A entrevista com a candidata que fala dilmês dirá se o Jornal Nacional merece respeito


ATUALIZADA ÀS 19H20

O desempenho de William Bonner e Patrícia Poeta na entrevista com Aécio Neves não registrou nenhum pecado mortal. Abstraídas a exumação de cadáveres já devidamente autopsiados, ambos agiram como devem agir os jornalistas. Escolheram temas relevantes para os espectadores, dando preferência aos que poderiam incomodar o entrevistado, e exigiram respostas claras. Incisivos o tempo todo, não ultrapassaram a fronteira da civilidade nem incorreram em grosserias. Ao contrário do que se verá nos debates eleitorais transmitidos pela TV, não fizeram acusações. Fizeram perguntas.
Amparado em argumentos consistentes e contra-ataques oportunos, o senador do PSDB sobreviveu sem ferimentos a uma sabatina cuja taxa de risco se tornou extraordinariamente superior à dos debates entre candidatos. É um tiroteio verbal que transforma minutos em horas. Uma frase infeliz, uma resposta desastrada, uma gafe bisonha demais ─ quaisquer palavras, gestos ou mensagens fisionômicas que produzam manchetes negativas nos jornais do dia seguinte decretam a derrota que pode desdobrar-se em efeitos desastrosos. As edições desta terça-feira atestam que, na pior das hipóteses, Aécio conseguiu em empate. Não é pouca coisa: nesse caso, empate é vitória.
Em vez de lastimar a postura da dupla de jornalistas, a oposição deve exigir que a performance de Bonner e Patrícia seja reprisada com Dilma Rousseff. Também por isso, o cenário do duelo não pode mudar de endereço. Aécio lutou em terreno hostil e com as armas escolhidos pelos oponentes. Se for entrevistada no Planalto, Dilma jogará em casa e reduzirá os jornalistas a emissários da Globo. A regra que autoriza o chefe de governo a escolher o local de um encontro com jornalistas deixa de existir no momento em que se torna candidato. A entrevistada não é a presidente Dilma. É a Dilma em campanha pela reeleição.
No JN, Aécio teve de voltar ao caso do aeroporto de R$ 13 milhões devassado pela imprensa sem que aparecesse uma única e escassa irregularidade. Dilma tem de localizar no mapa do Brasil pelo menos um dos 800 aeroportos que prometeu concluir até o fim do mandato. Também precisa esclarecer por que o único porto inaugurado em seu mandato foi construído em Cuba, já engoliu quase 1 bilhão de dólares e virou segredo de Estado.
O candidato tucano foi interrogado sobre o “mensalão mineiro”, com o qual nada tem a ver. Dilma deve justificar a nomeação de dois ministros que absolveram mensaleiros condenados pelos juristas que substituíram. Se não faltaram temas  para fustigar Aécio durante 15 minutos, nem a anexação ao JN do horário da novela será suficiente para a exposição de todos os casos de polícia, vigarices bilionárias e histórias muito mal contadas que tiveram a afilhada de Lula como protagonista ou coadjuvante.
Ao topar com entrevistadores sem medo, Dilma invariavelmente perde o rumo, o norte e o que resta de juízo. Acuada por verdades, recorre a álibis mambembes, cifras falsificadas, desculpas esfarrapadas e mentiras de pernas curtíssimas para prolongar a farsa encenada há 12 anos. Contestado ou corrigido, o neurônio solitário entra em pane e sucumbe a outro chilique. Foi o que aconteceu nesta segunda-feira, durante uma entrevista à RBS no Palácio da Alvorada. Leia a reportagem de Gabriel Castro no site de VEJA. E ouça o áudio que reafirma o espantoso despreparo da governante à caça de um segundo mandato.
“O senhor não respondeu à minha pergunta”, replicou William Bonner já no começo do interrogatório de segunda-feira. Se  for tratada como os adversários, Dilma ouvirá a cada resposta a mesma cobrança. Além do acervo de mentiras, a candidata vai ampliar o oceano de palavrórios sem pé nem cabeça. Assim que ecoar a primeira maluquice em dilmês, Bonner está obrigado a usar a bela voz para formular a réplica que Dilma merece ouvir desde o comício de estreia: “Não entendi a resposta. A senhora pode explicar direito o que está querendo dizer?”

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