Por Vivian Oswald (vivian.oswald@bsb.oglobo.com.br) | Agência O Globo
BRASÍLIA - Mesmo com a redução das desigualdade, a expressão
Belíndia (a combinação de Bélgica e Índia) para descrever o Brasil e as suas
diversas realidades ainda é válida.
O país continua entre os 12 mais desiguais
do mundo, mas, na última década, os 10% mais pobres viram a sua renda crescer
nada menos que 550% mais depressa do que a dos 10% mais ricos. Os dados constam
do comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
"A década
inclusiva (2011-2011): desigualdades, pobreza e políticas públicas, o primeiro
da gestão do novo presidente da entidade, Marcelo Néri.
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China e o topo da pirâmide está no equivalente a um país estagnado, como na
Europa. O termo Belíndia continua valendo - destacou
Ao todo, 21,8 milhões de
brasileiros saíram da linha da pobreza no período, sendo que 3,7 milhões apenas
entre os anos de 2009 e 2011.
De acordo com o estudo do Ipea, se o trabalho foi
o carro-chefe da redução das diferenças entre ricos e pobreza e justifica 58%
da sua queda, as políticas públicas voltadas para os mais pobres também tiveram
impacto significativo sobre a renda e custam mais barato aos cofres públicos do
que os gastos com a previdência.
A previdência foi responsável por 20% da
redução das desigualdades, enquanto os rendimentos do Benefício de Prestação
Continuada (BPB) e do Programa Bolsa Família, por 4% e 13%, respectivamente.
- Mas cada real gasto com o Bolsa
Família tem um impacto sobre a desigualdade 362,7% maior do que a previdência.
Já o BPB, de 129,7%. Isso significa que as desigualdades poderiam ter caído
ainda mais se o país tivesse feito uma opção mais forte pelos mais pobres -
destacou Néri.
Enquanto a renda da população
cresceu 40,7% até 2011, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) divulgada na semana passada pelo IBGE, o PIB per capita do
país aumentou 27,7%.
De acordo com o Ipea, as famílias chefiadas por
analfabetos tiveram um aumento de renda de 88,6%, contra uma queda de 11,1% nos
rendimentos das famílias cujas pessoas de referência têm 12 ou mais anos de
estudo completos.
- Houve um crescimento importante
na base para quem tinha mais anos de estudo. No topo, a queda se explica pelo
fato de ter havido nestes anos um aumento da oferta de quem tinha nível
superior. Não era mais tão exclusivo assim ter mais tempo de estudo - afirmou.
No Nordeste, a renda teve um
aumento de 72,8%, contra 45,8% do Sudeste. Entre os negros e pardos, os ganhos
foram de 66,3% e 85,5%, respectivamente, enquanto para os brasileiros
declaradamente brancos, esse aumento foi de 47,6%.
Já a renda das crianças de
zero a quatro anos subiu 61%, contra 47,6% daqueles entre 55 e 59 anos,
tradicionalmente os que registravam maiores ganhos.
A queda das desigualdades não
chega a ser um fenômeno exclusivo brasileiro. Apesar de dois terços dos países
do mundo terem vivenciado um aumento das diferenças entre ricos e pobres na
última década, China e Índia, países que concentram metade da pobreza do
Planeta, puxaram para cima o indicador. Na maioria dos países da América
Latina, as diferenças estão caindo.
Nos países em desenvolvimento, os BRICS,
onde a desigualdade é mais baixa, ela subiu nos últimos anos.
O crescimento da renda
dos 20% mais ricos no Brasil foi inferior ao de todas as nações incluídas no
conceito BRICS. Já a renda dos 20% mais pobres também teve um aumento
acelerado, mas ainda perdeu para a China.
"A saga dos chineses e
indianos rumo a melhores condições de vida é a similar de analfabetos, negros e
nordestinos", diz o documento do Ipea.
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