BOLA SETE EM ARAÇATUBA UM ICONE MARAVILHOSO QUE TRAZ SAUDADES E BELAS RECORDAÇÕES.

Um dos ambientes do Bola Sete atualmente

Do livro “De volta às latomias”, 2005

No princípio era a poeira, o barro e o chão. 

Num tempo em que o cupim do nelore se prestava ao fabrico de sabão. 

Depois o empresário Elísio Gomes de Carvalho, em empreitada definida, pintou de negro, com asfalto, o leito da avenida. 

Nas vizinhanças o Zé do Padre, nas brasas e com suor, criava para Araçatuba sua marca maior: o cupim casqueirado.


Há quase quatro décadas o Jardim Nova York é o mais nobre- dos bairros araçatubenses. 

O loteamento foi lançado pelo empreendedor Elísio Gomes de Carvalho, em 1952. 

Foi, construído um modesto edifício em 1954, no lado direito da avenida Brasília, sentido cidade-bairro, localizado mais ou menos na metade da extensão da via, onde se instalou um barzinho com a finalidade de atender os visitantes, potenciais compradores dos terrenos em oferta: a Cantina Jardim Nova York

Elísio fez o asfalto em 1956. 

Por uns tempos Ernesto Rister dirigiu a casa, até decidir fechá-la em 1958. 

Elísio procurou o jovem corretor Adolfo Moretti Filho e ofereceu-lhe o ponto, com as instalações e o estoque, graciosamente, mais a isenção de aluguel por seis meses. 

Moretti, com alguma experiência no ramo, topou. 

Antes instalara o bar do Country Clube, a serviço da Imobiliária Mauá, loteadora do Jardim Umuarama e outros, repassado ao Zezinho Barbeiro e depois transformado em restaurante pela dupla Luís Acialdi e Amaral.

Moretti foi tocando o negócio, conciliado com as corretagens. 

Logo Zé do Padre, seu concunhado, deixou o posto de gerente da Fonte Santa Maria e veio, com a esposa Avani, associar-se ao empreendimento, então bem afastado da cidade. 

A clientela foi crescendo: João Gato, Luís Faganelo, os irmãos Gérson e Hélio Protti, Machado, Souzinha, os pilotos Nélson, Akaki... 

Demonstrava-se a máxima criada em Guaxupé por Carlos Monteiro da Costa , o Calula, pai do Dr. Renato Costa Monteiro: "Biriteiro é como saúva: só corta longe de casa". 

De acréscimo, o boteco virou ponto dos aficcionados do jogo de dados e no início da década de sessenta os estudantes em férias passaram a avolumar o movimento, levando à cantina cabritos e carneiros roubados para banquetes na madrugada. 

Disso o Hélio Mitidieri tem boas recordações.

Em 1968, Luís Acialdi, gerente da Arapuã, e o português Manoel Felipe de Almeida Amaral, sub-gerente, fizeram proposta de compra da cantina ao Zé do Padre (Moretti, rei Momo do Carnaval de 1961, já se afastara do negócio). 

Elísio autorizou a venda e a transação se fez. 

Surgia o Bola Sete

Os novos proprietários foram comprando os terrenos vizinhos e ampliando as instalações, inclusive com a construção de um salão de festas ao fundo, cada etapa assinada por projetista diverso, verdadeira salada de estilos. 

Os cubos de concreto, que por longos anos adornaram a entrada da casa, foram criação do arquiteto Edison Longo Raimo. 

Na ocasião o Bola Sete já era propriedade exclusiva do Amaral. 

Luís Acialdi foi residir em Bauru e vendeu a ele sua parte.

Parêntese na história. 

O Zé do Padre, com o resultado da venda do boteco, comprou uma casinha do Franco Baruselli ao fundo e também foi adquirindo terrenos limítrofes, construiu um salão que aos poucos foi aumentando. 

Um dia chegou Mané Barbeiro, dono do Frigorífico Tupi, com dois cupins de bois nelore nas mãos: - 

"Vamos assar pra ver como é que fica?" 

Cortadas e salgadas as fatias foram expostas ao calor das brasas e a turma gostou. 

Então disse Mané: - "Como jogo fora estas peças, vou trazer delas para você assar". 

Foi Avani quem passou a assá-las nos espetos e casqueirar a camada externa em vezes repetidas. 

Assim surgiu o cupim casqueirado e a Churrascaria Kibacana, onde hoje está a Artur Costelaria.

Chegamos a Araçatuba no início de 1971. 

O Bola Sete já era instituição e referência. 

Na mudança lá tomamos a primeira refeição: Wagner, Normanha e eu. 

Pouco a pouco passamos a fazer uma pontinha na fantástica história da casa, povoada de astros locais e celebridades nacionais que se foram acrescentando. 

E tome história. O casal Lúcia-Arlindo Correa Leite foi o primeiro a celebrar o casamento civil no Bola, lançando moda. 

Casados continuaram na freqüência semanal em companhia dos casais amigos Helô¬Napo, Regina-Norberto Safioti, Ida-Juvêncio Dias Gomes, Marilena Zezé Dinonísio, Graça-Nei Galetti... Marcavam presença constante nos almoços domingueiros Elísio Gomes de Carvalho e João Jorge Rezek, este em mesa fixa, com exigência de ser servido pelo mesmo garçom e ter guardanapo de tecido macio; a gorjeta era generosa desde que não se contestassem as suas reclamações de tudo. 

Nos lançamentos dos concursos de miss Araçatuba os coquetéis aconteceram sempre no Bola Sete, coordenados por Odette Costa Bodstein, sob o patrocínio da APAE, presidida por Missé Morais. 

Quando Ângela Maria Favi tornou-se Miss São Paulo e Miss Brasil N2 2, o Banco Real, do qual era funcionária e cujo gerente era o Pereira, patrocinou jantar em sua homenagem no salão de festas.

"Te espero no Bola" virou bordão araçatubense. 

Tornou-se ponto de encontro convencional para todas as situações: paqueras, namoros, negócios, almoços, jantares, festas familiares, aniversários, confraternizações, comemorações... 

Após os bailes tradicionais do Araçatuba Clube ou noitadas carnavalescas, os casais e foliões tomavam no Bola a canja da madrugada. 

Por ocasião de jornadas médicas o almoço ou jantar de encerramento invariavelmente lá aconteciam e o Dr. Renato Costa Monteiro brindava os colegas com suas canções. 
DÉCADA DE 60: Jardim Nova Iorque, Av. Brasília, principal entrada de Araçatuba
Quando o Corinthians em 1977, ganhou o Campeonato Paulista, após 23 anos na fila de espera, uma multidão de torcedores, de todas as classes sociais invadiu o Bola. 

O Amaral que, preventivamente, fechara o salão de festas, fê-lo abrir na iminência de arrombamento e, torcedor da Lusa, vestiu uma camisa do alvinegro campeão e engrossou o carnaval temporão.

Dos forasteiros, a primeira figura folclórica que se registra é Antônio Maria Moura, o "Federal". Paulistano, veio atraído pelo potencial da pecuária como vendedor de sal mineral, para-raios e anabolizantes para o gado de corte. 

Simpático, bem falante, às vezes trazia consigo o malandro "Senador", cuja identidade ninguém desvendou, e a dupla desenvolvia atividades também nos jogos de dados e mesas de pôquer da cidade. 

Conta o fantástico memorialista Napo, Dr. Jorge Napoleão Xavier, que de início, pela conjuntura política e envolvimento de muitos araçatubenses na luta armada à época do contra golpe militar, suspeitou-se que fosse agente de algum dos órgãos da repressão (DOPS, DOI - CODI, CENIMAR). 

Um dia, numa mesa da casa, deram-lhe a prensa e ele lascou: - "Que o quê, amigos, eu sou é federal" -referindo-se ao escalão maior da malandragem, na gíria da pauliceia. 

E "Federal" ficou.

ATUALMENTE: Jardim Nova Iorque, Av. Brasília
Todas as figuras nacionais dos meios político, artístico, esportivo e empresarial que estiveram em Araçatuba passaram pelo Bola. 

Luís Inácio da Silva, líder sindical, que ainda não incorporara o apelido Lula ao nome, por algumas vezes tomou várias na casa, numa delas ao lado de Airton Esteves Soares que se tornou habitual frequentador acompanhado de Pedro Filardi, José Ruy Veloso Campos, João Pedro de Arruda Campos, Eido Cremonezzi e Lênin Laluce Cruz, como informa o Napo. 

Outros políticos que por lá passaram: Eduardo Suplicy, Paulo Egydio Martins, Laudo Natel, Orestes Quércia, Paulo Maluf, Paulo Lustosa, Almino Afonso, Franco Montoro... 

O PMDB disputou a eleição municipal de 1982 com candidatos em três sublegendas: João Jorge Rezek, Waldir Felizola de Moraes e Sidney Cinti. 

Em dia de comício, os três esperavam o grande líder no Bola, mas quem dele recebeu as primeiras deferências foi Ezequiel Barbosa, chegando no seu velho Volkswagem TL.

Raul Cortez preferiu caminhar do Hotel Chamonix ao Bola. 

Odette ciceroneou Paulo Autran e Vinicius de Moraes disse a ela só ter comido peixada igual na Bahia. 

Boris Casoy encantou-se com o bacalhau à Policano. 

A lista de celebridades é vasta: Hebe Camargo, Cleyde Yáconis, Meire Nogueira, Mussum, Mazzaropi, Nelson Gonçalves, Tião Carreiro, Gal Costa, Elis Regina, Chico Anísio, Djavan, Paulo Sérgio, Os Trapalhões, Fábio Júnior, Regina Duarte, Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Jorge Benjor, Raça Negra... Eva Vilma não desceu do carro, aguardando um refrigerante. 

Para acompanhar Nelson Ned, Mário Eugênio ajoelhou-se e com ele cantou no mesmo nível estatural. 

Elke Maravilha viera fazer cenas de um filme em Pereira Barreto e realizou outras em Araçatuba, na chácara da Massako. 

A própria cafetina ligou para o Pereira, gerente do Banco Real, e Elke Maravilha, então jurada do Programa do Chacrinha, foi levada ao Bola Sete que estava lotado. 

Mário Eugênio anunciou sua presença. 

Fez-se silêncio na casa. 

A loira extravagante, com sua pintura exagerada, foi para o microfone, distribuiu simpatia e contou um pouco de sua história. 

Noutra noite eu e Cacilda jantávamos no salão do restaurante quando chegou Elba Ramalho com acompanhantes, ela em mau estado de humor. 

Estava em começo de carreira e seu show marcado para o Ginásio de Esportes Plácido Rocha não acontecera por falta de público. 

Todavia, o caso mais celebrizado, relata o Napo, deu-se quando Angela Maria, a Sapoti, fez um show na cidade. 

Foi levada ao Bola pelos membros do CMDI, Conselho Municipal de Desenvolvimento Integrado, presidido pelo comendador Elísio Gomes de Carvalho. 

Durante o jantar Elísio esnobou, com suas histórias costumeiras, dizendo-se um dos homens mais ricos do país, maior acionista da Brahma e da CPFL, dono de mina de diamantes na África do Sul... Angela Maria mostrou-se interessada e ele quis impressioná-la mais. 

Atravessando a rua, levou-a ao escritório de sua Imobiliária Paulista, abriu o cofre para exibir-lhe algumas jóias. 

A cantora catou um anelão de brilhantes e, metendo-o entre os seios, disse: - "O senhor tem tanto que este não lhe fará falta". 

Entre as testemunhas estavam Ivo Biagi e Genilson Senche. 

Dizem que Elísio nunca mais abriu o cofre na presença de alguém.

Quase todos os técnicos e profissionais de futebol que trabalharam em Araçatuba frequentaram o Bola. 

João Avelino era habitué. Na lista dos treinadores incluem-se Nestor, Gaspar, Jair Picerni, Roberval Davino, Afrânio Riul... Gomes por lá tomou umas biritas. 

Em sua curta passagem pela AEA, Neto lá se encharcou de cervejas na companhia de Garrinchinha. 

Com Leivinha, eu, Pequeno e Pachequinho tomamos uns bons chopes numa noite. 

De outra feita, juntamente com Aimoré, outros tantos na companhia do jornalista esportivo José Maria de Aquino e do fotógrafo Mota, da revista Placar, que vieram fazer uma reportagem sobre a AEA, em 1974. 

Osmar Santos e Fiori Giulioti várias vezes curtiram o Bola. 

Outras presenças: Luciano do Valle, Datena, Tostão, Gilmar dos Santos Neves, Valdir Peres e, mais recentemente, Sócrates. 

O "Mão Santa", Oscar Schimidt lá esteve, como atleta e depois como candidato a senador.

O sucesso duradouro do Bola Sete deveu-se primeiro ao tino comercial do Amaral e à pessoa especial que ele foi. 

Segundo, à qualidade da cozinha, das pizzas às carnes, às peixadas, ao bacalhau à Policano, o prato máximo da casa. 

O cozinheiro húngaro João Toth organizou inicialmente o cardápio e Arlindo tudo assimilou e aperfeiçoou. 

Terceiro, o capítulo primordial: o time de garçons. 

O primeiro foi Arnaldo Vieira, depois veio Joãozinho. 

Então chegou Jaguar, vindo do boliche, também propriedade de Amaral e Luís Acialdi. 

Para compor com ele a dupla de astros da casa logo surgiu Boião, que saído da Churrascaria Gaúcha fora cobri-lo no boliche. 

Servia brincando e sorrindo, "tinindo" e bicando as cervejas dos mais chegados. 

Ao todo eram 15 garçons, craques de primeira: Chico, Suíno, Marlon Brando, Tiririca, Mazzaropi, Margarida, Capitão... 

Para quem não os conheceu em atividade é difícil descrever a alegria, a cordialidade, a presteza, o jogo de cintura na lida com clientela tão heterogênea. 

A alma do Bola foi e é o ecumenismo, a frequência simultânea, se não congraçada, porém tolerada, de todas as classes sociais e profissionais, ricos, remediados, pobres, viajantes, garotas de programa, profissionais do sexo, famílias emergentes e tradicionais, no grande espaço geograficamente compartimentado. 

Ambiente simples, decoração de mau gosto e dentro do espírito ecumênico a anarquia da mistura de sons: rádio, televisão e música ao vivo. 

Esta, um capítulo especialíssimo na história da casa, iniciado pelo grande pianista Paulo Giovanini. 

Depois o eclético e formidável Mário Eugênio reinou por 25 anos, agradando todos os gostos musicais. 

Um fenômeno. Merece estátua no Bola Sete, ao lado de Amaral, Boião e Jaguar. 

Nos anos seguintes a clientela teve o privilégio de curtir a arte de Zé Renato e Meire, a melhor voz da noite araçatubense, que hoje deleita os cuiabanos. 

Meire conhecia as preferências de todos. 

Para mim cantava "Nunca", de Lupicínio Rodrigues. 

Não é demais repetir a história do desconhecido que exigiu mesa em posição estratégica e enviou-lhe uma garrafa de "Moet et Chandon", pedindo apenas que cantasse "Champanhe" para ele. 

Ela não sabia a letra. 

Ele passou o resto da noite tomando Viborovna com Pepsi-Cola e tentando botar a música no papel. 

Não conseguiu. 

Voltou duas semanas depois, a Meire tinha aprendido e ensaiado, cantou focalizando-o, em glória total. 

Mais umas notinhas no capítulo musical. 

Mário Eugênio, além de atender os mais variados pedidos, padecia nos acompanhamentos e auxílios de voz aos cantores de fim de noite. 

Adail Ferreira pedia "Marina" em todas as ocasiões e muitas vezes cometia a canção nos embalos alcoólicos. 

Vem á lembrança ainda um viajante, bom instrumentista, que trazia, seu saxofone e dava canja no Bola. 

E outra maior: a música sublime emanada do "cachimbão" do virtuoso Renato Peres.

Se a equipe de garçons era fantástica, as contas eram problemáticas. 

Os clientes de maior vivência as conferiam em verdadeiras auditorias. 

Não era rara a superposição da conta da mesa vizinha que, por sua vez, poderia receber chumbo trocado. 

O professor Waldman Biolcati, abstêmio convicto, frequentava o Bola diariamente e pagava as contas somadas às segundas-feiras. 

Num dos acertos foi alertado pelo garçom amigo: - "Não pendure. Pague o seu consumo no ato. 

Todos os canos que a casa leva são debitados e distribuídos nas contas em aberto". 

Os que tentavam fugir sem pagar a despesa eram perseguidos e buscados sob porradas por Boião e Aquino, então auxiliar do cozinheiro Arlindo. 

O Amaral viajava todos os anos para Portugal, por lá permanecendo um mês. 

De uma feita foram três. Talvez seja lenda, conta o Napo, mas corria à boca pequena que antes da partida reunia os funcionários num jantar, passava o comando ao Jaguar e ao Boião, com conta bancária conjunta e tudo. 

Pedia aos demais colaboração irrestrita aos prepostos e dava o recado final mais ou menos assim: - "Não roubem a casa; ela pode falir e vocês perdem os empregos. Não recomendo que roubem, mas se o fizerem, que seja dos fregueses".

Na época em que não existiam supermercados, nem lojas de conveniências, o Bola Sete supria as necessidades emergenciais de seus clientes fiéis, nos domingos e feriados: uma peça de filé, um litro de uísque..., que eram simplesmente emprestados, como recorda o mister Ambev, Salin Roberto Chade, habitué do pedaço. 

Funcionava também como instituição financeira. 

Os que viajavam trocavam cheques no Bola em vez de servirem-se das agências bancárias. 

Frequentá-lo era desejo de todas as mocinhas e rapazolas. 

Conta o grande empresário da construção civil Betão Dainez que no Bola fez seu primeiro almoço fora de casa, menino pobre levado por um padrinho. 

Zezinho da Reunidas fazia presença assídua. 

Nenê Constantino, que adquiriu a própria Reunidas, do alto de seu 1,90m, de botinão, trajando jeans e camisa Volta ao Mundo, durante um mês tomou duas refeições diárias, sem que alguém imaginasse quem fosse. 

Em contrapartida a maioria dos garçons sabia quem era o padre que aparecia acompanhado de garotas. 

Dois prefeitos de cidades pequenas vizinhas traziam as amantes. 

Um deles vinha com a matriz nos fins de semana e com a filial em dias úteis. 

O outro sentava-se com a loira decotada e de saia curta; a caixinha para garçom discreto era gorda e nula para quem nela botasse olhos de cobiça. 

Um promotor de justiça também aparecia com a amante. 

Mesmo a do Amaral passou a frequentar a casa, sem reservas. 

Um advogado sentava-se sempre à mesma mesa com uma de suas três mulheres, uma de cada vez, em dias e horários diferentes.

Narra o Salin Roberto Chade a história de Luís Fernando e Regina. 

Ele, desde que chegou a Araçatuba para gerenciar uma unidade do CEASA, passou a frequentar diariamente o Bola Sete. 

Assim, lá namoraram e casados não alteraram a rotina. 

A menina Fernanda passou grande parte de sua vida intrauterina no Bola. 

Nascida, continuou marcando longas presenças no carrinho. 

Muitas vezes, o Tiririca embalou a criança enquanto os pais faziam suas refeições. 

Engatinhou, deu os primeiros passos e disse as primeiras palavras no espaço do salão. 

Entrava no balcão para pegar doces e chocolates, bem ao lado do caixa Saran.

Uma moça fez comemorar o aniversário da tia no Bola. 

No banheiro a senhora, inadvertidamente, deixou a dentadura cair no vaso sanitário. 

Foi um deus-nos-acuda. 

O Jaguar chegou a remover a peça na procura da prótese, sem sucesso. 

Todavia, lá quase tudo se resolvia. 

Numa noite chegou a Cláudia Chade, irmã do Salin, assídua cliente, acompanhada de outras duas professoras, desconsolada: ficaria longe do Bola. 

Fora transferida para Rubiácea. 

Indagou se o Jaguar conhecia algum político que pudesse apadrinhá-la. 

Imediatamente Jaguar falou com Ezequiel Barbosa, que em mesa próxima tomava a costumeira cerveja, após completada a venda dos bilhetes da Loteria Federal. 

Ezequiel, sempre bem trajado com roupas claras, em contraste com sua pele, simplesmente era alto dirigente do PMDB local, o homem de confiança de Orestes Quércia na região. 

Foi à mesa, anotou os dados pessoais e profissionais da professora e ligou para o governador Quércia. 

Era noite de sábado. 

Disse então a ela: - "Não vá a Rubiácea na segunda-feira. 

Reapresente-se ao seu antigo posto na terça, quando sairá a publicação da portaria no Diário Oficial".
No Bola Sete, aconteciam lances inusitados. 
O empresário Mário Carlos de Oliveira, o Mário Jacó, conhecido como excêntrico e pela generosidade, numa ocasião jogou dinheiro pra cima, pra quem pegasse. 
Os garçons deixaram de atender os demais clientes, participando da "aleluia". 
Ao fim deu um tiro no teto e anunciou que pagaria as contas dos que se sentiram ofendidos. 
O que deixou Amaral maluco foi a introdução do strip-tease sobre as mesas, nos fins de noites, por O.P.L., Mário Jacó, Fubazinho, P. Portolani, Giló Rodrigues, E. Benez e outros. 
As vezes as cenas aconteciam sobre os cubos de concreto, à entrada, junto ao chafariz. 
Bruno Guerreiro pagava cachês a garotas para desfilarem de calcinhas frente ao Bola, sobre seu Jeep, pilotado pelo motorista.
De todos, o mais célebre dos lances passados no Bola Sete foi um jogo de futebol organizado numa madrugada quando terminavam os anos sessenta. 
Passava das cinco horas quando o árbitro, o pianista José Roberto da Silva Placo, apenas trajando camisa, meias e sapatos, apitou o início da partida pelados versus de cuecasno terreno baldio em frente, do outro lado da avenida Brasília. 
O jogo corria e já chegavam e saíam os primeiros ônibus intermunicipais e seus passageiros despertos contemplavam o espetáculo. 
Alguém chamou a polícia. 
Logo apareceu uma viatura com o delegado de plantão, que foi identificando os atletas, todos conhecidos, filhos de famílias da sociedade araçatubense. 
Interrompeu a partida, recomendou que se mantivesse como resultado o empate do momento e que se retirassem todos para suas casas.
Imagino que o leitor esteja julgando longo o texto para o gasto de uma crônica. 
Afirmo-lhe que para mim foi máximo o esforço de condensação. 
Em Araçatuba cada pessoa que se encontre tem para contar um ou uma fieira de lances vividos ou acontecidos no Bola Sete. 
Para relacionar seus frequentadores a lista telefônica é insuficiente. 
Nem fiz referência aos dias de agora, de casa rediviva em sua glória, sob o tirocínio do craque Reinaldo Gaviglia. 
O Bola dá assunto para um livro volumoso e interessante. 
Volte o leitor ao parágrafo primeiro e veja que comecei a crônica em prosa com cadência e rima. 
Não sou capaz, mas o Bola merece um livro escrito em versos. 
Em versos de poeta de verdade.

*Geraldo da Costa e Silva é médico, escritor, membro da Academia Araçatubense de Letras, 11 livros publicados.

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