Aécio põe em prática estratégia para tirar Marina do 2º turno

Tucano orientou equipe a explorar 'falta de preparo' da presidenciável, que nunca assumiu cargo Executivo. Na Bahia, afirmou: tem propostas melhores

Laryssa Borges, de Salvador
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, durante evento realizado em Salvador (BA), neste sábado (23)
O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, durante evento realizado em Salvador (BA), neste sábado (23(Sérgio Pedreira/Folhapress)
Depois de detectar, em pesquisas encomendadas pelo PSDB, que a candidata do PSB à Presidência da República Marina Silva aparece isolada em segundo lugar nas intenções de voto, o candidato tucano ao Planalto, Aécio Neves, orientou apoiadores a explorar a “falta de preparo” da concorrente, que nunca assumiu um cargo no Executivo e é considerada, na avaliação de tucanos, “idealista demais”. A estratégia do PSDB inclui ainda colocar Aécio como um candidato que tem equipe técnica “mais preparada” para conduzir o governo, e mais habilidade política para negociar com o Congresso Nacional temas de interesse do país, como a reforma tributária – ponto prometido tanto pelo tucano quanto pelo ex-candidato do PSB Eduardo Campos.
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Neste sábado, ao lançar o plano Nordeste Forte, um conjunto de medidas para desenvolver os Estados da região, Aécio disse que, na disputa presidencial, se cercou “das mais qualificadas pessoas, independentemente de partidos políticos,” para elaborar as “melhores propostas” e “conseguir consolidá-las”. O discurso de recado direto a Marina Silva ataca a fama de desagregadora e a dificuldade da candidata na composição de alianças.
“Não há nessa campanha eleitoral e no Brasil do nosso tempo ninguém que tenha um time de tanta qualidade, pessoas tão experientes e tão capazes de transformar o Brasil como eu tenho”, disse. “A política não pode ser vista como uma ação solitária. Quanto mais ando por esse país mais me convenço que temos as melhores propostas e as melhores condições para colocar essas propostas em consolidação”, completou o tucano.
“Tenho enorme respeito pela candidata Marina e ela terá oportunidade de apresentar ao Brasil as suas propostas, mas reafirmo: temos um conjunto de projetos, discutidos amplamente com a sociedade brasileira, que são melhores para o Brasil. Queremos acreditar que é possível sonhar e executar, transformar esses sonhos em realidade. Ninguém tem o time qualificado que temos hoje para permitir que, rapidamente, o Brasil resgate a confiança em si próprio, volte a sonhar com um futuro melhor”, disse.
Ainda em recados a Marina e em referência aos “sonháticos” – grupo de apoio à candidata do PSB – Aécio disse ser o candidato com “as melhores condições de transformar sonhos de brasileiros em realidade”. “Temos as melhores propostas do Brasil”, declarou. A tentativa do tucano de desconstruir Marina Silva como uma candidata viável ocorre um dia após pesquisas internas não registradas do PSDB detectarem que a petista Dilma Rousseff tem 36% dos votos, Marina 24% e Aécio, apenas 21%.
“A Marina tem penetração no Brasil inteiro, mas na hora da discussão, do debate, na hora de casar o discurso dela com a possibilidade de governar, o Brasil percebe que isso não é possível”, disse ao site de VEJA o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB). “Ela não tem estrutura, o discurso dela é lunático e nisso Aécio leva uma grande vantagem. Ao se compatibilizar o discurso de Marina com a prática política, cai toda a mítica que ela procura construir”, disse. "É a hora de dizer chega de PT. Não creio e não posso crer na proposta encarnada na Marina. Não por demérito dela, mas por ela não ter preparo e não ter apoio”, completou o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
Para tentar colocar o candidato do PSDB no segundo turno, os tucanos também não descartam utilizar, ainda que com cautela, o suposto uso irregular de um jatinho da campanha pelo PSB, como fator que poderia macular a imagem de “ética” de Marina. De acordo com a resolução 23.406, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a aeronave que caiu no último dia 13, matando o então candidato Eduardo Campos e outras seis pessoas, não poderia ser utilizada na campanha por estar em nome da AF Andrade, de usineiros de Ribeirão Preto (SP). A legislação só permitiria que o jato fosse usado na campanha como doação se a AF Andrade atuasse no ramo de táxis aéreos. Além de Eduardo Campos, Marina também utilizou o avião em atividades de campanha.
Publicamente, Aécio diz que, se as irregularidades no uso do jato forem comprovadas, Marina deverá dar explicações. “Tem que ter cautela, mas todo homem público tem que estar preparado para responder a qualquer questão. Em um primeiro momento [o uso do jato] é uma questão do PSB”, afirmou após lançar o programa Nordeste Forte na cidade de Salvador.


Entre os aliados do candidato, o foco será desqualificar a candidata do PSB e tentar levar apoiadores de Eduardo Campos para a campanha do PSDB, já que Marina Silva tem uma postura considerada intransigente em relação a empresários e ao agronegócio. As negociações estão sendo feitas no Rio Grande do Sul, Alagoas e Mato Grosso do Sul. Também haverá investidas em locais em que Aécio e Eduardo Campos dividiam o palanque do governador. Em pelo menos um desses casos, o Piauí, o governador Zé Filho (PMDB) já apareceu ao lado de Aécio neste sábado e encampou um forte discurso contra o PT. “Querem instituir no nosso país a PTlândia. Querem falar que está tudo bem, como se fosse a Disneylândia, mas ninguém aceita essa turma do PT”, disse o peemedebista.

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