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☼ Produtor de SP inova ao investir em lichia-passa ☼

Produtor de lichia aposta na internet e em derivados da fruta

Agricultor paulista promove a lichia através da web e vende passas, nozes, sobremesas e bebidas
por Juliana Bacci | Fotos Ernesto de Souza
Ernesto de Souza
Após 12 horas de aquecimento, a lichia se transforma em passa

No final da década de 1990, quando a filha Rebecca comentou que o apartamento da família, na cidade de São Paulo, mais parecia uma floresta, o casal Estevam e Cíntia Costa Marques percebeu que suas mudas de lichias e outras árvores precisavam de um local mais apropriado para o plantio.

Assim, eles uniram a paixão pela natureza à vontade de administrar um minifúndio capaz de gerar renda satisfatória e compraram uma área rural no município de Taubaté, no interior paulista.

Ali, as mudas cresceram o suficiente para o negócio familiar se transformar no portal Lichias.com. A página virtual, que hoje recebe cerca de 6 mil acessos por mês, provenientes de mais de 60 países, é referência na lichicultura internacional.

"Além de 60% dos produtores brasileiros da fruta, o que corresponde a 120 mil árvores de lichia, cultivadores do México e de Moçambique também aparecem na lista de cadastrados gratuitamente no portal", comemora Marques.

O sucesso do Lichias.com conta também com a adesão do marqueteiro Leandro Vieira de Paula e do professor da área de fruticultura da Universidade de Brasília (UNB), Osvaldo Kiyoshi Yamanishi, desde meados de 2010. O primeiro é responsável pela publicidade e comercialização dos produtos da marca,

enquanto o segundo pesquisa o desenvolvimento de novos produtos que contenham lichia em sua receita. "Corre sério risco a fruticultura que sobrevive apenas da fruta in natura", diz o professor especialista, que há quase duas décadas trabalha com lichicultura.
Ernesto de Souza
De origem chinesa, a lichia é fruta de clima subtropical e rica em vitamina C e sais minerais

O curto "shelf life" (período de consumo) da lichia, que tão logo perde sua cor avermelhada, tornando-se menos atraente aos olhos dos consumidores, apesar de não estar estragada, impulsionou a busca do grupo por alimentos que pudessem prolongar o comércio da fruta.

Com produtos como suco de caixinha, sorvete, pinga, chá, compotas em calda, licor e mel, tudo de lichia, o trio quer oferecer ao mercado alternativas para popularizar a fruta, que a maioria dos brasileiros classifica como demasiadamente cara e só sente o gosto na época das festas de fim de ano.

Outra novidade do Lichias.com sai, literalmente, do forno neste mês. Na forma de lichia-passa, os gomos da fruta serão ensacados em porções de 100 gramas.

A inspiração para processar a fruta veio da China, onde pés com mais de mil anos ainda produzem. Após retirar a casca e o caroço, a polpa da lichia, disposta em uma chapa de aço inoxidável, é levada ao forno a gás ou elétrico. Após 12 horas de aquecimento entre 60 ºC e 70 ºC, a fruta desidratada ganha forma de passa com aroma exótico e alto teor de açúcar.

Com o mesmo procedimento, o grupo aposta também na venda de frascos pet de 100 a 500 gramas da noz de lichia. Com casca e caroço, a fruta é levada ao forno. Após 24 horas de aquecimento, em média, o fruto adquire cor amarronzada e, depois de descascado como amendoim, pode ser consumido.

O caroço deve ser retirado no ato da degustação. Sugere-se comer a noz, rica em vitamina C e minerais, com pedaços de queijo gorgonzola, meia cura ou fresco, para aliviar a doçura do fruto.

Em São Gotardo, município de Minas Gerais, o grupo, em parceria com um produtor local, finaliza a instalação de um forno capaz de processar até mil quilos de lichia por ciclo. "Cerca de 20 a 30% de nossa produção in natura será processada", conta Leandro.

O método evita a perda da produção considerada inferior, devido ao tamanho ou à cor da fruta. Passas e nozes serão vendidas ao consumidor e às indústrias para produção de barrinhas de cereais e panetone.
Ernesto de Souza
Em Taubaté, SP, o casal Estevam e Cíntia Marques mantém um pomar com 600 pés de lichia

Em Taubaté, Estevam e Cíntia ainda conservam 600 pés de lichia da qualidade bengal, cuja produção abastece a região do Vale do Paraíba e o Rio de Janeiro.

O estado de São Paulo abriga 44,93% das árvores plantadas – o maior produtor nacional –, enquanto Minas Gerais, com a segunda maior produção do país, possui 43,07% das árvores plantadas e está em forte expansão.

Estatísticas indicam que os pomares mineiros já implantados ainda se encontram em fase de crescimento, ou seja, em dez anos, o estado poderá liderar o posto de maior produtor nacional.

Segundo dados do próprio portal Lichias.com, a atual produção brasileira da fruta deve situar-se na faixa de 5 mil toneladas. Em função do pomar que a marca prepara no Mato Grosso do Sul, "será o maior do Brasil", conta Marques, esse número deverá aumentar.

A construção no interior paulista, que o casal projetou inicialmente em um caixa de camisas, além do pomar de seis hectares, hoje dá espaço ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Lichias (CPDL), onde o professor Osvaldo desenvolve experimentos e projetos na área de melhoramento genético da fruta.

"Trabalhamos para propor medidas que estimulem um mercado mais saudável, com melhoria de remuneração e reconhecimento ao produtor e, simultaneamente, redução de preços ao consumidor, com aumento da qualidade do produto ofertado", ele explica. A fim de defender toda a cadeia produtiva da fruta, o trio fundou, em 2010, a União dos Lichicultores do Brasil (Unilibra).
Ernesto de Souza
O florescimento da planta ocorre entre julho e setembro, e a colheita vai de dezembro a janeiro

Embora com fins lucrativos, o propósito do Lichias.com é desenvolver novas técnicas, máquinas e equipamentos para o auxílio no plantio, manejo, colheita, pós-colheita, conservação e processamento da lichia, realizando estudos para a padronização comercial da fruta no Brasil, além de definir suas características comerciais quanto à qualidade, tamanho, cores e sabor, por meio de congressos, conferências, exposições, feiras, seminários, workshops, palestras, cursos e treinamentos de capacitação, dos quais todo produtor parceiro do Lichias.com pode participar.

Preocupação ambiental também é bandeira defendida pelo grupo. Em troca de cada hectare de lichia plantada, o produtor deve reflorestar outro hectare com mudas nativas da Mata Atlântica.

Cada muda de lichia, que custa até 20 reais, é oferecida gratuitamente pela marca ao produtor interessado em ingressar nesse projeto.

"Em troca do reflorestamento, oferecemos consultoria para acompanhar o processo de plantio, manejo, colheita e escoamento da produção", acrescenta Leandro.

Com a iniciativa, o profissional de marketing estima que, até 2012, a região do Vale do Paraíba ganhará 50 hectares de Mata Atlântica.

Entre os vários projetos do Lichias.com, é previsto ainda o mapeamento de cada árvore de lichia plantada, por meio de chips eletrônicos, com leitura em palm tops.
Ernesto de Souza
O professor Osvaldo Yamanishi desenvolve projetos na área de melhoramento genético da fruta

A iniciativa contribui para a abertura de mercados internacionais para a lichia brasileira. "Cerca de 8% da produção de lichia da qualidade bengal premium do Lichias.com deverá ser enviada à Europa e ao Canadá neste ano", informa Marques.

Para cuidar dos negócios além do território nacional, o grupo conta com a parceria de uma correspondente em Londres. A carioca Angie Swinerd é a colaboradora para a difusão, no exterior, dos valores institucionais da marca.

A lichieira é uma planta de clima subtropical, adaptando-se melhor em regiões onde o clima é frio e seco antes do florescimento e, no resto do ano, quente e úmido. A faixa de temperatura ideal, para essa cultura, situa-se entre 18 ºC e 35 ºC.

Embora a safra da lichia varie um pouco de ano para ano, o florescimento geralmente ocorre entre julho e setembro, e a colheita entre dezembro e janeiro. "Daí a associação da fruta com a época de Natal", destacam os sócios.
Ernesto de Souza
Com casca e caroço, a lichia é transformada em noz doce após aquecimento especial
Assim, o Lichias.com estuda a possibilidade de importação da lichia in natura e processada do país que a trouxe para o Brasil, ainda durante o império de D. Pedro II.

 Com cerca de 600 mil hectares de lichieira, a China apresenta a maior e mais barata produção da fruta no mundo, seguida pela Índia, Vietnã, Tailândia, Madagascar, México, África do Sul, Brasil, Austrália e Estados Unidos, respectivamente.

A importação seria uma forma de garantir que a fruta de casca rosada e polpa doce apareça na mesa do brasileiro e garanta renda ao produtor mesmo quando Papai Noel estiver descansando

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