Ministro da Justiça
disse que estão sendo monitorados vários indivíduos com possíveis ligações com
o Estado Islâmico
Há pouco mais de um mês, VEJA revelou a existência de um
relatório de inteligência do serviço secreto brasileiro que indicava a
existência de células
do Estado Islâmico no Brasil.
Um dos alvos
prioritários no monitoramento de terroristas no Brasil era um militante do
Estado Islâmico que se identifica nas redes de propaganda do grupo como Ismail
Abdul Jabbar Al-Brazili, ou simplesmente, “O Brasileiro”.
Nesta quinta-feira,
faltando 15 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a
Polícia Federal deflagrou a Operação Hashtag, que prendeu um grupo de dez
brasileiros que planejava um atentado durante as competições.
Outras duas
pessoas que participavam do grupo ainda não foram detidas.
O líder deles, dizem
os investigadores, estava no Paraná.
“Houve uma série de atos
preparatórios [de terrorismo] e o próprio grupo deixou de entender que o Brasil
seria um país neutro e sem relação com o Estado Islâmico.
Em virtude das Olimpíadas,
o Brasil poderia se tornar alvo”, disse o ministro da Justiça Alexandre de
Moraes.
As autoridades brasileiras monitoravam um grupo de cerca de 100 pessoas
simpatizantes de atos terroristas.
Os dez presos nesta quinta-feira estavam
entre eles.
Foram expedidos 12 mandados
de prisão temporária por 30 dias podendo ser prorrogados por mais 30.
“Eles
passaram de simples comentários sobre o Estado Islâmico para atos preparatórios
[de terrorismo]”, declarou o ministro da Justiça.
As autoridades identificaram
que o grupo fez uma espécie de “batismo”, de “juramento” ao Estado Islâmico,
reproduzindo uma mensagem-padrão do grupo extremista.
A Divisão Antiterrorismo da
Polícia Federal monitorou mensagens trocadas pelos brasileiros em redes
sociais, especialmente via Telegram e Whatsapp, e detectou que havia o risco
real de se repetirem no Rio atos extremistas como o que vitimou 50 pessoas na boate
Pulse, em Orlando, há pouco mais de um mês.
As ordens do grupo virtual
“Defensores da Sharia” eram para adquirir armamento, treinar tiro ao alvo e
iniciar ou ampliar treinamento em artes marciais.
Um dos investigados entrou em
contato, por e-mail, com um fornecedor de armas clandestinas no Paraguai,
solicitando a compra de um fuzil AK-47.
As mensagens trocadas entre o admirador
do Estado Islâmico e o fornecedor de armas estão em poder dos investigadores.
Apesar de as conversas entre
o grupo indicarem que o ataque terrorista deveria ser feito a tiros, a Polícia
Federal não encontrou articulação mais sólida entre eles para financiarem seus
atos.
“Houve pedido do líder [da célula terrorista] para que começassem a
pensar uma forma de financiamento, mas não houve [o financiamento em si]”,
relatou o ministro.
Nas mensagens captadas até o momento, não havia referência
a atentados a bomba.
Nas conversas monitoradas
com autorização judicial, os suspeitos, que em parte utilizavam nomes fictícios
para se identificarem, também discutiam táticas de guerrilha e propagavam
intolerância racial, de gênero e religiosa.
Pelo menos um menor de idade
participava das conversas, enquanto dois dos brasileiros investigados já haviam
sido condenados por homicídio.
Foram interceptadas mensagens de comemoração
pelas execuções feitas pelo grupo extremista no Oriente Médio e pelos recentes
massacres em Orlando e em Nice.
“Aparentemente era uma
célula absolutamente amadora e sem nenhum preparo.
A referência a [praticar]
artes marciais é mensagem recentíssima.
E também qualquer célula organizada não
ia procurar uma arma pela internet”, afirmou o ministro da Justiça.
“É uma
célula desorganizada. Mas diante do fato de começarem atos preparatórios, não
seria de bom senso aguardar para ver”, completou.
As prisões e buscas contra a
célula do Estado Islâmico no Brasil foram realizadas no Amazonas, Ceará,
Paraíba, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso e
Rio Grande do Sul.
Uma ONG com atuação na área humanitária também é investigada
por evidências de que fez palestras que incitavam o público a favor do Estado
Islâmico.
O presidente da instituição foi levado coercitivamente para prestar
esclarecimentos.
O recrutamento do grupo
preso nesta quinta-feira foi feito via internet, prática habitual do Estado
Islâmico.
Não houve contato direto do grupo de brasileiros com terroristas do
grupo, embora um dos integrantes da célula no Brasil tenha informado nas
mensagens trocadas que estaria disposto a viajar ao exterior para se encontrar
com líderes extremistas.
Em junho, VEJA já havia
revelado a existência de um relatório reservado em que a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) estipulava em 4, numa escala de 1 a 5, o nível de ameaça
terrorista ao Brasil durante os Jogos Olímpicos do Rio.
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