Os conflitos de Elias
"Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos" (2 Co 4.8,9). - A mão providencial de Deus estava controlando as perseguições de Paulo, mantendo-as em proporções manejáveis. O grande evangelista e teólogo também enfrentou grandes desencorajamentos.
Os conflitos de Elias o levaram a enfrentar períodos de depressão e tristeza. Mas o Senhor ajudou-o superar.
introdução
Na sequência do estudo sobre o ministério do profeta Elias, analisaremos hoje o seu momento de fuga, o momento em que foi acometido pela depressão. O capítulo 18 de 1º Reis apresenta a expressão da fé de Elias, e as suas vitórias sobrenaturais, e logo em sequencia apresenta o medo, a fuga para salvar a vida e o desânimo, tudo resultando do propósito de Jezabel - com o uso da máquina estatal - de destruir a vida do profeta (v. 2). O profeta não recebeu nenhuma orientação divina para permanecer em Jezreel, agora sua presença ali significava arriscar desnecessariamente a sua vida (18.1). Partiu imediatamente para o monte Horebe (o mesmo monte Sinai). Esta fuga forçada de Elias para o território de Judá e o deserto é um exemplo daqueles que "por causa da justiça" (Mt 5.10) são maltratados e forçados a andar errantes pelos desert os, e montes, e pelas covas e cavernas da terra (Hb 11.37,38). De maneira semelhante a Elias, há profetas que tiveram de deixar suas igrejas; pregadores, os seus púlpitos; professores, as suas salas de aula; e leigos, os seus empregos; por se posicionarem contra o pecado, por falarem segundo a Palavra de DEUS, e seguirem o caminho da justiça, por amor do nome do Senhor. O episódio da depressão de Elias, mostra-nos que a depressão é doença que pode nos acometer, sem que, por isso, deixemos de ser servos do Senhor. Tenham todos uma excelente e abençoada aula!
I - ELIAS - UM HOMEM COMO OS OUTROS
"O coração ansioso deprime o homem, mas uma palavra bondosa o anima" (Pv 12.25 NVI); "As preocupações roubam a felicidade da gente, mas as palavras amáveis nos alegram" (Pv 12.25 BLH). Na verdade o que o sábio está querendo dizer é que quando nos deixamos levar pela ansiedade (incerteza aflitiva), nos tornaremos frustrados (inúteis, iludidos) e com um espírito de derrota. É nesse momento que precisamos de uma palavra de ânimo que renove as nossas forças. Jesus sempre tinha e ainda hoje tem por meio da Igreja, uma palavra amiga às pessoas que estão convivendo com um espírito de derrota. Eu acredito que Jesus por meio de Seu Corpo na terra, a Igreja é a grande esperança para aqueles que estão sobrecarregados e sem um caminho de vitória na vida. O desespero e a depressão tomam conta de muitas vidas e às vezes, daqu eles que se relacionam de um modo mais íntimo com Deus. Ninguém está livre de problemas e dos sintomas que eles causam em nossa área psicológica, mas com a ajuda de Deus podemos superar esses momentos.
2. Um homem sentimental.
Mas Elias não era apenas um homem espiritual, ele não era um super-homem. Vejamos o contraste entre os capítulos 18.46 onde a mão do Senhor veio sobre Elias e ele correu milagrosamente mais do que o carro de Acabe, e 19.3 onde Elias está preocupado consigo mesmo tratando de fugir para salvar a sua vida. Tiago apresenta bem essa situação quando registra as suas palavras: "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos…" (Tg 5.17). Até o capítulo 19, Elias apresenta-se extremamente forte, determinante. Causa-me espanto o contraste entre o padrão de crente apresentado na Bíblia e atuais "super-crentes"que aparentamos ser. Muitos de nós se esforça para apresentar às pessoas que tudo está bem. Muitas igrejas até usam o lema: "para de sofrer". A lição do profeta Elias agora, para nós, é que não somos super-heró is, o desespero e a depressão tomam conta de muitas vidas e às vezes, daqueles que se relacionam de um modo mais íntimo com Deus. Ninguém está livre de problemas e dos sintomas que eles causam em nossa área psicológica, mas com a ajuda de Deus podemos superar esses momentos. Mais ainda: Deus usa pessoas normais! Elias era um homem como outro qualquer. Sujeito às intempéries da vida.
II - AS CAUSAS DOS CONFLITOS DE ELIAS
1. Decepção.
A depressão é uma doença. Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos
neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos. Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais, muitas vezes, são consequência e não causa da depressão. Vale ressaltar que o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética. A prevalência (número de casos numa população) da depressão é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida. A depressão pode ter como causa os fatores psico-sociais, biológicos, físicos e outros. Nosso profeta de Tisbe sofreu com o aparente insucesso do desafio do monte Carmelo . O insensível Acabe conta à sua mulher tudo o que fizera Elias, o fogo que desceu do céu e a morte dos profetas de Baal (cf. 1Rs 18.20-40). O relato, em vez de provocar admiração e conversão, leva Jezabel, irada, a ameaçar de morte o profeta. A cegueira espiritual dominou a rainha, o dominado rei e o povo ainda assim continuou obstinado.
2. Medo.
Este trecho diz, antes de tudo, que a fuga de Elias é uma fuga para salvar-se, mas no contexto do caminho, percebe-se que a Elias desapareceu a vontade de viver. É interessante, pois a Bíblia apresenta Elias como um grande lutador, É importante lembrar que o nome de Elias quer dizer "O meu Deus é YAHWEH". Toda a vida de Elias foi um luta pelo monoteísmo e retorno de Israel ao Senhor, uma luta contra toda qualquer forma de idolatria e de sincretismo. Apesar disso, neste trecho, parece que Elias perdeu a vontade de viver. Acabe relatou o ocorrido no monte Carmelo a sua mulher, Jezabel, que enfurecida, determina a morte do profeta Elias; ela afirma sob juramento que da mesma forma como ele destruiu e matou os profetas de Baal, assim faria com ele. Elias sentiu medo diante da ameaça de Jezabel. E esse medo vai desencadear uma depressão que faz com que Elias, o grande herói e vencedor, se prostre em total desânimo! Elias tomado de cansaço, desânimo, tristeza, orou pedindo a DEUS que Ele o dispensasse do pesado ministério profético e o deixasse partir para o descanso celestial. Os sentimentos de Elias não eram muito diferentes dos do apóstolo Paulo, quando afirmou ter "desejo de partir e estar com Cristo" (Fp 1.23), ou dos heróis da fé, que "desejam uma [pátria] melhor, isto é, a celestial" (Hb 11.16; ver também Moisés, em Nm 11.15). Algumas das razões de estar Elias profundamente desanimado: Aparente fracasso; ele esperava a conversão de todo o Israel, e possivelmente, até mesmo de Jezabel; mas agora, pelo contrário, tinha que fugir para salvar sua vida. A esperança, a labuta e o esforço da sua vida inteira findavam agora em fracasso, conforme parecia (vv. 1-4).
Solidão:
julgava ser ele o único que batalhava pela verdade e justiça de DEUS (v. 10; cf. Paulo, 2 Tm 4.16). Exaustão física depois de uma longa e árdua viagem (vv. 3,4; 18.46).
Os conflitos de Elias estavam associados à decepção e o medo.
III - AS CONSEQUÊNCIAS DOS CONFLITOS
1. Fuga e isolamento.
"Então, Jezabel mandou um mensageiro…" Não foi nem o rei, nem a rainha e nem mesmo o seu exercito. Apenas um mensageiro foi o bastante para lançar Elias numa grande depressão. " Temendo, pois, Elias, levantou-se, e, para salvar a sua vida, se foi…" (19.3). No hebraico a palavra "temendo" 'e o verbo "ver". No inglês esse texto está escrito de forma mais origina;: " Elias viu isso e se foi para salvar a sua vida…" O que ele viu que o fez ter medo? Ele viu a sua sentença de morte. Pela leitura dessa passagem, notamos que o profeta Elias, perseguido pelo rei Acabe e por sua mulher Jezabel, foge para o deserto do Sinai e sobe o monte Horebe, onde tem um encontro com o Senhor. Este é o sentido literal. Uma palavra apenas tirou o profeta do momento de ápice espiritual e o lançou na masmorra do sofrimento emocional.
2. Autopiedade e desejo de morrer.
Elias olhou para este problema e o imaginou maior do que era. Sua emoção se abalou de tal modo, que ele passou a fugir. Quando não controlamos nossas emoções, passamos a fugir de nós mesmos e das pessoas - nossa vida vira um tremendo vazio e perdemos o sentido de quem somos. "Não sou melhor que meus pais". Esta é a motivação que Elias coloca para pedir a Deus a morte. A vida tem sentido quando o sucesso é alcançado. Quando este objetivo desaparece, desaparece também a vontade de viver. Elias, então, parece ter chegado ao topo da vida. Deita-se e dorme. Este sono é como uma antecipação da morte pedida. É uma maneira de aplacar a consciência, de adormecer o sentido de falimento, de fracasso total da vida que Elias está sentindo. Este sentimento negativo tira de Elias toda a energia psíquica e espiritual para continuar a viver. Elias perdeu por um instante o sentido de sua vida, esquecendo-se de que era um profeta escolhido "diretamente" por Deus.
Algumas características que podem descrever a depressão de Elias são: desejo de fuga, isolamento, autopiedade e desejo de morrer.
IV - O SOCORRO DIVINO
1. Provisão física.
O socorro do Senhor chegou até o profeta na forma de provisão física e material: "E deitou-se e dormiu debaixo de um zimbro; e eis que, então, um anjo o tocou e lhe disse: Levanta-te e come" (1 Rs 19.5). Zimbro é um arbusto característico do deserto, cresce até cerca de 2,75m e projeta uma boa sombra que protege do escaldante calor desértico. Depois de estabelecer com a ajuda de Deus uma luta titânica contra os profetas de Baal, na qual se saiu perfeitamente vencedor, Elias ficou desanimado e deprimido. Embora o Senhor tivesse derrotado a Baal, Elias tornou-se um fugitivo de Acabe e Jezabel. Nessa fuga desesperadora, ele precisava alimentar-se e Deus fez com que isso fosse providenciado: "E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas e uma botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se" (1 Rs 19.6). Permit iu que Elias dormisse (vv. 5,6). Fortaleceu-o com alimentos (vv. 5-7). Propiciou-lhe uma revelação inspiradora do seu poder e presença (vv. 11-13). Concedeu-lhe nova revelação e orientação (vv. 15-18). Deu-lhe um companheiro fiel e fraterno (vv. 16,19-21). Noutras palavras, quando o filho de Deus enfrenta o desânimo, no desempenho que Deus mesmo lhe confiou, ele pode suplicar-Lhe, em nome de Jesus, que lhe dê força, graça e coragem, e os capacite diante de tais situações (Hb 2.18; 3.6; 7.25). Em 1Rs 19.8, alguns consideram o jejum aqui mencionado, bem como o de Moisés (Êx 34.28) e o de Jesus (Mt 4.2), como casos de jejuns prolongados. Porém, os casos acima não são de jejum no sentido comum. Moisés, na presença de Deus e envolvido na nuvem, foi sustentado de modo sobrenatural. Elias foi alimentado duas vezes de modo sobrenatural, o que lhe propiciou forças durante quarenta dias (vv. 6-8). Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, e não sentiu fome a nÍ o ser depois de quarenta dias (ver Mt 4.2; 6.16).
2. Provisão espiritual. DEUS cuidou do desalentado Elias de modo compassivo e amorável (Hb 4.14,15).
Diante da ameaça concreta de Jezabel, Elias teve medo e fugiu para salvar a própria vida. Certamente Elias tinha consciência de que YAHWEH o escutava, mas sua reação foi igual a de qualquer homem diante do perigo, partindo para bem longe. No deserto, não suportando mais, clama pela a morte. Parece até incoerência ele fugir com medo da morte e pedir para morrer. Mas Deus, que perscruta o mais íntimo de cada um, prepara para ele algo muito maior. Envia primeiro um anjo com água e um alimento tão forte que o sustenta por quarenta dias e quarenta noites. Seu destino é a fenda da rocha, ou uma caverna, para outros tradutores. Lá, o Senhor lhe pergunta: "Que fazes aqui, Elias?" Este se rende e responde: "Eu me consumo de ardente zelo pelo Senhor…". "Vem para fora e fica diante de mim…". Veio um furacão, u m terremoto e um fogo… Mas o Senhor não estava no furacão, no terremoto nem no fogo… Veio então um murmúrio de uma brisa suave e Elias cobriu o rosto. Ele compreendeu que Deus tinha (e tem) absoluto controle da natureza, mas se manifestava na simplicidade.
O socorro divino trouxe provisão física e espiritual ao profeta Elias.
CONCLUSÃO
Sentir-se abatido de tempos em tempos é algo normal que faz parte da vida. Mas quando o vazio e o desespero tomam conta do seu dia-a-dia, tornando-se permanente, afetando-lhe a motivação e o sentido da vida, pode ser depressão. A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si. É imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado. O crente não está imune a esse mal e precisa de tratamento tanto quanto qualquer mortal. Aprendemos com Elias três importantes ensinamentos:
(a)nós não somos super-heróis, devemos aprender a discernir nossas limitações;
(b)palavras são sementes, devemos aproveitar o melhor delas;
(c)nossos olhos precisam estar fixos no Senhor da glória! N'Ele, que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus"
Um grande abraço
P.SARAN
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