Rico, sem patrão e com tempo de sobra. Ao contrário do que se imagina, a vida de empreendedor tem muito mais facetas do que sugere esse bordão
Por Eduardo Nunomura e Wilson Gotardello FilhoEmpreendedores lendários - e solitários -, que fugiram dos bancos escolares e construíram fortunas com pouco ou nenhum capital, contando apenas com suas próprias ideias brilhantes e a coragem de pôr todas as fichas em um negócio incerto. É essa a imagem que vem à cabeça da maioria quando se pensa em homens bem-sucedidos, como Steve Jobs, da Apple, Bill Gates, da Microsoft, ou Samuel Klein, das Casas Bahia. No Brasil, assim como nos Estados Unidos, a representação do self-made man é tão forte que praticamente nos furtamos a observar de perto a história de cada um. VEJA►►
Sob os holofotes, contudo, o que se vê são versões bem menos glamourosas, como bem mostrou um recente estudo da dupla de pesquisadores franceses Michel Villette e Catherine Vuillermot (leia a entrevista exclusiva aqui), que resultou no livro From Predators to Icons. As conclusões da obra também serviram como matéria-prima para um brilhante artigo do escritor Malcolm Gladwell (autor dos best-sellers Fora de Série: Outliers e Blink), publicado na revista New Yorker e, agora, em primeira mão no Brasil, por Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
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Embora seja visto como um Leonardo da Vinci moderno, Steve Jobs construiu uma das empresas mais inovadoras de todos os tempos contando com uma poderosa rede de relacionamentos, da qual fazia parte o seu grande amigo Steve Wozniak. A maioria das inovações da Apple foi feita em parceria com várias outras empresas. Muito mais que um geninho dos computadores, Bill Gates sempre se considerou um ótimo negociador. O homem que conseguiu se tornar um dos mais ricos do mundo é neto de banqueiro e contou com a ajuda do sócio Paul Allen para realizar suas façanhas.
O polonês Samuel Klein, rei do varejo brasileiro, ao chegar ao Brasil acionou seus contatos para adquirir uma valiosa carteira de 200 clientes de um mascate judeu que estava prestes a se aposentar. O autor do livro The Illusions of Entrepreneurship, Scott Shane, defende a ideia de que apegar-se ao senso comum é o caminho mais curto para o fracasso. "Quando as pessoas agem baseadas em histórias com toques fictícios, pensando que se trata da mais pura realidade, acabam se dando mal."
"Queria dar aulas. Mas o negócio foi tão bem que não me imagino fazendo outra coisa" |
THAIS MELO E GUILLAUME PETITGAS, LA BOULANGERIE A estudante de letras e o padeiro francês resolveram voltar a morar no Brasil após uma temporada na Europa. Sem emprego, a saída foi abrir o próprio negócio. Os dois driblaram a inexperiência com cursos. Em três anos, o casal abriu uma segunda loja e, hoje, recebe mais de 300 pessoas por dia. |
Muitos empreendedores começam subcapitalizados, mas raros são os que, nessa situação, obtêm sucesso - quando isso ocorre, viram objeto de estudo acadêmico e capas de revista, ajudando a criar a ideia equivocada de que bons negócios sempre nascem em garagens. Pesquisas mostram que ter dinheiro para o investimento inicial facilita enormemente o caminho, argumenta Shane.
Também são distorcidas pelo menos outras sete imagens do empreendedorismo: empreendedor nasce empreendedor (o que determina o sucesso não é a genética, e sim o ambiente e o esforço individual); não é preciso educação nem experiência para montar um negócio (empresários sem bagagem são os que mais dão errado); o empreendedor age sozinho (mas quanto melhor a rede de contatos, maiores as chances de sucesso); empreender é arriscar (quem vai longe sabe da importância de calcular e minimizar riscos); empreender é ficar livre (na realidade, trabalha-se muitas vezes mais e é preciso dar satisfação a fornecedores, funcionários, clientes...); é preciso uma ideia genial para abrir uma empresa (a maioria dos negócios é trivial); todo empreendedor é rico (normalmente, o retorno sobre o investimento inicial demora a acontecer).
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