Promotor disse ao Pânico que São Paulo avançou nos serviços de inteligência para combater organização: ‘Só pode ser eficiente se você asfixiar financeiramente’
Nesta ultima quinta-feira, 1, o programa Pânico recebeu o promotor Lincoln Gakiya, que falou sobre o atual estágio de expansão do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa paulista.
“Já é uma máfia, infelizmente.
Há um interesse muito grande dos países, principalmente da Europa, por esse fenômeno, pelo crescimento do PCC.
O Brasil e o PCC estão inundando a Europa de cocaína que é produzida na Colômbia e na Bolívia.
Não tenho dúvida nenhuma que a maior organização criminosa da América Latina hoje é o PCC.
Não tenho dúvida nenhuma que é a maior organização da América Latina, o PCC, eu costumo comparar com aquela época da Colômbia do Pablo Escobar.
Hoje usa banco digital, criptomoeda, doleiros e dinheiro em paraísos fiscais, teria que ficar semanas conversando”, relatou.
“O Brasil precisa acordar para esse problema, o PCC começou pequeno, em 1993, dentro de cadeias. Hoje é um fenômeno.
Gostaria que o Brasil se despertasse para esse problema. Aqui é mais ou menos cada um por si, os Estados fazendo trabalhos isolados.
Acredito que a gente não tem uma política de segurança pública de Estado, que eu, por exemplo, aprendi na faculdade.
O Estado é maior que a instituição e as pessoas, o que tem é de governo, acabou o governo e todo mundo leva essa política embora, ainda que a anterior fosse boa.
O que falta é
seriedade política, resolver os problemas”, acrescentou.
Desde a crise de violência de maio de 2006, causada pela facção criminosa em São Paulo, Gakiya avalia que os trabalhos de investigação e inteligência das autoridades públicas paulistas avançaram em relação ao PCC e seus recursos.
“Vimos no Rio Grande do Norte, praticamente pararam o Estado com ataques, e a polícia não sabia de onde vinha.
Isso aconteceu aqui em 2006, imagina o que a população sentia diante daquilo.
Sobra para a população.
Naquela época o Marcola dizia que tinham 100 mil soldados armados, não
sabia se tinham 10 mil, hoje sabemos graças ao trabalho de inteligência
desenvolvido em São Paulo, que é o melhor do país”, afirmou.
No entanto, o promotor argumenta que, desde sua criação, a organização está em estágio avançado e preocupante de tráfico para países do continente europeu.
“Eu divido o PCC em três fases, a criação nos anos 90 até os anos 2000, quando o Marcola assume.
Ele colocou muitos serviços sociais, entre aspas, ônibus de graça…
Ele fornecia drogas para os presos para vender nas comunidades. (…)
Isso gerou uma hegemonia no tráfico do Estado, não temos brigas por ponto de tráfico aqui mais, nem morte, pois está tudo dominado pelo PCC.
A terceira fase se tornou algo incontrolável, quando o PCC entrou no ramo internacional do tráfico de cocaína para a Europa.
Onde o Estado falta, inclusive nas comunidades carentes, eles começaram a investir.
Não porque gostam das comunidades carentes.”
Para o combate ao tráfico organizado, Lincoln acredita que é necessário combater as fontes financeiras do sistema.
“Só pode ser eficientemente combativo se você asfixiar financeiramente, mas não é algo fácil, o dinheiro não circula pelo mercado financeiro formal.
Estou falando de uma lavagem de dinheiro muito estruturada.
É muito dinheiro, na verdade circula por operadores financeiros, passa por várias contas, vem parar na 25 de março, no Paraguai, às vezes isso vira commodity.
É uma engenharia financeira muito estruturada, está além”, explicou.
Na sua carreira, Lincoln se dedica a investigar o PCC há décadas e foi o responsável para a transferência de lideranças da facção para presídios de segurança máxima.
“Não foi por razão altruística, foi para salvar minha própria pele.
Eu acho que eu realmente respondo pelas minhas escolhas, em 2008 eu já era jurado de morte e fui promovido para uma promotoria cível.
Todo mundo comemorou porque eu ia sair dessa área, mas troquei, voltei para a área criminal.
Cada um é responsável pelas próprias escolhas.
Acho que cumpri meu dever de promotor público e
cidadão, acredito nesse país, acho que vai dar certo”, concluiu.
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