Carro ficou destruído após o atropelamento (Divulgação)
Preso por tentativa de homicídio, ele afirmou que foi agredido por um
policial militar dentro da delegacia; magistrado determinou a investigação do
fato
Joseane Teixeira Publicado em 03/11/2022
Em audiência de custódia realizada na manhã desta quinta-feira, 3, no Fórum central de Rio Preto, o juiz plantonista Lincoln Augusto Casconi decidiu manter preso o motorista do Fox, responsável pelo atropelamento de 17 manifestantes que ocupavam a rodovia Washington Luís na tarde de ontem, 2, em Mirassol. Entre as vítimas estão duas crianças de 11 e 12 anos.
Na decisão, o magistrado justifica que é necessário investigar a real intenção
do motorista, por se tratar de fato relacionado a divergências políticas, uma
vez que os manifestantes protestavam contra o resultado das eleições.
Casconi
pondera ainda que a obstrução da pista estava proibida pela Justiça.
"Tratou-se fato de repercussão nacional,
pois o ilícito ocorreu em âmbito de manifestação política, o qual por essa
razão deverá ainda ser objeto de melhor apuração dos fatos, inclusive para a
apuração da real motivação da conduta do autuado, assim como das vítimas que se
encontravam no local, pois em tese, estas últimas também participavam de um
movimento por ora reconhecido como ilegal, por haver determinação do Supremo
Tribunal Federal, para o desbloqueio de vias públicas".
O juiz explica ainda que a conversão da
prisão em flagrante em prisão preventiva se faz necessária até para proteção do
autor.
"No momento, não há como se deferir em favor do autuado medidas
cautelares, em substituição à sua prisão, até mesmo, dado ao clamor público, a
existência de risco até mesmo a sua própria integridade física, dado ainda o
ambiente político conflagrado, da qual, o presente ilícito é um dos seus
resultados".
O condutor do carro, que tem 28 anos, foi
preso em flagrante por tentativa de homicídio e levado para a carceragem da
Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Rio Preto.
Com a decisão judicial, ele deverá aguardar
julgamento no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Rio Preto, a menos que
seja beneficiado com habeas corpus.
Motorista alega que foi agredido por PM
Durante interrogatório na delegacia de
Mirassol, o motorista do Fox afirmou que um dos policiais responsáveis pela
prisão dele o agrediu com um soco no rosto, já estando dentro da unidade
policial.
O agente ainda teria chamado o autor de
"assassino de criança".
O policial apontado como agressor consta como uma das vítimas do atropelamento
no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil.
Representado por dois advogados, o rapaz
reafirmou sobre o soco durante a audiência e o juiz determinou que o suposto
abuso seja investigado.
"Ante a alegação do autuado em ter sido
agredido por um policial militar e vítima, já sob a custódia da Polícia
Militar, nas dependências da Delegacia de Polícia de Mirassol, determino a
expedição de ofício à Corregedoria da Polícia Militar, determinando que seja
instaurado procedimento para apuração de eventual abuso ou maus-tratos pelo
referido policial, devendo ser informado ao Juiz Criminal Natural, no prazo de
30 dias, o resultado da apuração".
A reportagem solicitou nota ao setor de
comunicação social da Polícia Militar sobre a denúncia e aguarda resposta.
A caminho do hospital
"Meu filho estava me levando no Hospital de Base, porque eu estava com dor.
Ele pediu passagem aos manifestantes, mas começaram a ofendê-lo.
Em determinando momento, alguém deu um soco no rosto do
meu filho e puxou ele pela camiseta", contou a mãe em entrevista por telefone
na manhã desta quinta-feira.
Segundo a mulher, uma multidão cercou o
carro. “Ele ficou apavorado. Não tinha intenção de ferir ninguém, apenas tirar
a gente daquela confusão”, justifica.
Após o acidente, policiais militares tiveram
de atuar para proteger o motorista do risco de linchamento.
Ele e a mãe foram retirados do carro e o
veículo, que não tem seguro, foi destruído pelos manifestantes.
Teste de etilômetro indicou que o condutor do
Fox não estava alcoolizado.Ele também não registrava processos criminais.
Das 17 vítimas, três permanecem internadas.
Duas delas, um homem de 36 anos e uma mulher de 26, estão no Hospital de Base.
Outra mulher, de 29 anos, foi internada em um hospital particular.
Todos estão estáveis e fora de perigo.
O inquérito será presidido pelo delegado
Marcelo Rogério Barozzi, de Mirassol, que tem até 10 dias para concluir o
procedimento.
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