'Confiem no povo da Venezuela', diz deputada opositora

María Corina Machado, uma das principais vozes da oposição a Nicolás Maduro, participou de audiência pública no Senado, em Brasília
Marcela Mattos, de Brasília
A deputada venezuelana Maria Corina Machado participa de audiência pública para debater a crise política na Venezuela, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado
A deputada venezuelana Maria Corina Machado participa de audiência pública para debater a crise política na Venezuela, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado (Ueslei Marcelino/Reuters)
Cartaz do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, com a palavra 'Ditador' é visto em um muro de Caracas, na Venezuela
Milhares de manifestantes participam de um protesto convocado pelo líder da oposição venezuelana Leopoldo Lopez, em Caracas - (18/02/2014)
(Atualizada às 19h40)
A deputada María Corina Machado, uma das líderes da oposição na Venezuela, visitou Brasília nesta quarta-feira e reclamou da indiferença do governo brasileiro diante da repressão aos manifestantes que desde fevereiro vão às ruas contra o presidente Nicolás Maduro. Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, relatou as agressões que sofreu, ouviu manifestantes gritarem contra sua presença no Parlamento e pediu um voto de confiança ao povo venezuelano. Para ela, o país "despertou" e sua transformação é algo "irreversível".
“Tenham confiança no povo da Venezuela. Essa é a lição dos últimos dois meses. Muitos diziam que a Venezuela estava resignada, paralisada. Mas um chamado à consciência e aos corações por parte dos estudantes despertou o país e esse é um processo irreversível que vai transformá-lo”, disse a opositora. 
Manifestante queima foto do ex-presidente Hugo Chávez em Caracas
María Corina denunciou a repressão de um “regime sem escrúpulos” em seu país, dizendo que “quando a uma sociedade se fecham as vias institucionais, as pessoas têm duas opções: ou hesitam ou vão às ruas pacificamente lutar pela liberdade”. Ela exibiu aos senadores um vídeo com cenas da repressão aos protestos e contou que sua família está aterrorizada diante das agressões que ela própria sofreu. “Sofri agressões físicas dentro do Parlamento e nas ruas. É uma estratégia do poder público para me aniquilar. Tentaram pela força, com a agressão psicológica e agora pela via criminal. Creio que é uma confissão que põe em evidência ao mundo inteiro o caráter ditatorial da Venezuela”.
Estudantes sentam na rua sobre a frase 'A censura é ditadura', durante um protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014)
A venezuelana disse ainda que audiências como essa de que estava participando é algo “impensável” em seu país. “Não há liberdade de expressão. Como pode se chamar de Constituição algo que persegue, censura e tortura a população?”, disse. Para María Corina, na Venezuela não há um conflito ideológico entre esquerda e direita, mas um conflito entre “a ditadura e a democracia, entre a Justiça e os atropelos, entre um regime opressor e um povo que clama por liberdade”.  
Manifestantes da oposição seguram cartazes em frente a um bloqueio de policiais durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas - (17/02/2014)
Silêncio conivente – Logo ao desembarcar na capital, a opositora falou sobre o silêncio do governo brasileiro diante da repressão aos protestos no país vizinho, e disse que "o tempo para a indiferença já passou". "O regime do senhor Maduro nessas últimas semanas ultrapassou uma linha vermelha”, disse. “Na Venezuela, não há democracia. Há um regime que atua como uma ditadura e por isso não há espaço para a indiferença. Porque a indiferença seria a cumplicidade".
Manifestante da oposição se coloca em frente a uma barreira policial durante protesto contra o governo do presidente Nicolas Maduro, em Caracas
Já no Senado, ela classificou de “incompreensível” a postura de muitos países, “que foram tão ativos nos casos de Honduras e Paraguai e dão as costas à Venezuela”. Nos dois casos citados pela opositora, o Brasil teve uma postura ativa: condenou a deposição do presidente hondurenho Manuel Zelaya – que rasgou a Constituição de seu país para dar um golpe – e suspendeu o Paraguai do Mercosul depois do impeachment de Fernando Lugo (que respeitou a Constituição), em uma manobra para incluir a Venezuela no bloco, já que o Paraguai era o único país ainda contrário à entrada do novo membro. Diante das barbaridades cometidas contra opositores na Venezuela, o Brasil opta por apoiar o Estado repressor. 
Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014)
Mandato cassado – O governo Maduro endureceu a repressão contra os estudantes e também contra opositores como María Corina, que teve seu mandato cassado na última semana sob a alegação de que teria ferido a Constituição ao aceitar usar o espaço do Panamá na Organização dos Estados Americanos para falar sobre a crise em seu país. O depoimento foi silenciado pela maioria dos países membros da entidade, incluindo o Brasil. O Supremo Tribunal de Justiça, sob influência do chavismo, manteve a cassação.
Homem é socorrido em manifestação contra o governo da Venezuela
Manifestação contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, em Caracas 
A deputada, uma das mais votadas da Venezuela, rejeita a decisão. Ela destacou que chegou ao Brasil “mais deputada do que nunca”, pois esse cargo lhe foi dado pelo povo, “e só o povo” pode tirá-lo. (Continue lendo o texto)
Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014)
O convite para falar no Senado foi feito na semana passada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Os dois se encontraram em Lima, no Peru, e o peemedebista disse ter ficado “muito chocado" com o que ouviu da opositora venezuelana. A convidada foi recebida na comissão sob gritos de “golpista” por um pequeno grupo que usou o mesmo termo que Maduro emprega contra os protestos da oposição. Na verdade, o que motiva as manifestações diárias em várias cidades venezuelanas são as políticas de Maduro, que contribuíram para afundar ainda mais a economia venezuelana, aumentar a insegurança e apertar o cerco contra a liberdade de expressão e de imprensa. 
Estudantes venezuelanos caminham em meio a bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014)
Estudantes venezuelanos entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (12/03/2014)
Manifestantes da oposição entraram em confronto com a polícia durante protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas - (05/03/2014)
Manifestante da oposição segura um boneco do presidente Nicolás Maduro durante protesto em Caracas - (05/03/2014)
Uma militar e uma moradora do bairro de 23 de Enero, em Caracas fazem orações no aniversário de morte de Hugo Chávez
Homem enfrenta a Guarda Nacional Bolivariana durante protesto na Venezuela, nesta quinta-feira (27)
Manifestantes participam de um protesto contra o governo de Nicolás Maduro nesta quinta-feira (27), em Caracas, na Venezuela
Manifestante segura um cartaz em frente a policiais da guarda nacional em frente a embaixada de Cuba em Caracas, na Venezuela - 25/02/2014
(Com agência EFE e Estadão Conteúdo)

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