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Vejam como Lula fez papel de lobista em prol dos interesses de Eike Batista


PARECIA PROMISSO -- Eike, Lula e o lobista Pires Neto deixam o Açu no jato do empresário: ali, eles selaram o plano para tomar das mãos dos capixabas o estaleiro Jurong (Foto: FOTOS CARLOS GREVI/AGêNCIA URURAU/AGIENCIA O GLOBO)
PARECIA PROMISSOR -- Eike, Lula e o lobista Pires Neto deixam o Açu no jato do empresário: ali, eles selaram o plano para tomar das mãos dos capixabas o estaleiro Jurong (Foto: Carlos Grevi /Ag. Ururau/Ag. O Globo)
Reportagem de Malu Gaspar e Daniel Pereira, publicada em edição impressa de VEJA
QUASE DEU CERTO
Com a ajuda do “homem do partido” no grupo EBX, o ex-presidente Lula recrutou ministros para salvar os negócios de Eike Batista. Só faltou combinar com o adversário
A foto acima, tirada em 24 de janeiro, mostra o ato final de um encontro de negócios para lá de promissor. Depois de passarem a manhã inspecionando as obras do Porto do Açu, empreendimento de Eike Batista no litoral norte fluminense, o ex-presidente Lula e o bilionário engataram um papo animado, do qual também participou o diretor de relações institucionais do grupo EBX, Amaury Pires Neto.
A bordo de um ônibus, Lula fez um entusiasmado discurso sobre o que viu. A seu lado, o diretor Pires Neto saboreava um momento de glória. Contratado por Eike em setembro de 2012, ele havia sido defenestrado um ano antes do Fundo de Marinha Mercante, aonde chegou pelas mãos do deputado mensaleiro Valdemar Costa Neto, do PR, em meio a um escândalo que atingiu o Ministério dos Transportes.
Detalhe de Lula, Eike e o lobista, no aeroporto (Foto: Carlos Grevi / Ag. Ururau / Ag. O Globo)
Detalhe de Lula, Eike e o lobista, no aeroporto (Foto: Carlos Grevi / Agência Ururau / Agência O Globo)
Mesmo assim, apregoava ser um homem “do partido” — nesse caso, o PT, e não o PR. Foi Pires Neto quem cunhou, no império X de Eike, o hábito de se referir a Lula pelo codinome “instituto” — pelo fato de serem frequentes os encontros da turma no Instituto Lula, em São Paulo.
O “instituto” deu o tom de otimismo à conversa, e saíram todos dali certos de que o Açu teria novo inquilino: o estaleiro que a Jurong Shipyard, uma das grandes companhias de construção naval do mundo, controlada pelo governo de Singapura, está erguendo no Espírito Santo.
A transferência do investimento de 500 milhões de reais para o Açu era parte de um plano arquitetado semanas antes por Eike, Lula e o governador Sérgio Cabral (PMDB), amigo de ambos, num almoço na sede do grupo X, no centro do Rio.
À mesa, em vez do habitual tom confiante e da pose de empresário de sucesso, Eike clamou por socorro. Sem a ajuda do governo, dizia, teria de abandonar investimentos e enfrentar a quebra de algumas empresas. Ele se queixou ainda de a Petrobras ter cancelado, em novembro, a contratação de cinco sondas da OSX e de um parceiro grego.
E expôs seu plano, enfatizando que seria providencial a associação com a Jurong. Resolveria o impasse criado pela debandada de clientes do Açu e ainda passaria adiante o estaleiro da OSX, que está longe de ficar pronto e já custou bem mais do que o previsto. A Petrobras, por sua vez, poderia compensá-lo contratando duas sondas que a petroleira OGX já encomendou no exterior, mas que ficarão ociosas, dada a pouca quantidade de óleo nos reservatórios.
Com a ligeireza de quem acha muito natural que o Estado sirva aos interesses do PT e aos seus próprios, Lula desencadeou uma operação de governo para ajudar o amigo. Usando chapéu de ex-presidente, comportou-se como lobista — algo que já vinha fazendo em viagens
pelo mundo a soldo de empreiteiras, como revelou a Folha de S.Paulona semana passada.

Só faltou combinar com os capixabas, que não gostaram nada da ideia de ficar a ver navios. 
No princípio, o plano se desenrolou tal como previsto. Em 16 de janeiro, a pedido de Lula, a presidente Dilma Rousseff recebeu Eike para uma conversa e prometeu ajudá-lo a encontrar parceiros para o porto. Na primeira semana de fevereiro, segundo VEJA apurou, foi a vez de entrar em cena Guido Mantega,
que além de ministro da Fazenda é presidente do conselho de administração da Petrobras.

Ao receber executivos da Jurong em Brasília, Mantega deu o recado: em razão do atraso no desenvolvimento do pré-sal, explicou o ministro, o governo achava que a tendência era que os estaleiros nacionais se unissem para evitar ociosidade. Assim, o melhor para a Jurong seria se associar a Eike na OSX e construir seu estaleiro no Rio, algo que o governo via com muito bons olhos.
A VEJA, Mantega confirmou a reunião, mas disse que o objetivo do encontro seria o oposto: cobrar agilidade nas obras da Jurong no Espírito Santo. Naquela mesma semana de fevereiro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, agia em outra frente. Ele telefonou ao embaixador do Brasil em Singapura, Luís Fernando Serra, e pediu a ele que marcasse um encontro com o alto escalão da Jurong.
PRESSÃO, EU? -- O ministro Pimentel: reunião com executivos de Singapura dias depois do encontro Dos asíáticos com Guido Mantega (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters)
PRESSÃO, EU? -- O ministro Pimentel: reunião com executivos de Singapura dias depois do encontro Dos asíáticos com Guido Mantega (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters)
A iniciativa do embaixador deu à reunião com Pimentel status de compromisso de Estado — justamente o que os petistas precisavam para dobrar os asiáticos. Até então, as tentativas de aproximação do presidente da OSX, Carlos Bellot, com o CEO da Jurong no Brasil, Martin Cheah, haviam fracassado.
Mas o contato do embaixador fez os ventos mudarem de direção. Acertou-se a reunião dos singapurianos com Pimentel em Brasília, além de uma visita ao Açu. O encontro ocorreu no dia 13 de março e a visita, no dia 18. Mas, àquela altura, o plano já começara a fazer água.
Há duas semanas, um executivo da Jurong no Brasil alertou o governo do Espírito Santo sobre a movimentação de Mantega e Pimentel. O governador Renato Casagrande (PSB) já sabia que o diretor Pires Neto estava trabalhando firme pela transferência do investimento.
Mas se revoltou diante do que ouviu do embaixador em Singapura: Pimentel havia, sim, endossado o lobista e solicitado que Serra selasse o tal encontro.
O governador foi ao ministério cobrar explicações, mas Pimentel jurou que só tratara da “ampliação de investimentos no país”, e ainda sustentou que seu nome fora usado indevidamente pelo embaixador. Serra foi chamado ao Brasil para prestar esclarecimentos ao Itamaraty. Também foi convidado a depor no Congresso. Em conversa telefônica com o chanceler Antonio Patriota, o diplomata afirmou ter e-mails e ofícios que comprovam sua versão.
Diante da repercussão do caso, a Jurong divulgou nota garantindo que não sairá do Espírito Santo. Eike, Lula e os ministros preferiram silenciar.

29/03/2013
 às 14:00 \ Política & Cia

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