Cada vez mais se fala de maneiras para evitar o estupro. Na minha cabeça, acabar com a cultura do estupro seria o primeiro passo. Deixar claro que mulheres não servem para realizar fantasias ou sanar desejos seria um bom começo, mas esses não são caminhos fáceis.
Para evitar que mulheres sejam assediadas em trens criaram os vagões exclusivos, assim como, na Idade Média foram criados os cintos de castidade para que mulheres não fizessem sexo, com ou sem consentimento. E parece que essa ideia não ficou apenas no passado.
Leia também:
Nas últimas semanas, um produto chamado AR Wear criou diversas polêmicas ao arrecadar fundos para sua produção. É uma calcinha feita de um tecido impossível de rasgar ou cortar, com um cadeado. No vídeo de apresentação eles dizem que, com essa peça, você vai pode beber tranquilamente em festas e viajar a países desconhecidos com mais segurança.
A ideia pode parecer ótima à primeira vista, mas vamos analisar com um pouquinho mais de cuidado. O que os idealizadores não lembraram é que o estupro é um crime de poder e não apenas um crime sexual. O estuprador quer, além de sexo, subjugar a vítima e mostrar que é ele quem decide os rumos do que está acontecendo ali.
Assim como a camisinha com “dentes”, criada na África pela médica sul-africana Dra. Sonnet Ehlers, parecia uma ideia genial e não mostrou eficácia, a calcinha cinto de castidade apenas deixaria mais difícil para o estuprador ignorar o não. E o faria obrigar a mulher a colocar a senha em seu cadeado de alguma maneira aterrorizante.
Homens sabem quando o sexo não é consentido. Maridos sabem quando suas mulheres estão dando uma negativa. Namorados sabem que suas companheiras, bêbadas, não têm condições de dizer sim, por isso aquilo é um não. E desconhecidos sabem que o que estão fazendo é errado.
Essa é a questão principal do estupro: a pessoa que o comete sabe que está fazendo algo fora das regras. Não há dúvida quanto a isso. E não importa se a mulher luta, tenta fugir ou grita.
O estuprador apenas quer mostrar que ela não tem esse poder de decisão.
Esse projeto, assim como tantos outros, pode ter sido criado com uma ótima intenção, mas esbarra na atitude simplista de colocar na vítima a responsabilidade por evitar o crime. Como já disse em outros textos, o único culpado pelo estupro é o estuprador.
Assista o vídeo do tal produto anti-estupro:
Você tem alguma dúvida sobre sexo? Manda para mim nopreliminarescomcarol@yahoo.com.br e siga-me no Twitter (@carolpatrocinio).
Nenhum comentário:
Postar um comentário