☼A idade ideal para se tornar empresário ☼

Aos 20, 30 ou aos 40 anos... 

Cada fase da vida reserva prós e contras para quem decide ter o próprio negócio. Saiba tirar proveito do seu momento e descubra qual é a hora certa para empreender com sucesso. Não importa se você acabou de fazer 20 anos ou já passou – e muito – dos 40

por Elisa Corrêa, com reportagem de Gilberto Almeida e Adriana Fonseca

SUCESSO EM TRÊS TEMPOS | Os empresários Bernardo Porto, 23 anos (à esq.), da DeskMetrics, Vanessa Vilela, 33, da Kapeh, e Carlos Perna, 46, da Intec: o começo obedeceu ao melhor momento para cada um

Você pode estar no auge de uma carreira construída passo a passo, confortável na posição que sempre sonhou. Ou começando a faculdade, rabiscando seus planos na última folha do caderno en-quanto o professor discursa lá na frente.

Pode ser ainda adolescente ou já ter dois filhos — e até mesmo netos. Não importa. Em algum momento da vida você vai querer empreender. Para realizar o desejo adormecido de se dedicar ao que realmente gosta de fazer ou porque ter emprego com car-teira assinada nunca esteve nos seus planos. Clica aqui e veja toda a  materia►►
Bernardo Porto já enfrentou essa angústia. Tinha 18 anos quando abriu sua primeira empresa para vender o software que havia desenvolvido aos 16. Hoje, com 23, comemora o investimento de US$ 200 mil que sua segunda empresa, a DeskMetrics, acaba de receber. "Meu sonho sempre foi criar uma grande empresa. Já ouvi do meu pai:

'Vai ser igual a todo mundo, Bernardo: vai ter férias, dé-cimo terceiro, não mexe com isso, filho'. Mas eu não desisto. Adoro o que faço, acordo feliz. Eu gos-to de problema", diz. O sonho de ter seu próprio negócio também chegou cedo para Vanessa Vilela, embora só tenha conseguido realizá-lo aos 30 anos.

Ela sempre quis ter uma empresa na área de cosméticos e planejou cada passo da sua vida para chegar aonde está: no comando da Kapeh, sua marca de produtos de beleza elaborados à base de café, fundada em 2007. Cursou Farmácia e Bio-química, trabalhou em farmácias de manipulação e fez cursos de gestão.

Casada desde 2004, adiou o projeto de ser mãe para se dedicar integralmente à empresa. "Ainda não foi possível conciliar a maternidade com a Kapeh, que é minha paixão", afirma a empreendedora, hoje com 33 anos.

Para Carlos Perna, 46 anos, a oportunidade apareceu depois de trabalhar quase dez anos como e-xecutivo. Ele abriu sua primeira empresa, a Besafer, especializada em controles de acesso, aos 40. Era casado e tinha dois filhos pequenos.

Resolveu vendê-la três anos mais tarde para comprar a Intec TI, que hoje preside. É claro que, na época, bateu a insegurança de arriscar a estabilidade. Mas, mesmo assim, ele decidiu ir em frente. "Nunca pensei em perder, essa é a grande verdade. Correr riscos faz parte da minha personalidade."

Desistir de fazer carreira em uma empresa tradicional. Adiar a maternidade. Abandonar o status e arriscar todas as economias. Para quem pretende abraçar o empreendedorismo não faltarão dúvidas em cada fase da vida.

Seja aos 20, como Bernardo; aos 30, a exemplo de Vanessa, ou depois dos 40, no caso de Carlos — empreendedores que terão suas trajetórias retratadas nas próximas pági-nas desta reportagem.

Como saber a hora certa? Apesar de o mito dos bem-sucedidos evocar os mais jovens — ou a velha imagem do americano prodígio que fatura milhões trabalhando com um copo de café na mão e um notebook na outra — é dos Estados Unidos o estudo que demonstra que essa turma representa a-penas 1% dos fundadores de empresas bem -sucedidas de tecnologia e engenharia.

"Apple, Micro-soft e Facebook são companhias fora de série. Para cada Mark Zucker¬berg existem dez mil alunos inteligentes que também desistiram da escola e abriram seus negócios, mas não deram certo", pon-dera o professor da Universidade Duke Vivek Wadhwa, um dos autores do estudo conduzido pela Fundação Kauffman, uma das mais respeitadas do mundo quando o assunto é empreendedorismo. Em 502 entrevistas, os pesquisadores descobriram que a idade média dos fundadores daquelas em-presas era de 39 anos.

 PERSEVERANÇA
No Brasil, a mais recente edição do GEM — Global Entrepreneurship Monitor — mostra que 52,5% dos empreendedores estão na faixa entre 18 e 34 anos, enquanto 43,2% se situam entre 35 e 54.

"Existe uma falsa ideia de que as empresas inovadoras surgem exclusivamente na mão dos mais jovens", afirma Ary Plonsk, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empre-endimentos Inovadores (Anprotec).

"Na verdade, o que é comum entre empreendedores inovadores não é a faixa etária, e sim o forte desejo de realização, de mudar a realidade. E isso ocorre em todas as idades."

Para o canadense Louis Jacques Filion, professor de Empreendedorismo da respeitada escola de negócios HEC, em Montreal, não seria nem mesmo correto falar em idade ideal para empreender.

"Dá para começar um negócio em qualquer fase da vida. O que importa é a expertise que a pessoa tem na área em que está abrindo a empresa", afirmou ele à Pequenas Empresas & Grandes Negó-cios.

Mas o que dizer dos jovens que criaram seus negócios antes dos 20 e hoje são milionários? Não é melhor começar cedo? "Esses jovens que fundam empresas de tecnologia aos 16 anos jogam videogame e usam computador desde os 5, 6 anos, então conhecem muito bem a área, sabem o que está faltando no mercado", justifica Filion.

O mesmo, segundo ele, acontece com os que abrem seus negócios depois da aposentadoria. "Dão certo porque dominam o setor em que atuaram duran-te toda a vida."

Na opinião de Yuri Gitahy, investidor anjo e fundador da Aceleradora, que apoia startups com gestão e capital-semente, começar tarde oferece outra vantagem ao empreendedor novato: experiência em gestão. "Essa é a única coisa que, para mim, difere entre um empreendedor de 20 e um de 40.

 Mas se o jovem de 20 conseguir admitir que não é muito bom, pode correr atrás dessa desvantagem e estudar, se preparar", afirma ele, assegurando que não existe preconceito dos investidores em rela-ção à idade do empreendedor. Gitahy fala com base em sua própria experiência: não há dados que mostrem o perfil etário dos empreendedores que sejam alvo do capital de investidores anjos no país.

"O que importa é a cabeça, a perseverança e o potencial inovador da ideia, claro", afirma.

Para quem estuda o tema, mais importante do que perguntar a idade certa para empreender é fazer uma pergunta-chave para si mesmo: estou mesmo pronto? Sentir-se pronto significa, por exemplo, ter energia para trabalhar 12 horas por dia, incluindo os fins de semana, por longos anos.

Ou abrir mão do tempo ao lado dos filhos, da namorada, e por aí vai. Também ajuda refletir se o momento ideal está mesmo ali, à sua porta e fazer um breve relato de atitudes empreendedoras ao longo da vida, do jardim da infância à universidade.

São questionamentos como esse que enfrentam os can-didatos a uma vaga no rigoroso processo de seleção conduzido pelo Centro de Inovação, Empreen-dedorismo e Tecnologia (Cietec), uma das maiores incubadoras de negócios da América Latina.

"São perguntas que valem tanto para um adolescente quanto para alguém mais sênior", afirma Sér-gio Risola, diretor do Cietec. Com décadas de experiência no tema, ele trata logo de desfazer o mito de que empreendedorismo vem do berço: "Não acredito que algumas pessoas nasçam com genes melhores para os negócios e outras não. Todos temos o DNA empreendedor, basta trabalhá-lo".

 ALTO IMPACTO
No Cietec, a idade média dos empreendedores fica entre 38 e 41 anos. "Mas isso varia de acordo com a área de atuação das empresas: nas de TI, cai para 30 anos, enquanto nas de biotecnologia, sobe para 43, 45 anos", afirma Risola.

O nível de estudo de quem chega até a incubadora, este sim, é alto. Pressupõe sempre duas décadas de estudos: entre 60% e 65% dos candidatos têm doutora-do. "Damos muita importância para as experiências anteriores do candidato. O erro ensina."

Em um outro estudo da Fundação Kauffman, chamado A Anatomia de um Empreendedor, foram en-trevistados 549 fundadores de empresas norte-americanas de sucesso em áreas de grande cresci-mento, como aeroespacial, defesa, informática, eletrônica e saúde. Os resultados, mais uma vez, desmentem os estereótipos.

A idade média dos empresários, no momento da abertura do negócio, era de 40 anos: 69,9% estavam casados e 59,7% tinham ao menos um filho.

Os pesquisadores tam-bém pediram para os empreendedores elencarem que fatores contribuíram para o sucesso da em-presa atual: 96% disseram que a experiência anterior foi importante, 88% aprenderam com os su-cessos e 78%, com os fracassos.

"Com a idade, vem também uma rede de contatos mais qualificada e o conhecimento em gestão, finanças e direito", diz Vivek Wadhwa, co-autor dessa pesquisa.

Para Fernando Dolabela, escritor, professor e especialista em empreendedorismo, contudo, na era da informação, o passado representa pouco. "Se pensarmos nas idades dos fundadores do Google (Sergey Brin e Larry Page, ambos com 25 anos), da Microsoft (Bill Gates, 19 anos) e do Facebook (Mark Zuckerberg, 20 anos), todos esses empreendedores não tinham história quando começaram.

Hoje o que manda não é o que fiz ou quem fui, mas o que posso fazer daqui para a frente na minha vida", afirma.

 "Não estamos mais na era do curriculum vitae e sim do 'curriculum venturus', do currí-culo do futuro, que representa os sonhos das pessoas. O potencial do que a pessoa possa vir a rea-lizar no futuro é muito mais importante que o passado", diz.

Os chamados empreendedores de alto impacto, com excelente capacidade de crescimento, também costumam apresentar traços comuns, segundo Juliano Seabra, diretor de Educação, Pesquisa e Cul-tura da Endeavor. Têm entre 30 e 45 anos e nunca estão satisfeitos.

"A empresa pode crescer 30% e eles ainda acham que não é o suficiente. Sofrem de insatisfação permanente e é isso que faz com que continuem sonhando mais alto", afirma. Além dessa característica, eles conseguem liderar, ins-pirando pelo exemplo, e dividir o sucesso com o time.

 INOVAÇÃO
A pedido da Unctad – Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, a En-deavor realizou uma pesquisa qualitativa com 52 empreendedores inovadores.

Os resultados, apre-sentados com exclusividade por Pequenas Empresas & Grandes Negócios (veja os quadros Empre-endedores Jovens, na página 55 e Empreendedores Seniores, na página ao lado), mostram como a idade modela o perfil do empreendedor. Um dos resultados mais surpreendentes da pesquisa diz respeito ao fator inovação. Segundo o estudo, são os mais velhos, e não os jovens, os mais propen-sos a assumir a responsabilidade por projetos inovadores.

Enquanto os mais jovens se mostraram mais analíticos, os mais experientes se revelaram prontos para correr riscos, mesmo quando a pro-babilidade de sucesso não pode ser avaliada.

Não importa a idade, para todos que pensam em empreender, Seabra dá o mesmo conselho: "Não pense que existe solução fácil. O caso de quem deu certo de primeira e está crescendo 300% ao ano é exceção, existem um ou dois. Empreender não vai te deixar rico da noite para o dia, tenha vo-cê 18 ou 62 anos, mas, com certeza, vai te fazer mais feliz".

Para os que acham que talvez seja muito tarde para começar, vale se inspirar com a história de Su-lamita Fejer, aprovada no Cietec em outubro passado. Com pouco mais de um metro e meio de altu-ra e cheia de energia, Sulamita é capaz de discorrer por horas sobre os protetores bucais inovadores que sua empresa, a Flexite, vai desenvolver para atletas.

Tem 84 anos e está começando a empre-ender agora, depois de uma longa carreira acadêmica. "Lembro-me de que quando a vi pela primeira vez, perguntei: 'A senhora tem certeza de que está no lugar certo?', conta Risola.

Ao que ela res-pondeu: 'Sim, jovem'". Nas próximas páginas você vai encontrar conselhos e dicas, preparadas por um time de especialistas, para ajudá-lo a tirar vantagem do seu momento de vida e empreender. Não importa se você acabou de fazer 20 anos ou já passou dos 60.

▒▓███ JESUS CRISTO É O MEU SENHOR ███▓▒

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