Operador do mensalão falaria sobre as suspeitas de que o Banco do Brasil desviou recursos e engordou o caixa do Partido dos Trabalhadores
Laryssa Borges, de Brasília
Valério foi condenado há mais de 40 anos pelo esquema do mensalão (Paulo Filgueiras/D.A.Press)
Com a atuação orquestrada de senadores do PT, a Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado derrubou nesta terça-feira um pedido para que o empresário Marcos Valério, operador do mensalão, prestasse esclarecimentos sobre as suspeitas de que o Banco do Brasil teria desviado recursos e engordado o caixa do Partido dos Trabalhadores.
Em depoimento ao Ministério Público em setembro do ano passado, Valério informou que dirigentes do banco público definiram, a partir de 2003, que as agências de publicidade que prestavam serviços à instituição deveriam pagar propina. Conforme Valério, 2% do valor de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT. No mesmo depoimento, o operador do mensalão já havia informado que parte dos recursos do esquema criminoso foram utilizados para pagar “despesas pessoais” do então presidente Lula.
Em uníssono, durante a reunião da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle, os senadores petistas tentaram desqualificar as informações prestadas por Marcos Valério à procuradoria-geral da República e afirmaram que o caso estaria esgotado porque o Supremo Tribunal Federal (STF) já julgou os réus do mensalão. Os parlamentares do PT omitiram, no entanto, que as novas revelações de Valério foram trazidas à tona em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em dezembro, quando o STF já havia condenado os mensaleiros e apenas deliberava sobre a dosimetria das penas.
Apesar das declarações de Valério dadas ao Ministério Público se restringirem ao governo Lula, o senador Jorge Viana (PT-AC), por exemplo, disse que o operador do mensalão deveria explicar as origens do esquema conhecido como valerioduto mineiro, que envolve suspeitas de desvio de recursos de estatais de Minas Gerais para a campanha à reeleição do então governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). “Para muitos brasileiros seria interessante que Marcos Valério contasse como esse processo [do mensalão] se institucionalizou na vida partidária do país, muito antes do governo do PT”, opinou o senador.
Para o senador Anibal Diniz (PT-AC), que também rejeitou o requerimento para ouvir Marcos Valério, o parlamento não deveria dar voz a um condenado pelo STF. “Não vejo sentido algum trazer para o Senado Federal um personagem que já foi julgado, condenado, e que já teve toda oportunidade do mundo para dizer tudo o que tinha para dizer”, afirmou. Diniz não fez referência, porém, a seu correligionário José Genoino (PT-SP), que condenado no mesmo processo do mensalão, foi abrigado pelo partido e empossado deputado federal.
“Há condenados no mesmo processo que estão na Câmara dos Deputados, seus correligionários do PT”, provocou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que subscreveu o requerimento para ouvir o operador do mensalão no Senado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário