Uma campanha cuidadosa garantiu
que Israel fosse pego desprevenido quando o grupo islâmico palestino Hamas
lançou seu ataque devastador, permitindo que uma força usando escavadeiras,
asa-delta e motocicletas enfrentasse o Exército mais poderoso do Oriente Médio.
O ataque de
sábado (7), a pior brecha nas defesas de Israel desde que os
Exércitos árabes entraram em guerra em 1973, ocorreu depois de dois anos de
silêncio do Hamas, que envolveu manter seus planos militares em segredo e
convencer Israel de que não queria lutar.
Enquanto Israel foi levado a
acreditar que estava contendo um Hamas cansado da guerra, fornecendo incentivos
econômicos aos trabalhadores de Gaza, os combatentes do grupo estavam sendo
treinados e preparados, muitas vezes à vista de todos, disse uma fonte próxima
ao Hamas.
Essa fonte forneceu muitos dos detalhes para o relato do ataque e de sua preparação que foram reunidos pela Reuters.
Três fontes do establishment de segurança de Israel, que, como outras,
pediram para não serem identificadas, também contribuíram para esse relato.
“O Hamas deu a Israel a
impressão de que não estava pronto para uma luta”, disse a fonte próxima ao
Hamas, descrevendo os planos para o ataque mais surpreendente desde a Guerra do
Yom Kippur, há 50 anos, quando o Egito e a Síria surpreenderam Israel e o
fizeram lutar por sua sobrevivência.
“O Hamas usou uma tática de
inteligência sem precedentes para enganar Israel nos últimos meses, dando a
impressão pública de que não estava disposto a entrar em uma luta ou confronto
com Israel enquanto se preparava para essa grande operação”, declarou a fonte.
Israel admite que foi pego de surpresa por um ataque programado para coincidir com o Sabbath judaico e um feriado religioso.
Os combatentes do Hamas invadiram as cidades israelenses, matando 700 israelenses e sequestrando dezenas.
Desde então, Israel matou mais
de 400 palestinos em sua retaliação em Gaza.
“Este é o nosso 11 de
setembro”, disse o major
Nir Dinar, porta-voz das Forças de Defesa de Israel. “Eles nos
pegaram.”
“Eles nos surpreenderam e vieram
rapidamente de vários pontos — tanto do ar quanto do solo e do mar.”
Osama Hamdan, representante do
Hamas no Líbano, afirmou à Reuters que o ataque mostrou que os palestinos
tinham a vontade de atingir seus objetivos “independentemente do poder e da
capacidade militar de Israel”.
Em um dos elementos mais
impressionantes de seus preparativos, o Hamas construiu um assentamento
israelense simulado em Gaza, onde praticou um pouso militar e treinou para
invadir o local, disse a fonte próxima ao Hamas, acrescentando que eles até
fizeram vídeos das manobras.
“Israel certamente os viu, mas
ficou convencido de que o Hamas não estava interessado em entrar em um
confronto”, contou a fonte.
Enquanto isso, o Hamas procurou
convencer Israel de que estava mais preocupado em garantir que os trabalhadores
de Gaza, uma estreita faixa de terra com mais de dois milhões de habitantes,
tivessem acesso a empregos do outro lado da fronteira e que não tinha interesse
em iniciar uma nova guerra.
“O Hamas conseguiu construir uma
imagem completa de que não estava pronto para uma aventura militar contra
Israel”, disse a fonte.
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Desde a guerra de 2021 com o
Hamas, Israel tem buscado proporcionar um nível básico de estabilidade
econômica em Gaza, oferecendo incentivos, incluindo milhares de permissões para
que os habitantes de Gaza possam trabalhar em Israel ou na Cisjordânia, onde os
salários em trabalhos de construção, agricultura ou serviços podem ser 10 vezes
maiores do que o nível de remuneração em Gaza.
“Acreditávamos que o fato de eles virem para trabalhar e levar dinheiro para Gaza criaria um certo nível de calma.
Estávamos errados”, disse outro porta-voz do Exército israelense.
Uma fonte de segurança israelense reconheceu que os serviços de segurança de Israel foram enganados pelo Hamas.
“Eles nos fizeram pensar que queriam dinheiro”, afirmou a fonte.
“E
o tempo todo eles estavam envolvidos em exercícios/treinos, até que realizaram
o motim.”
Como parte de sua postura nos
últimos dois anos, o Hamas se absteve de realizar operações militares contra
Israel, mesmo quando outro grupo armado islâmico baseado em Gaza, conhecido
como Jihad Islâmica, lançou uma série de seus próprios ataques.
Sem vazamentos
A contenção demonstrada pelo
Hamas atraiu críticas públicas de alguns apoiadores, novamente com o objetivo
de criar uma impressão de que o Hamas tinha em mente preocupações econômicas e
não uma nova guerra, disse a fonte.
Na Cisjordânia, controlada pelo presidente palestino Mahmoud Abbas e seu grupo Fatah, houve quem zombasse do Hamas por ter ficado quieto.
Em uma declaração do Fatah publicada em junho de
2022, o grupo acusou os líderes do Hamas de fugirem para as capitais árabes
para viver em “hotéis e vilas luxuosos”, deixando seu povo na pobreza em Gaza.
Uma segunda fonte de segurança israelense disse que houve um período em que Israel acreditava que o líder do movimento em Gaza, Yahya Al-Sinwar, estava preocupado em administrar Gaza “em vez de matar judeus”.
Ao mesmo tempo, Israel desviou seu foco do Hamas ao
pressionar por um acordo para normalizar as relações com a Arábia Saudita,
acrescentou.
Há muito tempo, Israel se orgulha de sua capacidade de se infiltrar e monitorar grupos islâmicos.
Como
consequência, disse a fonte próxima ao Hamas, uma parte crucial do plano era evitar
vazamentos.
Muitos líderes do Hamas não
estavam cientes dos planos e, durante o treinamento, os 1.000 combatentes
destacados para o ataque não tinham a menor ideia do objetivo exato dos
exercícios, acrescentou a fonte.
Quando chegou o dia, a operação
foi dividida em quatro partes, disse a fonte do Hamas, descrevendo os vários
elementos.
Veja como militantes do Hamas
entraram em Israel
A primeira ação foi uma chuva de 3.000 foguetes disparados de Gaza que coincidiu com incursões de combatentes que voavam em asa-delta, ou parapentes motorizados, sobre a fronteira, afirmou a fonte.
Israel disse anteriormente que 2.500 foguetes foram
disparados no início.
Uma vez que os combatentes em
asa-delta estavam no solo, eles protegeram o terreno para que uma unidade de
comando de elite pudesse invadir o muro eletrônico e de cimento fortificado
construído por Israel para impedir a infiltração.
Os combatentes usaram explosivos para romper as barreiras e, em seguida, atravessaram o muro em motocicletas.
As
escavadeiras alargaram as brechas e mais combatentes entraram em veículos com
tração nas quatro rodas, em cenas descritas por testemunhas.
Uma unidade de comando atacou o
quartel-general do Exército israelense no sul de Gaza e bloqueou suas
comunicações, impedindo que os oficiais ligassem para os comandantes ou entre
si, disse a fonte.
A parte final envolveu a
transferência de reféns para Gaza, o que foi conseguido principalmente no
início do ataque, disse a fonte próxima ao Hamas.
A fonte de segurança israelense
disse que as tropas israelenses estavam com a força reduzida no sul, perto de
Gaza, porque algumas haviam sido redistribuídas para a Cisjordânia para
proteger os colonos israelenses após uma onda de violência entre eles e os
militantes palestinos.
“Eles (o Hamas) exploraram
isso”, afirmou a fonte.
Fonte: Terra Brasil Notícias
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