Modelo de grande sucesso na linha Ford nasceu na família Fairlane em 1959 e ganhou identidade própria nos anos 1960
Em 1955 a Ford tirava de linha o modelo Crestline para renovar o portfólio com produtos mais completos, de olho na batalha com a Chevrolet. Em 1955 estreava o belo Fairlane, um full size com motor V8 4,8 litros e 168 cv no estilo característico da época com combinação de duas cores na carroceria e muito conforto. Com o dinamismo do mercado americano naqueles tempos, o Fairlane ganhava ano a ano novas versões até cruzar os anos 1960 cheio de fôlego, com pouco mais de 370 mil unidades vendidas naquele ano.
A Ford via que havia espaço para inovar. Nascido como Fairlane Galaxie em 1959, a versão de 1961 marca a divisão da linha, onde o Fairlane seguia na trilha dos full size básicos, enquanto o Galaxie pertencia a um segmento superior, com maior conforto, motores mais potentes e mais itens opcionais.
Diferente do Brasil, onde ele durou 16 anos, sofrendo com inúmeras crises econômicas internas e externas, nos Estados Unidos o Ford Galaxie teve uma história um pouco mais curta, 15 anos, porém inserido em um contexto mais positivo e dentro de uma ampla gama de opções. Durante sua vida como cidadão americano, foram oito milhões de unidades produzidas enquanto no Brasil foram pouco mais de 77 mil.
Voltando ao princípio dos anos 1960 o Galaxie brigava com o Bel Air e Impala em diversas versões, mas se destacava pela motorização mais potente e pelo pacote de opcionais bastante amplo. Quando chegou ao mercado, ainda como Fairlane Galaxie, a Ford mostrava a intenção de subir um degrau sem se aproximar dos luxuosos Lincoln.
Em 1961 a Ford registrou 2,2 milhões de unidades vendidas e o Galaxie era uma aposta na classe média americana que melhorava seu nível de vida ano a ano e queria mais. Eram seis versões com o nome Galaxie: Club sedan, Town sedan, Club Victoria, Town Victoria, Starliner e Sunliner (estas duas últimas com apelo esportivo). Entre versões de seis e oito cilindros, conversíveis, sedans e station wagons de todas as configurações, eram 16 modelos.
Como itens de série o Galaxie de 1961 vinha com o “econômico motor” Mileage Maker Six 223 (seis cilindros), Filtro de Óleo de fluxo total, escapamento com duplo revestimento, pintura com acabamento diamante, freios de ajuste automático e painel com filete duplo metálico. Além dos itens de série no Galaxie, o carro vinha alterações no sistema de direção que ficou mais segura e puxadores de porta mais modernos e macios. Com treze cores no catálogo, também era possível escolher a cor do interior em dezenas de combinações. No Galaxie, ar condicionado, direção hidráulica e conjunto elétrico (vidros, travas e bancos dianteiros) eram itens de série.
Para quem desejava mais economia e preço em conta a melhor opção era o “Mileage Maker” (referência à sua durabilidade) seis cilindros 3,7 litros de 115cv, oferecido desde 1954 nas pickups e carros da marca. O Thunderbird 292 V8 era opção intermediária, com 193cv, e também o 352 V8, um pouco maior, com 220cv. O propulsor mais caro era o Thunderbird 390 Special com 300cv, que geralmente equipava os esportivos Sunliner e Starliner, conversíveis de relativo sucesso e alguma dose de exagero. O motor forte era alimentado por três carburadores e algumas versões feitas para as pistas chegavam a acelerar com 400cv de potência, como os carros usados na Daytona. O câmbio podia ser uma caixa manual de três velocidades com acionamento na coluna, o Ford Overdrive com a opção da quarta e econômica marcha, o automático Fordomatic com duas velocidades e também com três marchas (Cruise-O-Matic) que estreou no Brasil anos depois no LTD Landau (inclusive com o mesmo logotipo).
Com a abertura da segunda fábrica nos EUA só para atender o crescimento da demanda e o sucesso do Galaxie a Ford aprimorava o catálogo do Galaxie e oferecia alguns itens inéditos algum tempo depois: ar condicionado com várias opções de temperatura e ciclo quente (Selectaire Conditioner), farol auxiliar para o motorista, recomendado para uso nas estradas (Spotlight mirror), o Kit Continental com tampa diferenciada do porta-malas, frisos especiais anodizados, protetores nos para-choques, lavadores com acionamento elétrico e espelhos retrovisores especiais com logotipo da Ford. A carroceria também ganhava uma proteção galvanizada, para evitar corrosão. Com pacote tão atrativo a Ford conquistava os consumidores que não podiam pagar por um Lincoln mas queriam o carro com os mesmo opcionais, sobretudo o câmbio automático que era preferência nacional, direção hidráulica e ar condicionado. O Galaxie conquistou a classe média em pouco tempo e não parou de se renovar até 1974, quando saiu de linha para dar lugar a modelos mais modernos.
Neste mesmo ano a palavra Galaxie sairia discretamente do catálogo e os modelos ganhariam outros sobrenomes como Custom 500 e LTD. No Brasil, por falta de outras opções, o Galaxie continou a ser fabricado e foi renovado em 1976 (com inspiração na linha Lincoln), brigando com modelos inferiores como o Comodoro e também os modelos de melhor acabamento da linha Dodge, igualmente enfraquecidos com a crise econômica. No início dos anos 1980 a Ford estreava o Del Rey, um carro de nível inferior mas que tinha os mesmos itens presentesno Galaxie, com a intenção de substituí-lo. Seu final viria em abril de 1983 após um tempo de vendas em baixa e demanda quase inexistente por carros com o seu porte no mercado nacional. Em Abril de 1983 o Galaxie deixava as linhas de produção de forma saudosa pelos compradores de carros da linha norte-americana.
Marcos Camargo Jr. é jornalista, pós graduado em Comunicação Corporativa, colecionador de clássicos nacionais e escreve sobre carros antigos para diversos sites, revistas e programas de TV
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