Prisioneiros na China assistem a programações que visam
sua doutrinação ao sistema comunista. (Foto: BBC)
O relato de um preso cristão mostrou as situações e práticas criadas pelo sistema comunista dentro da prisão para doutrinar os detentos cristãos.
Um homem da China recentemente ofereceu um relato pessoal de como ele e outros crentes estão recebendo ordens de renunciar à sua fé ou, caso se recusem a acatar tal ordem, acabam sendo presos.
O homem sob o pseudônimo de Li Geng* disse ao à agência de apoio
a cristãos perseguidos ‘Bitter Winter’ que ele foi preso há cinco anos e ficou
atrás das grades por três anos e seis meses sob acusação de "usar uma
‘seita’ para minar a aplicação da lei".
Li é cristão, o que o inclui atualmente no grupo religioso mais
perseguido da China.
Durante seu encarceramento, Li foi mantido sob supervisão 24
horas por dia, 7 dias por semana, por uma equipe de prisioneiros liderados por
prisioneiros designados pela guarda.
A Bitter Winter explicou que o prisioneiro
"supervisionado" tinha que obedecer ao líder da equipe. Isso também
inclui pedir permissão para tudo o que fizesse, incluindo comer, beber água,
usar o banheiro, trocar de roupa ou até dormir. No entanto, se o líder negasse
o pedido, o preso devia obedecer.
Para fazer com que os cristãos renunciem à sua fé, eles são
submetidos à doutrinação obrigatória.
Alegadamente, Li era obrigado a memorizar os regulamentos
prisionais e "Os Padrões para Ser um Bom Aluno e Criança", um manual
centrado nos ensinamentos do filósofo chinês Confúcio. Além disso, ele foi
forçado a assistir a vídeos que difamavam a igreja da qual é membro.
"Toda noite, me pediam para escrever o que aprendi com
esses livros ou vídeos enquanto a TV ficava ligada em um volume muito alto na
mesma sala", disse Li. “Com o passar do tempo, comecei a ouvir sons de
zumbido nos meus ouvidos. Depois que fui libertado, soube que minha audição
havia sido severamente afetada e não consegui mais ouvir pessoas falando em voz
um pouco mais baixa”.
Os guardas costumavam espancar Li se não estivessem satisfeitos
com seus relatórios escritos ou por qualquer outro motivo.
“Instruídos pelos guardas, os prisioneiros que me
supervisionaram uma vez me puxaram para um canto da minha cela e rasgaram o
papel que escrevi sobre os vídeos. Eles deram tapas no meu rosto mais de uma
dúzia de vezes”, disse Li ao Bitter Winter.
Em um caso em particular, um preso bateu no rosto de Li mais de
100 vezes no quarto dia de "aulas". Além disso, Li relatou ser
acordado pelos tapas de outros prisioneiros quase todas as manhãs.
Punições severas
Li disse à Bitter Winter que sua recusa em ser
"transformado" e a renunciar à sua fé implicava punições mais duras.
"Por cerca de um mês, o 'líder da equipe' não me permitiu
usar o banheiro durante o dia: eu só podia usá-lo à noite depois que todos os
outros presos estivessem dormindo", lembrou Li. “Não me foi permitido
defecar por 16 dias consecutivos. O líder me disse que eu não podia usar o
banheiro porque sou menos que um animal”.
Li também observou que ele comeu e bebeu muito pouco durante os
16 dias de tortura, o que afetou sua saúde a longo prazo.
A ‘Bitter Winter’ relatou que Li comeu à força mais de 100
baratas em dois meses, incluindo comer algumas delas ainda vivas.
"Algumas das baratas eram maiores que grilos", lembrou
Li. "Meu ‘supervisor’ pegou uma barata e colocou na minha boca enquanto
ainda estava viva. Ele não me permitiu cuspir, ameaçando me espancar se eu o
fizesse”.
“Ele então continuou colocando baratas na minha boca, mas não me
deixou engoli-las. Ele queria que rastejassem pela minha boca primeiro, e só
então me disseram para mastigar as baratas completamente”, Li acrescentou. “O
sabor pungente me deixou enjoado. Eu estava em um estado insuportável”.
Nível de perseguição
A perseguição religiosa na China soou um alarme, após a Comissão
dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional divulgar seu 20º relatório
anual, em 2019.
Segundo a Comissão, a intolerância religiosa tem se
intensificado de tal forma que diciculta a classificação do país nos parâmetros já existentes.
*Nome fictício, usado por razões de segurança
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