Bactérias da nossa pele combatem infecções

 O sistema secreto de vigilância da pele
A pele é há muito tempo considerada uma mera barreira física ao ataque de patógenos. Agora, porém, pesquisadores estão começando a perceber que essa visão simplista precisa de uma reformulação radical.

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A pele é há muito tempo considerada uma mera barreira física ao ataque de patógenos. Agora, porém, pesquisadores estão começando a perceber que essa visão simplista precisa de uma reformulação radical.
As dobras, folículos e pequenas glândulas produtoras de óleo na superfície da pele criam uma infinidade de habitats diversos, cada um com sua própria comunidade de micróbios. A maior parte desses 'comensais' vive inofensivamente sobre a pele, e acredita-se que a sua presença impeça que micróbios patogênicos invadam os habitats da pele. Mas esses moradores benignos não são apenas espectadores inocentes – de acordo com um artigo publicado no periódico Science, bactérias específicas da pele também influenciam a resposta do sistema imunológico do hospedeiro para ajudar a combater a infecção.

A imunologista Yasmine Belkaid e sua equipe do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas em Bethesda, Maryland, decidiram investigar o papel imunológico de micro-organismos residentes da pele, conhecidos coletivamente como o microbioma da pele. 'Pela primeira vez, mostramos que a pele precisa de sinais microbianos para uma função imune celular adequada', disse Shruti Naik, autora do estudo e estudante de pós-graduação na Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, do mesmo laboratório de Belkaid.
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A maioria dos estudos sobre como micro-organismos residentes regulam o sistema imunológico e a inflamação se concentrou no microbioma intestinal, em grande parte porque é o local de maior exposição e contém uma grande diversidade de microrganismos, mas Belkaid e seus colegas queriam determinar se o microbioma da pele possui uma função semelhante.

'Ninguém tinha ideia da magnitude do efeito imunológico na pele, ou como quaisquer mecanismos encontrados fora do intestino seriam semelhantes àqueles que ocorrem dentro do intestino', disse Curtis Huttenhower, biólogo computacional da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, que está envolvido no Projeto Microbioma Humano. 'Esse trabalho é a primeira boa demonstração que eu vi de que o microbioma da pele tem uma resposta imunológica paralela à observada no intestino.'
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Sinais de pele
Para investigar esses efeitos, a equipe de Belkaid comparou a produção de moléculas inflamatórias por um subconjunto de células do sistema imunológico, conhecidas como células T, em dois grupos de ratos – um era 'livre de germes', tendo sido criado em um ambiente estéril, e o outro com os micróbios presentes na pele. As células T dos ratos livres de germes produziram níveis mais baixos de moléculas inflamatórias do que os ratos do grupo controle, sugerindo que as bactérias da pele são necessárias para uma função celular imunológica apropriada.

Em seguida, para confirmar que a microbiota da pele foi responsável por esse efeito, e não os micróbios intestinais, os pesquisadores deram antibióticos orais aos ratos normais, que alteraram apenas os micróbios intestinais, e mostraram que não houve qualquer efeito sobre a capacidade das células T da pele de produzir sinais inflamatórios.
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A equipe então colonizou os ratos livres de germes com uma bactéria frequentemente encontrada na pele humana, a Staphylococcus epidermidis, e a adição dessa espécie foi suficiente para restabelecer a produção de uma proteína inflamatória pelas células T na pele – mas não no intestino. Os ratos livres de germes também foram incapazes de gerar uma resposta imune para o patógeno Leishmania major, mas a adição da S. epidermidis restaurou a sua resposta imunológica. 'Nós mostramos que a flora da pele conduz a imunidade local', disse Naik.

Finalmente, para confirmar o mecanismo que suporta essa conversa cruzada entre os micróbios da pele e o sistema imunológico, os pesquisadores testaram ratos deficientes em uma via de sinalização conhecida como MYD88, e descobriram que apesar da via ser dispensável no intestino, ela é necessária na pele.

'Esse artigo considera observações anteriores de que bactérias comensais podem ter um papel anti-inflamatório na pele e mostra como esses organismos podem afetar a maturação de células T', disse Richard Gallo, chefe de dermatologia na Universidade da Califórnia, em San Diego. Essencialmente, as bactérias comensais ajudam a regular a resposta imunológica das células do hospedeiro.

Além do intestino
'O fato é que nós descobrimos que a imunidade protetora depende da pele, e não do intestino, e a microbiota possui o papel da especificidade que faltava anteriormente', disse Julie Segre, coautora do estudo e pesquisadora do microbioma da pele no Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, em Bethesda. Pode haver semelhança na forma como o intestino e a microbiota da pele agem, mas, acrescenta, também haverá diferenças importantes.

Huttenhower disse que esse trabalho é um aviso de que a comunidade científica deve olhar além do intestino para compreender a resposta imunológica.

Segre nota que os resultados representam um primeiro passo para detalhar se as comunidades microbianas do intestino, da pele, ou orais se comunicam diretamente umas com as outras, ou se somente o microbioma da pele é fundamental para o sistema imunológico. 'O microbioma intestinal foi o foco nos últimos dez anos', disse ela. 'Agora é a vez da pele.'

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