessa decisão.
Actualmente há empresas nos Estados
Unidos que se dedicam a dar alguns toques em automóveis que foram restaurados
de forma a parecerem que têm alguns anos em cima. Um automóvel de 1960 não pode
ter o aspecto de um automóvel de 2018. No meu ponto de vista só há duas
explicações para que tal aconteça: ou o automóvel estava mau no aspecto geral
ou o dono não se sente bem em ter um automóvel original que não brilha no meio
dos outros. Quanto ao nosso “A”, foi realizada uma intervenção ao nível de
carroçaria e pintura. O automóvel foi todo desmontado, o código da cor aplicado
correctamente e montado novamente. Todas as peças são originais do automóvel de
1929 e os pneus ainda são os Pirelli feitos em Espanha, única e exclusivamente
para este automóvel a pedido do meu avô na fábrica. Com um tipo de piso
especial para ter mais tracção. É caso para dizer, outros tempos….
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