Matéria de Marcelo Sakate, publicada na edição da VEJA que está nas bancas
às 18:09 \ Política & Cia
UM MAU EXEMPLO…
O governo obriga a Petrobras a vender gasolina abaixo do preço de custo, causando prejuízos bilionários mesmo após o reajuste. São as condições das intervenções estatais.
O reajuste do preço da gasolina e do diesel, autorizado pelo governo no fim de janeiro, reavivou entre consumidores a percepção de que os combustíveis são caros demais para um país que celebrou a autossuficiência do petróleo e que não se cansa de festejar o pré-sal.
O descontentamento ganha força quando se faz a comparação internacional. Entre os grandes produtores de petróleo, apenas a Noruega cobra de seus consumidores um preço mais alto do que o Brasil. Na verdade, a gasolina brasileira custa pouco ao sair da refinaria. O preço do litro fica abaixo do cobrado, por exemplo, nas refinarias dos Estados Unidos.
Mas, no trajeto até chegar à bomba, o preço da gasolina nacional mais que dobra. A explicação reside nos impostos, que respondem por mais de um terço do valor final da gasolina brasileira — nos EUA, esse peso é de 13%. No final, a gasolina brasileira é cara para os consumidores, mas barata para a Petrobras.
A empresa é obrigada a importar diesel e gasolina
Ao mesmo tempo em que tributa os combustíveis, o governo mantém os preços sob controle. O objetivo é não pressionar a inflação, mas essa política de manipulação acarreta um dano bilionário à Petrobras. Como a produção interna não consegue acompanhar o avanço da demanda por gasolina e diesel, a estatal é obrigada a importar os dois derivados.
Desde 2009, as vendas de combustíveis aumentaram 38%, o que representa mais que o dobro do ritmo de aumento da produção dos derivados. A importação subiu quase 200% no período. A Petrobras não pode repassar o custo adicional das importações aos consumidores. Banca o subsídio.
Perdas de 23 bilhões em 2012
As perdas da empresa com a sua operação de abastecimento atingiram 23 bilhões de reais em 2012.
A interferência do Estado na petrolífera faz dela uma vítima de fatores que, em tese, deveriam beneficiá-la: o crescimento no consumo e o virtual monopólio no fornecimento do mercado brasileiro. No quadro atual, quanto mais a Petrobras vende combustíveis, mais ela perde dinheiro — situação diametralmente oposta à vivida por empresas guiadas pela lógica de mercado, incluindo aí estatais internacionais.
A norueguesa Statoil, por exemplo, possui carta branca para reajustar preços, como disse o seu presidente, Helge Lund, na entrevista das Páginas Amarelas de VEJA desta semana [e que o blog publicará].
A atividade mais lucrativa da Petrobras hoje é a extração de petróleo. Mas, vítima do custo dos subsídios na revenda, a empresa tem encontrado dificuldade para investir, e a produção permanece estagnada. “Foi um ano difícil. E 2013 será mais difícil ainda”, disse na semana passada a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster.
Perdas afetam o caixa e dificultam investimentos
Somando os dois últimos anos, o prejuízo na área de abastecimento chega a 33 bilhões de reais, o equivalente a 70% do montante que entrou nos caixas da empresa em 2010, com a operação que teve o intuito justamente de arrecadar recursos para os investimentos no pré-sal.
“É uma relação direta”, afirma Walter de Vitto, analista da consultoria Tendências. “As perdas com os combustíveis afetam o caixa da Petrobras e, portanto, dificultam a execução dos investimentos. Enquanto a empresa puder se endividar sem afetar a sua solvência, ela continuará a investir. Mas. quando isso atingir um limite, o que está perto de acontecer, os projetos serão afetados.”
Em 2010, o último ano em que a área de distribuição da Petrobras fechou no azul, o preço médio do barril de petróleo importado foi de 82 dólares: em 2012, foi de 118 dólares. A cotação do dólar em reais também aumentou no período.
Apesar do custo crescente, o governo só autoriza reajustes a conta-gotas, e a perda de competitividade da Petrobras fica cada vez mais evidente. A sua rentabilidade, ou seja, o lucro gerado em relação ao capital investido pelos acionistas, equivale a um terço da obtida pelas americanas Chevron e ConocoPhillips, e a um quarto da auferida pelo gigante Exxon, segundo dados da Economatica.
A ingerência do governo afugenta os investidores.
Há quase cinco anos, ainda embalada pela notícia da então recente descoberta das reservas do pré-sal, a Petrobras chegou a ser avaliada em 310 bilhões de dólares, à frente da Apple.
Na semana passada, seu valor de mercado era de 106 bilhões de dólares, contra 440 bilhões da Apple.
O subsídio tem outros custos. “Ao controlar o preço da gasolina, o governo desestimulou a oferta de etanol, que seria a alternativa para equilibrar o mercado. Isso só reforçou a demanda por gasolina”, diz Alexandre Szklo. professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ.
“Não há novas refinarias de gasolina a caminho. O governo deveria incentivar o etanol.”
O populismo com os combustíveis ao menos não alcançou os níveis da Venezuela. No governo de Hugo Chávez, o litro da gasolina custa apenas 5 centavos de real. É barato assim porque o país é autossuficiente na produção? Nada disso. As refinarias foram sucateadas e não bastam para atender à demanda.
A Venezuela exporta petróleo para os Estados Unidos e importa gasolina americana, que chega aos postos com subsídios que custam bilhões aos cofres do governo. É o desfecho patético do populismo bolivariano, contribuindo para empobrecer o povo e deixar os americanos mais ricos.
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