PT x PT O dilema do PT para se livrar do deputado-bomba

 

O partido usou o ex-presidiário Luiz Moura, líder de perueiros, para crescer na Zona Leste de São Paulo. Agora chegou a fatura

Felipe Frazão
EXPLOSIVO – PT articula a expulsão do deputado estadual Luiz Moura
EXPLOSIVO – PT articula a expulsão do deputado estadual Luiz Moura (Vera Massaro/ALESP)
Nos últimos anos, o PT conseguiu construir um importante reduto eleitoral na capital paulista. 
Na populosa Zona Leste da cidade, o partido ganhou força pelas mãos de dois irmãos, o vereador Senival Moura e o deputado Luiz Moura, ambos ex-líderes de perueiros. 
Os votos da região foram decisivos para os petistas nas últimas eleições, especialmente para a vitória do prefeito Fernando Haddad. 
Tudo funcionou bem até maio, quando veio a público a informação de que policiais flagraram Luiz Moura, ex-presidiário, em uma reunião com sindicalistas na garagem de uma cooperativa na qual também estavam dezoito membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). 
Desde então, o deputado tornou-se um fardo difícil para o partido carregar. E o PT colocou em curso uma desesperada articulação para rifá-lo antes do início da campanha de Alexandre Padilha ao Palácio dos Bandeirantes.
Agora, o comando do PT paulista se prepara para enfrentar, na Justiça e nas instâncias do partido, uma semana decisiva para o futuro da legenda nas eleições deste ano. 
Entra na fase final o processo disciplinar contra Luiz Moura. O partido trabalha para afastar a qualquer custo seu deputado-bomba da campanha – e dos holofotes – para evitar um desgaste ainda maior durante as eleições no maior colégio eleitoral do país.
O movimento começou no fim de maio, articulado pelos comandos estadual e nacional do partido. 
No dia 2 de junho, a Comissão Executiva do PT paulista suspendeu a filiação de Luiz Moura por sessenta dias – o que o impediu de participar da convenção estadual. Moura não aceitou e entrou na Justiça, alegando ter sido afastado irregularmente, sem direito à ampla defesa. 
O deputado foi à tribuna na Assembleia Legislativa e justificou sua presença, em março, no encontro de perueiros onde estavam bandidos do PCC. Segundo ele, era uma tentativa de evitar a adesão dos donos de lotação a uma greve de motoristas e cobradores de ônibus na cidade. 
Na época, alegou, em sua defesa, que não havia investigações contra ele. Mas agora há.
Nesta semana, o site de VEJA mostrou que o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa, apresentou à Justiça uma representação criminal contra o deputado. 
O chefe do Ministério Público paulista enxergou indícios de que Moura pode ter cometido sete crimes diferentes: organização criminosa, extorsão, constrangimento ilegal, apropriação indébita, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e abuso de autoridade. 
Como o petista tem foro privilegiado, o Órgão Especial do Tribunal de Justiça terá de autorizar a abertura do inquérito – o que também deve ocorrer nesta semana, quando vence o prazo de defesa prévia.
A data decisiva para o desfecho do caso Luiz Moura é a próxima sexta-feira, dia 1º de agosto, quando uma reunião do Diretório Estadual deve homologar ou não a punição aplicada pela Comissão Executiva do PT paulista, que notificou o deputado a apresentar sua defesa por escrito no processo disciplinar. 
A Executiva Estadual aguardará a manifestação de Moura até o dia 31 para emitir parecer sobre a conduta dele. Um dia antes, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidirá sobre a guerra de liminares entre os advogados do deputado e o setor jurídico do partido. 
O agravo de instrumento do PT contra a candidatura de Luiz Moura está na pauta de julgamento da 5ª Câmara de Direito Privado. 
Caso seja derrotado, Moura ainda poderá recorrer ao Diretório Nacional do PT, na esfera partidária, e à instância superior da Justiça.
O advogado do parlamentar, João de Oliveira, classificou a investigação do procurador-geral de Justiça como "oportunismo político". Oliveira disse desconhecer a notificação do PT para que o parlamentar se explique no âmbito partidário até quinta-feira.

É fato que a cúpula petista pretende expulsar Luiz Moura e é pouco provável os integrantes da Comissão Executiva, os mesmos que aprovaram a suspensão por unanimidade, tenham uma interpretação diferente agora, com a campanha em curso. 
Os dirigentes afirmam que a situação de Moura “agravou-se politicamente” depois que o parlamentar ingressou na Justiça comum contra o partido e anulou, ainda que temporariamente, a suspensão de sessenta dias e a convenção estadual do partido. A atitude de Moura chegou a ameaçar a candidatura de Alexandre Padilha ao governo do Estado. 
"Se dependesse de mim ele já estava expulso há muito tempo", afirmou, no dia em que o PT derrubou a liminar judicial, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT) – homem de confiança escalado pelo ex-presidente Lula para coordenar o comitê da presidente Dilma Rousseff em São Paulo. 
O próprio Padilha diz que o Luiz Moura “é caso encerrado no PT”. Mas o partido não esperava que o juiz considerasse a suspensão "ilícita" e autorizasse Luiz Moura a solicitar à Justiça Eleitoral o registro da própria candidatura. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ainda não validou a candidatura do deputado. 
Peça importante na engenharia para montar o reduto eleitoral na Zona Leste, Moura agora é tratado como inimigo e traidor por diferentes setores do partido. O comando da legenda está nas mãos da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), cujos líderes articulam sua expulsão. 
No início de junho, a tendência minoritária Articulação de Esquerda chegou a alertou seus militantes sobre o potencial explosivo do deputado, assim que a participação dele na reunião com integrantes do PCC veio a público. 
No fim do mês, a corrente publicou uma resolução ainda mais severa sobre o parlamentar, taxado de "integrante da quinta coluna da direita no interior de nossas fileiras". Mas nem sempre foi assim.
Durante pelo menos doze anos, o reduto eleitoral montado pelos irmãos Moura, integrantes da corrente PT de Lutas e de Massas (PTLM) rendeu expressivas votações nominais a figurões do partido. Os candidatos do PT beneficiaram-se da influência do deputado Luiz Moura e do seu irmão, o vereador Senival Moura. Ambos são também dirigentes de cooperativas de perueiros. 
Em anos diferentes, a base política dos Moura em Guaianazes, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista serviu, por exemplo, aos deputados federais petistas Jilmar Tatto, atual secretário de Transportes da gestão Haddad, e Arlindo Chinaglia, vice-presidente da Câmara dos Deputados. 
Em 2010, os comitês de campanha de candidatos como a ministra Marta Suplicy (Cultura) e o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) doaram recursos para Luiz Moura. Ele foi eleito com 104.705 votos em sua primeira disputa eleitoral para a Assembleia Legislativa. 
Na ocasião, o fato de Luiz Moura ser ex-presidiário, condenado por assalto à mão armada nos anos 1990, não impediu o partido de lançá-lo candidato.
Os planos dos irmãos Moura eram mais ambiciosos neste ano. Luiz Moura pretendia concorrer ao segundo mandato na Assembleia Legislativa. Com o impedimento, por enquanto, ele foi substituído na chapa petista pelo ex-chefe de gabinete da Subprefeitura de Guaianazes Jorge do Carmo, indicado por Senival Moura – o vereador concorrerá a uma cadeira em Brasília, na Câmara dos Deputados. Eleito pelos motoristas de ônibus, o vereador Vavá dos Transportes (PT), recém-aliado a Luiz Moura, permanecerá na Câmara Municipal como representante do grupo.
Caso se safe no PT, Luiz Moura ainda poderá ser alvo de mais um processo disciplinar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa. As chances de cassação, porém, são remotas, dado o histórico de corporativismo da Casa – no mês passado, os parlamentares postergaram para o início de agosto a decisão sobre a abertura do processo. 
Nesse período, Moura voltou a infringir as normas da Assembleia: vestido com a camisa da seleção brasileira, dirigiu um carro oficial com a mulher e a filha no dia da abertura da Copa do Mundo. Questionado, ficou em silêncio. Talvez porque, a exemplo dos motivos que levaram o PT a tratá-lo tão bem durante anos, seja tudo muito difícil de explicar.

Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a família em posto da Zona Leste, na abertura da Copa do Mundo
Deputado estadual Luiz Moura (PT) dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a mulher e filha no dia da abertura da Copa do Mundo - Felipe Frazão/VEJA.com

Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a família em posto da Zona Leste, na abertura da Copa do Mundo
Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura fala ao telefone em posto de gasolina invadido por black blocs horas antes da abertura da Copa - Felipe Frazão/VEJA.com

Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a família em posto da Zona Leste, na abertura da Copa do Mundo
Chevrolet Cruze AL-67, da Assembleia Legislativa, estacionado em posto da Zona Leste no dia de abertura da Copa do Mundo - Felipe Frazão/VEJA.com

Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a família em posto da Zona Leste, na abertura da Copa do Mundo
Bomba de gasolina danificada por black blocs no posto onde o deputado Luiz Moura (PT) era tratado como 'dono' no dia da abertura da Copa - Felipe Frazão/VEJA.com
Suspenso do PT, deputado estadual Luiz Moura dirige carro oficial da Assembleia Legislativa com a família em posto da Zona Leste, na abertura da Copa do Mundo
Bico injetor de gasolina quebrado durante ataque de manifestantes, no posto em que o deputado Luiz Moura estacionou carro oficial da Assembleia - Felipe Frazão/VEJA.com

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