UM GOL DA POLÍCIA

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BOA NOTÍCIA: Um gol da Polícia contra os criminosos do PCC em São Paulo

UM GOL DA POLÍCIA
A Operação Bate Bola prende quarenta membros do PCC, incluindo o seu cérebro contábil, e recolhe mensagens trocadas pelos bandidos nos moldes da máfia italiana – com adaptações
Reportagem de Luciano de Pádua publicada em edição impressa de VEJA
As prisões ocorreram duas horas antes do jogo Brasil x Alemanha. Numa estação de metrô da Zona Sul de São Paulo, policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, prenderam nove mulheres. A partir daí, foi lançada a ofensiva final.
Quatro dias depois da derrota do Brasil por 7 a 1, a Operação Bate Bola já somava quarenta presos. São todos – homens, mulheres e dois adolescentes – acusados de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC), a facção criminosa de São Paulo que surgiu extorquindo detentos na cadeia e enriqueceu traficando cocaína na rua.
Com a participação de mais de 200 policiais, a operação foi resultado de seis meses de investigação e 29 horas de conversas gravadas. Seu principal triunfo foi desvendar a estratégia financeira do PCC. “Conseguimos traçar um retrato atualizado desse grupo criminoso”, diz o delegado Wagner Giudice, diretor do Deic. “Sabemos agora como os seus integrantes se movimentam e temos a certeza de quem é quem. Mas isso é só o começo, não podemos parar.”
Com o cérebro contábil da facção, Glauce O’Hara, e dois de seus auxiliares, todos presos, a polícia recolheu dezenas de bilhetes que revelam detalhes sobre como os criminosos reformularam os seus negócios nos últimos anos. VEJA teve acesso a esses papéis – a saída que a organização encontrou para que os integrantes soltos conti­nuas­sem a receber ordens da cúpula, quase toda encarcerada em presídios de segurança máxima, onde o acesso a telefones celulares é mais difícil.
O método emula aquele usado por décadas por mafiosos italianos, que escreviam suas ordens em minúsculas tiras de papel, os pizzini, que os visitantes levavam para fora da cadeia escondidas entre os dedos dos pés. Quanto aos men­sageiros do PCC, os papéis são dobrados até que caibam numa cápsula, introduzida no ânus, no caso dos homens, ou na vagina, no caso das mulheres.
A Penitenciária de Presidente Venceslau, onde os principais dirigentes da organização criminosa estão enjauladas (Foto: Secretaria de Administração Penitenciária/SP)
A Penitenciária de Presidente Venceslau, onde os principais dirigentes da organização criminosa estão enjauladas (Foto: Secretaria de Administração Penitenciária/SP)
Os bilhetes revelam, por exemplo, o novo status do líder máximo do grupo. Marcos Willians Herbas Camacho, antes chamado de Marcola e agora apelidado Russo (segundo a polícia, a nova alcunha é uma referência a duas autoproclamadas simpatias do bandido, pelo marxismo e por Dostoiévski), passou a ser uma espécie de sócio minoritário do PCC. Marcola, bem como vários outros dirigentes do PCC, cumprem pena na unidade de segurança máxima da Penitenciária de Presidente Venceslau, 610 quilômetros a leste de São Paulo.
Uma das mensagens mostra que o agora ex-Marcola tem uma cota “pessoal” nos lucros das drogas vendidas pela facção – o que ficou comprovado com a descoberta da existência de um cofre onde estariam guardados 628 795,63 reais atribuídos à “família” e outros 34 362 reais pertencentes ao Russo.
Desde 2010, a facção criminosa vem passando por uma reforma administrativa. Em vez de fornecer a droga para ser vendida por bocas de fumo independentes, passou ela mesma a cuidar do varejo. Agora, o PCC tem o controle de toda a cadeia produtiva – traz a droga do exterior e a “batiza”, embala e entrega ao consumidor final. Só na capital paulista, tem hoje 69 pontos de venda.
Cada produto é chamado por um código inspirado em marcas de cerveja: “Skol” significa crack; “Antarctica”, maconha; “Brahma”, cocaína para o mercado interno; e “Itaipava”, cocaína para exportação.
A nova estratégia deixou a facção mais rica. Num dos bilhetes, um dos contadores comemora um lucro recorde. Outro comenta que precisa comprar com urgência máquinas de contar dinheiro. Segundo as investigações, o PCC hoje fatura em torno de 1,4 milhão de reais por semana só na capital. É o triplo do que lucrava em 2011.
Somados os ganhos da Grande São Paulo e da Baixada Santista, o faturamento chega a 90 milhões de reais por ano, o equivalente ao de uma empresa de médio porte. A polícia conta com o fato de ter encontrado 40 quilos de cocaína em nome de Marcola/Russo para provar que ele se mantém ativo no tráfico e conseguir uma nova transferência sua para o Regime Disciplinar Diferenciado, de isolamento total.
Sem seu capitão e com a tática de jogo revelada, o PCC fica mais fraco. Mas está longe de deixar o campo.

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